Cerca de 40% dos jovens do 9º ano consomem doces em mais de 5 dias por semana
Problema de saúde pública cada vez mais preocupante entre os adolescentes, a má alimentação foi registrada também nos hábitos dos estudantes brasileiros. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - Pense 2015 -, divulgada hoje (26), dos cerca de 2,6 milhões de estudantes que cursavam o 9º ano do ensino fundamental em 2015, 41,6% consumiam guloseimas cinco dias ou mais em uma semana normal.
Mais da metade desses estudantes (61,5%) informou comer raramente ou nunca a comida ofertada pela escola gratuitamente, com alimentos saudáveis. Em 54% de escolas públicas, há cantinas ou ponto alternativo de venda, onde são vendidos alimentos considerados pouco nutritivos e inadequados. Na rede privada, esse percentual atinge 92%.
O estudo aponta que o principal motivo para esse excesso de doces na dieta dos adolescentes é a ausência de uma normativa nacional que regule a venda desse tipo de alimento no ambiente escolar.
Para a pediatra Mônica de Araújo Moretzsohn, do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), restringir a alimentação inapropriada nas escolas é fundamental para diminuir a obesidade e doenças associadas à alimentação inadequada.
“O baixo custo, o gosto, porque as crianças tendem a preferir sabores mais doces e a facilidade de acesso, contribuem para o aumento do consumo desses alimentos. E isso tem levado a uma séria de consequências ruins, diabetes, e hipertensão, além do aumento de peso”, disse ela.
Regulamentação da venda de alimentos
“[É preciso] regulamentar a venda de alimentos nas escolas para diminuir a prevalência de crianças obesas, além de orientar a respeito de alimentação mais adequada e conscientização das famílias e dos comerciantes”, afirmou Mônica.
Ela citou uma pesquisa inglesa que constatou que a proibição de refrigerantes nas escolas britânicas reduziu em 40% a prevalência da obesidade no ambiente escolar.
Cerca de 58,5% dos alunos de escolas públicas podem comprar refrigerantes e 63,7% podem adquirir salgadinhos industrializados. Na rede privada, esses percentuais são respectivamente, 62,3%, 70,6% e 60%. E mais: 49,7% desses alunos estudam em escolas públicas onde há venda de balas, confeitos, doces, chocolates, sorvetes e outros,
A pesquisa Pense 2015 aponta, ainda, que entre os estudantes de 16 a 17 anos de idade estão as maiores proporções dos que fazem refeições em fast-food (16,7%) e os menores percentuais daqueles que costumam almoçar ou jantar com pais (61,4%).
Mônica, que trabalha no ambulatório de obesidade do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explicou que a má alimentação influencia no ganho de peso, que, por sua vez, prejudica a saúde mental das crianças. “A maioria das crianças obesas é vítima de bullying não apenas na escola como também em casa. E isso provoca muito sofrimento, causa dor, provoca isolamento e piora a auto-estima. E quanto mais tempo a criança se mantém muito acima do peso, maior a possibilidade de se tornar um adulto obeso.
Bullying e insegurança com a aparência
Quase 195 mil alunos do 9º ano (7,4%) afirmaram ter sofrido bullying por parte de colegas de escola, na maior parte do tempo ou sempre. Entre os alunos que se sentiram humilhados alguma vez nos 30 dias anteriores à pesquisa, os principais motivos foram a aparência do corpo (15,6%) e do rosto (10,9%). Por outro lado, 19,8% disseram já ter praticado bullying. Dentre os meninos, esse percentual foi de 24,2% e, entre as meninas, 15,6%.
Em 2015, 72% dos estudantes do 9º ano estavam satisfeitos ou muito satisfeitos com o próprio corpo (1,9 milhão), mas 18,3% (481,4 mil) consideravam-se gordos ou muitos gordos. Enquanto 11,6% dos meninos se sentiam insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o próprio corpo, o dobro das meninas tinha o mesmo sentimento (23,3%).
Em 2015, 7% dos estudantes do 9º ano (184,2 mil) haviam induzido o vômito ou tomado laxantes nos últimos 30 dias para emagrecer ou evitar ganhar peso. O percentual de estudantes que acumulou 300 minutos ou mais com atividades físicas praticadas por semana (considerados fisicamente ativos) passou de 30,1% em 2012 para 34,4% em 2015.