Cidadão espera que parlamentar o represente no domingo, diz cientista política

Publicado em 16/04/2016 - 19:56 Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília

A influência de possíveis ausências de deputados para o resultado da votação da admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, marcada para amanhã (17) às 14h, divide a opinião de especialistas.

Para a cientista política e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Helcimara Telles, a ausência de um político eleito para representar o cidadão em um momento como esse é um “problema”, sobretudo para aqueles que o elegeram.

“O cidadão está esperando que seu parlamentar o represente adequadamente”, disse a professora, responsável por uma pesquisa que aponta que cerca de 70% dos moradores da região metropolitana de Belo Horizonte (MG) são favoráveis ao impeachment não só da presidenta Dilma, mas também do vice-presidente Michel Temer (PMDB-RJ) e que o descrédito da classe política atinge igualmente o governo e a oposição.

Já o cientista político e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Milton Lahuerta, minimiza os prejuízos políticos junto à opinião pública dos deputados federais que eventualmente faltarem à votação.

“Esses deputados seriam expostos pela imprensa e, uma semana depois, ninguém mais lembraria de nada. Infelizmente, é o que sugerem as pesquisas de opinião pública que revelam que a maioria dos eleitores não lembra em quem votou nas últimas eleições. E muitos dos que se recordam não estão entendendo nada do que está acontecendo atualmente. Daí porque não vejo maiores consequências para os parlamentares que se ausentarem. Eles poderão alegar que não compareceram à votação devido a problemas pessoais”, disse o cientista político à Agência Brasil.

Lahuerta avalia que caso o número de parlamentares ausentes seja significativo a ponto de influenciar no resultado da votação, o governo Dilma Rousseff ficará sujeito a mais críticas que os deputados faltantes.

“Obter uma vitória nesse contexto fragilizaria o resultado. Não chegaria a tirar sua legitimidade, mas evidenciaria que o governo não dispõe do necessário apoio para superar o dramático impasse em que o país se encontra”, acrescentou o cientista político.

A votação da admissibilidade do processo de impeachment neste domingo será aberta e nominal. Para que a Câmara autorize o Senado a julgar as denúncias por crime de responsabilidade que podem levar ao impeachment da presidenta serão necessários pelo menos 342 votos favoráveis – dois terços do total de 513 deputados. As possíveis faltas podem dificultar a oposição a chegar a esse número.

“Os políticos fazem seus cálculos, sabem quem é seu eleitor, o nível de cobrança a que estão sujeitos. E muitos deputados podem concluir que é preferível não se comprometer com uma ruptura institucional, ao mesmo tempo que não querem vir a público frustrar a expectativa dos eleitores que desejam o afastamento da presidenta”, acrescentou a professora da UFMG.

Na última segunda-feira (11), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), declarou que os nomes dos deputados que faltarem à votação serão exibidos publicamente. “Quem fingir qualquer tipo de coisa para não vir certamente vai ter que responder politicamente; cada um vai arcar com o seu ônus”, alertou Cunha, favorável ao impeachment da presidenta. Para o presidente da Câmara, que acolheu, no início de dezembro de 2015, a denúncia por crime de responsabilidade apresentada pelos juristas Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo, nenhum parlamentar “vai querer ficar com a nódoa no seu currículo de ter fugido de uma votação”.

O deputado Mendonça Filho (DEM-PE) chegou a propor, na última terça (12), que os parlamentares que alegarem motivos de saúde para não comparecerem à votação fossem examinados pelo Departamento Médico da Câmara dos Deputados e julgados por quebra de decoro parlamentar caso nenhum impedimento sério ou grave fossem confirmados. “Pretendemos evitar que, sob justificativa de licença de saúde, o deputado fuja à sua obrigação de comparecer a esta Casa para manifestar seu voto”, disse.

Edição: Lílian Beraldo

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