Folha nega que tenha havido erro em divulgação de pesquisa sobre governo Temer
Depois de publicação do site independente de notícias Intercept, questionando reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha divulgada no último fim de semana, o periódico voltou a publicar dados da pesquisa na noite dessa quarta-feira (20). Desta vez, trazendo as respostas sobre a porcentagem de entrevistados favoráveis a novas eleições em caso de perguntas estimuladas.
Na nova reportagem, o jornal mostrou que o resultado foi 62% de brasileiros favoráveis a novas eleições nas respostas estimuladas, ou seja, quando especificamente foi perguntado: “Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda este ano?”.
A Folha, na reportagem publicada em sua versão online, alega que a diferença entre os resultados do recorte da pesquisa publicado anteriormente no fim de semana e os agora apresentados “causou polêmica na internet”, “depois que o site The Intercept publicou texto acusando a Folha de cometer fraude jornalística com pesquisa manipulada visando alavancar Temer”.
The Intercept, no artigo assinado pelos jornalistas Glenn Greenwald e Erik Dau, e publicado na manhã dessa quarta (20), em sua versão em português, afirmou que o Instituto Datafolha admitiu imprecisão na análise dos dados, ao divulgar a pesquisa sobre a preferência do brasileiro em relação à permanência de Michel Temer ou a volta de Dilma Rousseff.
Luciana Schong, do Datafolha, disse ao site de notícias que "qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas."
No artigo de quarta, Luciana afirmou ao Intercept que foi a Folha, e não o instituto de pesquisas, quem estabeleceu as perguntas a serem feitas aos entrevistados e reconheceu "o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições", “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”, quando a pergunta foi sobre a permanência de Temer ou a volta de Dilma.
Na matéria da Folha online da noite, o jornal alega que, na publicação de domingo (17) da pesquisa, há um quadro que detalha duas respostas dadas espontaneamente pelos entrevistados quando a pergunta foi o que eles pensavam sobre a volta de Dilma ou a permanência de Temer: “nenhum dos dois” ou “novas eleições”.
“Não há erro, e tanto a Folha quanto o Datafolha agiram com transparência”, diz a matéria divulgada de noite pela Folha online.
Íntegra da pesquisa
A Folha online também publicou a íntegra da pesquisa, feita com 2.792 pessoas em 171 municípios, nos dias 14 e 15 de julho. Sob o título “Avaliação do governo Michel Temer”, a pesquisa concluiu que um em cada três brasileiros (33%) não sabe o nome do atual ocupante do cargo da Presidência da República; 65% responderam corretamente que Michel Temer é o ocupante do cargo e 2% citaram nomes errados.
O Datafolha diz que consultou os brasileiros sobre a possibilidade de uma nova eleição presidencial neste ano, caso Dilma e Temer renunciassem seus cargos, e a resposta foi que a maioria, 62%, declarou ser a favor de uma nova votação. Contra essa possibilidade, foram 30% dos entrevistados, e 8% são indiferentes ou não opinaram.
O índice dos favoráveis a novas eleições é maior entre os jovens de 16 a 24 anos e entre os que têm de 25 a 34 anos. Nas duas faixas, 68% são a favor de novas eleições. Entre os que responderam que consideram o governo Temer ótimo ou bom, 50% querem nova eleição, e 44% são contrários a novo pleito.
Questionados se o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está seguindo regras democráticas e a Constituição ou se está desrespeitando as regras democráticas e a Constituição, 49% disseram acreditar na primeira hipótese. Já os que responderam que as regras estão sendo desrespeitadas são 37%, e 14% não opinaram.
Na parcela dos mais escolarizados, 58% avaliam que o processo de impeachment segue as regras democráticas e a Constituição, índice que cai para 40% entre os menos escolarizados. Nesta última faixa, os que consideram que o processo não segue as regras são 37%, e os que não deram opinião são 23%.
Avaliação de governo
Ao perguntar o que os entrevistados pensam do governo Temer, 31% disseram considerar o governo ruim ou péssimo; 14% consideram a gestão do peemedebista ótima ou boa. Segundo o Datafolha, em pesquisa feita pouco antes de Dilma ser afastada do cargo, no início de abril, o índice de reprovação de seu governo era de 65%, enquanto os que consideravam sua gestão como ótima ou boa eram 13%.
Para o Datafolha, “essa diferença é explicada pelo índice dos que consideram a gestão de Temer regular (42%), em patamar superior ao obtido pela petista (24%). Uma parcela de 13% não soube opinar sobre a gestão do interino”. De 0 a 10, a nota média atribuída ao desempenho de Temer até o momento é 4,5.
O instituto de pesquisas também fez uma comparação da avaliação do início do governo Temer com o início do governo de Itamar Franco, ao assumir após o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992. Segundo o Datafolha, em dezembro daquele ano, dois meses após assumir no lugar de Fernando Collor, a gestão de Itamar era considerada ótima ou boa por 34% dos brasileiros, regular por 45% e ruim ou péssima por 11%. Na época, 11% não deram opinião sobre o assunto.