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Política

Doleiros de esquema de lavagem de dinheiro de Cabral depõem ao juiz Bretas

Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicada em 09/04/2018 - 22:01
Rio de Janeiro

Os irmãos Renato e Marcelo Chebar, doleiros delatores do esquema de ocultação de dinheiro no exterior do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, reafirmaram hoje (9) durante depoimento ao juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, que as transações eram feitas por meio de diversas contas no exterior. Os depoimentos foram prestados no âmbito da Operação Unfairplay, que investiga a compra de votos para a escolha do Rio como sede olímpica de 2016. Bretas é o responsável pela Operação Lava Jato no estado.

Renato afirmou que, entre 2002 e 2003, Cabral ficou assustado com o caso do propinoduto que envolvia o fiscal de renda e ex-subsecretário de Administração Tributária do governo Anthony Garotinho, Rodrigo Silveirinha Correa, com lavagem de dinheiro no exterior. Por isso Cabral, também por meio de conta bancária fora do país, pediu que o doleiro aceitasse a transferência dos valores para seu nome e passar a ser seu “fiel depositário”. Os irmãos Renato e Marcelo Chebar fizeram um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

“Eu aceitei, ele tinha uma conta que se chamava Eficiência, por isso o nome da Operação [um dos desdobramentos da Lava Jato]. Abri duas contas novas e transferi o dinheiro que ele tinha para essas contas”, revelou, acrescentado que assim se iniciou uma relação mais próxima que seguiu com valores mais elevados. “A relação foi se estreitando mais, a quantidade de dinheiro foi aumentando, fui abrindo várias contas em bancos diferentes”

Segundo o doleiro, Carlos Miranda, considerado o operador financeiro do esquema que envolve o ex-governador, o procurou dizendo que precisava receber um dinheiro que estava no exterior de uma pessoa chamada Arthur. Depois, conforme o doleiro, ele ficou sabendo que se tratava do empresário Arthur Cezar de Menezes Soares Filho , conhecido como Rei Arthur, que está foragido. Chebar sugeriu a Miranda que Arthur abrisse uma conta fora do país e transferisse os valores para ele na conta que possuía no Banco EVG. “Eu falei: é mais fácil o Arthur abrir uma conta no banco que a gente opera e ele transfere o dinheiro direto para a gente”, disse o doleiro, destacando, que a conta do empresário passou a ser operada por ele por meio de procuração.

“O Arthur abriu uma conta dentro do EVG chamada Matlock e me deu a procuração ilimitada para poder operar. O Arthur transferiu o dinheiro de alguma conta Matlock dele para a conta Matlock dentro do EVG e assim que chegava o dinheiro eu era o procurador da conta. Tinha direito de assinar e transferir”.

Renato e Marcelo chamaram atenção para a pressão que Carlos Miranda fazia no final do ano para que eles tirassem extratos da conta de Arthur. Renato disse que não entendia o pedido, uma vez que o titular da conta era o empresário e então ele mesmo poderia conseguir os extratos. Os dois negaram que soubessem de onde vinha o dinheiro que alimentava a conta.

Operação Mãos à Obra

Também nesta segunda-feira, o juiz Marcelo Bretas ouviu três funcionários da empresa Carioca Engenharia, que participou de consórcios para as obras da via expressa Transcarioca e de recuperação da Bacia de Jacarepaguá. O o ex-engenheiro Marcos Antônio Bonfim e oss ex-diretores Luciana Salles Parente e Roberto José Teixeira Gonçalves prestaram depoimento no âmbito da Operação Mãos à Obra. Eles falaram como testemunhas de acusação de Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras da prefeitura do Rio na administração Eduardo Paes. Os três, que assinaram acordo de leniência pela empresa, confirmaram que o secretário recebia propina equivalente a 1% do valor das obras.

Luciana disse que uma das entregas de dinheiro ao ex-secretário ocorreu em um posto de gasolina na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. “Quem entregava para ele, normalmente, era o Marcos Bonfim, mas teve uma vez que houve a disponibilidade da Carioca e o Bonfim não estava e eu fiz a entrega pessoalmente. Foi no meio de 2014, em julho e agosto, por aí foi de mais de R$ 100 mil, R$ 200 mil”, contou, acrescentando que o dinheiro foi entregue em um envelope. A ex-diretora disse que esta foi a única vez que entregou os valores diretamente ao ex-secretário, mas que autorizou outros repasses feitos por Bonfim.

O ex-diretor Roberto José Teixeira Gonçalves disse que inicialmente o ex-secretário tinha pedido uma propina de 3% do valor das obras, mas que o valor foi reduzido após uma negociação em um restaurante. “Fui lá conversar com ele e disse que não podia pagar aquele valor de jeito nenhum e saímos de lá fechados que a gente não ia pagar os 3% e ia pagar 1%. Ele concordou”.

O advogado de Alexandre Pinto, Felipe Machado Caldeira, acompanhou os depoimentos e disse à Agência Brasil, depois de encerrada a audiência, que as declarações não procedem. “Não sabem nem os valores certos. Há uma discrepância muito grande de valores”, apontou.