História Hoje: Há 31 anos, escritor africano ganhava primeiro Nobel de Literatura
O nigeriano Wole Soyinka tinha 52 anos quando se tornava o primeiro escritor e dramaturgo nascido no continente africano a ganhar o prêmio nobel de literatura, em 16 de outubro de 1986, mas sua obra já era numerosa e reconhecida.
Com quase vinte peças de teatro, cinco livros de poesia e três romances, além de ensaios e obras de crítica literária. Soyinka trabalhava também como professor na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e em Lagos, na Nigéria.
As tradições e mitos do povo iorubá, maior grupo étnico da Nigéria e da África Ocidental, são pilares de sua obra. No discurso que fez ao receber o Nobel, Soyinka disse que sua inspiração vinha de Ogun, deus da criatividade e destruição, da letra e da metalurgia, figura conhecida dos brasileiros, já que o candomblé de matriz iorubá se firmou no país desde o final do século 18, quando os iorubás foram trazidos em massa da África para serem escravizados no Brasil.
Mas os escritos de Wole Soyinka não são um canto aos ancestrais. Pelo contrário, suas histórias mostram o niilismo, de uma juventude intelectual nigeriana, num cenário pós-colonial.
Esses jovens não conseguem se identificar com as tradições ancestrais, nem com a elite nacionalista e moralmente débil que governa o país depois da independência, mas também se veem incapazes de construir uma estratégia de atuação social.
Seu romance de maior impacto, Os Interpretes, de 1965, traz uma narrativa fragmentada, cheia de fluxos de consciências e reflexões psicológicas. Por isso, o autor é visto como um dos ícones do modernismo africano e comparado a Willian Falkner e James Joyce. Suas peças são mais conhecidas por serem comédias satíricas, outro traço do pensamento modernista.
Ao contrário de seus personagens, que ficam paralisados diante da realidade social angustiante, Soyinka é um ator político importante. Nos anos 1960, durante a primeira guerra civil nigeriana, defendeu a paz, foi acusado de traição pelo governo rebelde e preso por dois anos. Nas décadas seguintes, denunciou o avanço do islamismo no país e hoje é uma das vozes mais ativas contra o grupo Boko Haram que, para ele é uma antítese da cultura iorubá.
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