O centenário de nascimento de Dona Izabel, uma das mais importantes ceramistas mineiras, está sendo celebrado com uma grande exposição no CRAB, Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro, no centro do Rio de Janeiro. A mestra ceramista começou a trajetória artística no interior de Minas Gerais e ultrapassou barreiras, ganhando reconhecimento nacional e internacional. A exposição "Dona Izabel: 100 anos da Mestra do Vale do Jequitinhonha", que ocupa oito salas no CRAB, apresenta 300 obras produzidas pela 'dama do barro de Jequitinhonha', como também era conhecida, e por alguns familiares e discípulos. Para Ricardo Lima, curador da mostra, essa é uma oportunidade especial de mergulhar no universo da ceramista.
“Neste ano de 2024 ela estaria fazendo, se viva fosse, 100 anos de nascimento. Ela faleceu a dez anos atrás e é o momento da gente pensar nessa mulher, na obra que ela construiu, e pensar na realidade do Vale do Jequitinhonha como um todo”.
O Vale do Jequitinhonha, cenário das criações de Dona Izabel, é uma área do nordeste de Minas Gerais conhecida por seus contrastes: natureza exuberante e dificuldades socioeconômicas. A arte popular, abundante na região, surgiu como forma de resistência e sobrevivência, com as mulheres assumindo papéis centrais na produção. Entre os destaques da obra de Dona Izabel, que poderão ser vistas de perto na mostra, estão as bonecas-moringa, como explica Ricardo Lima.
“Ela cria as bonecas, as grandes bonecas, moringas. Ela pega a moringa de barro, que era pequena, de dimensões de 30, no máximo, 40 centímetros. E ela transforma isso em grandes bonecas, bonitas, coloridas. Bonecas que te olham com uma dignidade imensa”.
O reconhecimento do trabalho de Dona Izabel veio, por exemplo, do Prêmio Unesco de Artesanato Popular para a América Latina e Caribe e a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Em 2016, a obra da artista popular foi celebrada com uma série especial de selos postais emitida pelos Correios. Ricardo ressalta a importância de divulgar esse legado.
“Divulgar o legado da Dona Izabel é muito mais do que divulgar a obra de uma grande artista. É chamar a atenção para a realidade do fazer artesanal, do fazer tradicional do Brasil. E mostrar que esse fazer, ele é muito presente no povo brasileiro. Depende só, para ele acontecer, depende dos poderes perceberem isso”.
A exposição vai até abril de 2025 e tem entrada franca.