Chacina da Candelária completa 25 anos; movimentos cobram fim da violência
Faltava pouco para a meia-noite do dia 23 de julho de 1993, quando dezenas de moradores de rua foram acordados, apavorados, pelo som de tiros. A maioria eram crianças e adolescentes, que dormiam juntos embaixo de uma das marquises no centro do Rio para se aquecer do frio.
Há 25 anos, nessa cena de horror que mais parecia filme, oito jovens morreram. O crime teve repercussão mundial e ficou conhecido como a Chacina da Candelária.
Os que sobreviveram carregaram as marcas e sequelas da atrocidade. O irmão de Patrícia Oliveira, Wagner dos Santos, uma testemunha-chave do crime, tinha na época 21 anos e perdeu parte da visão e da audição. Um ano após o massacre sofreu um atentado e entrou para o programa de proteção a testemunhas. Hoje reside fora do país.
Para Patrícia, que depois do episódio se engajou no Movimento Candelária Nunca Mais, nada mudou, a não ser a mobilização de familiares das vítimas da violência. Ela critica o discurso das autoridades sobre segurança pública.
A artista plástica Yvone Bezerra, que realizava um trabalho social com crianças de rua da região da Candelária, foi a primeira a chegar no local da tragédia. Yvone também avalia que nada foi feito de lá para cá.
Monica Cunha, do Movimento Moleque, que orienta famílias vítimas da violência e teve um filho assassinado em 2006, afirma que o racismo no país produz encarceramento e assassinatos. Para ela, atualmente mães, pais, familiares revivem diariamente a Chacina da Candelária. Ela também cobra respeito às legislações que protegem crianças e adolescentes.
José Luiz dos Santos, um dos moradores de rua da Candelária, não estava no local na noite da chacina. Como a distribuição da sopa demorou, ele saiu para tentar conseguir alguma comida. José Luiz conseguiu largar as ruas e se reestruturar. Atualmente está casado, tem dois filhos e trabalha na produção de novelas.
Outro sobrevivente da Chacina não teve o mesmo destino. Sandro do Nascimento morreu sete anos depois. Ele foi o autor do sequestro do ônibus 174 no Rio, outro episódio emblemático de violência na cidade.
Os três policiais militares condenados pela Chacina da Candelária foram soltos pelo indulto, após cumprirem parte da pena. Um dos principais participantes, Marcus Vinícius Borges, condenado a 300 anos de prisão, teve o indulto suspenso.
Nesta segunda-feira (23), durante todo o dia, serão realizados atos para lembrar o massacre. Estão previstos uma missa e um ato inter-religioso, além de dois atos públicos.
* Texto e áudio editados às 10h39 de 24/07/18 para correção de informação. O policial Marcus Vinícius Borges, condenado a 300 anos de prisão, não é mais considerado foragido.