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Direitos Humanos

Após 5 anos das mortes de Marielle e Anderson, investigação continua

Especial relembra o caso e levanta dúvidas ainda não respondidas
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Carolina Pessoa - Repórter da Rádio Nacional
14/03/2023 - 07:30
Rio de Janeiro
Marielle Franco, vereadora do PSOL na Câmara do Rio de Janeiro que foi assassinada
© Arquivo/Guilherme Cunha/Alerj

Rio de Janeiro, 14 de março de 2018. Bairro do Estácio, na região central da cidade. A vereadora Marielle Franco estava indo para casa depois de um evento no centro. O carro foi interceptado. Marielle levou quatro tiros e o motorista Anderson Gomes, três. Ambos morreram na hora. A assessora parlamentar Fernanda Chaves, que também estava no veículo não foi atingida pelas balas.

Um ano depois, a Polícia prendeu dois acusados de executar o crime, o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz, que também teriam envolvimento com grupos de milícia. Já os mandantes, até agora não foram identificados. 

Anielle Franco, atual ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, diz que a prisão dos possíveis executores foi um passo essencial, mas considera que cinco anos é tempo demais sem uma resposta definitiva:

“A gente tá aí com meia década de espera. A gente sabe que foi um crime que também foi infelizmente muito bem arquitetado. Não foi uma coisa da pessoa provavelmente decidir no dia 14 de manhã assassinar a Marielle. Eu lembro perfeitamente a rua o quanto era escura, né? Por não ter nada ali não tem nenhuma movimentação. Não tem aquela câmera funcionando. É um caso difícil de se resolver"

Apesar da sua longa trajetória de atuação em defesa dos Direitos Humanos, Marielle transitava tranquila naquele dia 14 de março, sem a companhia de seguranças, porque não sofria nenhuma ameaça, de acordo com a família. A única sobrevivente do atentado, a jornalista Fernanda Chaves, complementa que quando os atiradores abriram fogo foi tudo tão inesperado, que ela demorou para compreender o que estava acontecendo:

“A gente estava indo, conversando, o carro andava devagar. E eu só ouvi uma rajada, que atingia o nosso carro né. Então eu me abaixei, imediatamente. Eu entrei em choque porque foi óbvio que eu percebi aquela investida. Eu percebi que o carro continuava em movimento, que o Anderson estava inerte, Marielle estava quieta, desliguei o carro. E consegui sair. Mas a forma como me foi informado na verdade foi quando a polícia chegou e um dos policiais passou a informação para alguma central de que ele estava chegando numa ocorrência, que tinha duas pessoas mortas e uma sobrevivente.”

Uma força tarefa do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil apura o crime, mas não divulga detalhes das investigações, que prosseguem sob sigilo. MP declarou que a identificação do mandante de qualquer homicídio é sempre mais complexa que a do executor e acrescentou que como os executores de Marielle e Anderson são profissionais e ex-policiais militares, eles sabem como se investiga, o que torna tudo ainda mais difícil.

Desde o dia 22 de fevereiro, a Polícia Federal também trabalha no caso, por ordem do ministro da Justiça Flávio Dino que, quando assumiu a pasta, afirmou que era uma questão de honra para o estado brasileiro desvendar os mandantes do assassinato.

Com a repercussão internacional do assassinato, a Organização das Nações Unidas também passou a acompanhar o caso. Para Jan Jarab, Chefe regional do escritório para os Direitos Humanos na América do Sul, o crime se insere em um contexto de violência política no Brasil. Mas ele é cauteloso a respeito dos indícios de pressões e interferências nas investigações:

“Mencionaram como elementos preocupantes possíveis intentos de interferir no caso por parte das autoridades políticas. E também estamos conscientes de que, tinha muitas mudanças dos responsáveis pelo caso. Evidentemente não corresponde ao comissariado fazer uma avaliação dessa prerrogativa do Poder Judiciário nacional”.

Já a família da vereadora faz o que pode, e segue acompanhando atentamente as investigações durante todo esse tempo, como conta a mãe de Marielle, Marinete Silva:

“Estou sempre no MP. Na DH já fui várias vezes. Tenho acompanhado. Eu acompanho bastante o caso da minha filha. É bem doloroso. É porque é uma resposta que você não tem e você fica se questionando todo dia. Eu vou lutar, que eu quero que Deus me dê vida para estar viva, até saber quem mandou matar minha filha”.

Coube a Marinete, Anielle, Renata, Fernanda e a tantas outras pessoas próximas ou inspiradas por Marielle cumprir a promessa que ela fez em um dos últimos pronunciamentos na Câmara de Vereadores do Rio:  "Não serei interrompida!”

Atualmente, Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz estão em presídios de segurança máxima fora do estado. Eles já são réus por duplo homicídio triplamente qualificado e serão julgados por um júri popular ainda sem data marcada. Ambos alegam inocência.

Ouça e baixe a reportagem no player do topo da página. Se preferir, ouça pelo Spotify ou acompanhe pelo YouTube a versão com acessibilidade.

A Radioagência Nacional publicou três reportagens sobre os cinco anos dos assassinatos da ex-vereadora do PSOL-RJ, Marielle Franco, e de seu motorista Anderson Gomes. O fato ocorreu em 14 de março de 2018 e, até o momento, segue sem conclusão.

  1. Após 5 anos das mortes de Marielle e Anderson, investigação continua
  2. "Marielle hoje é do mundo", diz mãe da vereadora assassinada em 2018
  3. Quem mandou matar Marielle?: pergunta persiste após 5 anos do crime

 

*Com colaboração da TV Brasil

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