Cuidar dos próprios recursos, ter conta no banco e cartão de crédito, escolher um investimento. Oportunidades acessíveis independente do gênero nos dias de hoje, mas nem sempre as mulheres tiveram os mesmos direitos que os homens quando o assunto era dinheiro.
O código civil de 1916 não permitia que as casadas tivessem conta no banco e isso só mudou em 1962. A partir de 1974, entrou em vigor uma lei para acabar com a discriminação na concessão de crédito para solteiras ou divorciadas.
Historicamente, algumas mulheres não se deixaram limitar por esses impedimentos. Durante a pesquisa de mestrado na Universidade de São Paulo, a analista financeira Mariana Ribeiro encontrou registros da brasileira Eufrásia Teixeira Leite, que foi pioneira em investir sem a tutela de um homem no final do século 19.
Eufrásia nasceu em 1850, no interior do Rio de Janeiro, em Vassouras, e em 1873 ela já estava começando a investir. Ela perde o pai e a mãe. E aí, como solteira e sem os pais, ela tem a oportunidade de começar a investir. Porque na época você tinha sempre a questão da figura de um filho que assumiria ou um irmão ou um pai. A mulher não tinha os direitos básicos, não tinha direito a abrir conta bancária...
A pesquisadora também percebeu que houve um apagamento histórico de outras mulheres que assumiram a gestão do próprio dinheiro e isso impactou na falta de representatividade. Mariana Ribeiro destaca, ainda, que atualmente ainda há uma baixa participação das mulheres como investidoras e como profissionais no mercado financeiro.
Eu acho que aí há relação muito próxima. Se tivéssemos mais profissionais mulheres, a gente teria provavelmente mais investidoras mulheres. Eu acho que uma coisa puxaria a outra. O grande obstáculo ainda é cultural, então ainda não se vê nessa posição e nas imagens, tudo que se publica sobre investimento ainda é muito dentro de um recorte do universo masculino.
Uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais de 2021 mostrou que 72% das mulheres não fazem investimentos e o principal motivo citado foi a falta de dinheiro.
Esta é a terceira reportagem da série especial da Radioagência Nacional que conta as conquistas femininas por direitos no Brasil em diferentes áreas da vida, como trabalho, educação e proteção social. As reportagens serão publicadas de 06 a 10 de março de 2023, semana do Dia Internacional da Mulher. Confira todos os episódios:
- Dia Internacional das Mulheres: a evolução feminina na educação
- Dia Internacional das Mulheres: a evolução feminina no trabalho
- Dia Internacional das Mulheres: em busca da independência financeira
- Dia Internacional das Mulheres: o espaço das atletas no esporte
- Dia Internacional das Mulheres: o enfrentamento à violência de gênero