Abdias Nascimento, líder da luta antirracista, completaria 110 anos
Publicado em 14/03/2024 - 15:03 Por Priscila Thereso - repórter da Rádio Nacional - Rio de Janeiro
Há exatos 110 anos, nascia um dos maiores intelectuais do Brasil e conhecedor da cultura negra.
Ator, dramaturgo, poeta, escritor, artista plástico, professor, político e ativista antirracista, Abdias Nascimento escreveu seu nome na história. E, se destacou como o principal difusor do pan-africanismo no país, movimento em defesa da unidade política dos povos africanos.
Paulista, da cidade de Franca, ele ganhou o mundo. Em 1968, Abdias viajou aos Estados Unidos para um intercâmbio com movimentos que promoviam os direitos civis e humanos da população negra. Ao perceber o aumento da repressão e da violência na ditadura militar brasileira, decidiu se autoexilar. Durante 13 anos, viveu nos Estados Unidos e na Nigéria.
O sociólogo Túlio Custódio, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo, pesquisou esse período de exílio de Abdias. Ele explica que as experiências internacionais tiveram influência grande no pensamento político e intelectual do ativista.
Custódio afirma que, como professor universitário, Abdias Nascimento pôde aprofundar críticas à ideia do Brasil como uma democracia racial, além de estreitar os laços internacionais com pensamentos e intelectuais africanos.
Antes do autoexílio, Abdias Nascimento já trazia um currículo longo: havia fundado o Teatro Experimental do Negro, em 1944, que denunciava a segregação nas artes brasileiras e promovia os direitos civis e humanos dos negros.
Nos anos seguintes, participou da organização da Convenção Nacional do Negro, e do 1º Congresso do Negro Brasileiro. Editou ainda o jornal “Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro”; e era o curador fundador do Museu de Arte Negra, no Rio.
Após a estada no exterior, no retorno ao Brasil, em 1981, Abdias fundou com a esposa, Elisa Nascimento, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). A instituição organizou o 3º Congresso de Cultura Negra das Américas, em São Paulo, em 1982. A revista Afrodiáspora, lançada no ano seguinte pelo Ipeafro, traz na capa menção ao congresso e diz que os negros reunidos nele buscavam a própria identidade, impor respeito à condição comum de descendentes dos povos africanos.
A viúva Elisa Nascimento segue hoje na luta pela valorização das raízes africanas e defende o legado de Abdias e o Ipeafro.
Ao longo da vida, Abdias Nascimento recebeu títulos de doutor honoris causa no Brasil e no exterior, prêmios de órgãos nacionais e internacionais, entre eles a mais alta honraria outorgada pelo Governo do Brasil, a Ordem do Rio Branco, no grau de comendador. O intelectual morreu em 2011, aos 97 anos.
Edição: Vitoria Elizabeth / Liliane Farias