Com 170 homicídios durante greve, Ceará monta comissão entre poderes para negociar com PMs
A greve dos policiais militares do Ceará resultou na explosão de mortes violentas no estado, 170 até o momento, nesta quarta-feira de cinzas. Para tentar encerrar a paralisação, será instalada uma comissão com representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de membros do Ministério Público estadual e Exército.
O anúncio foi feito por meio de nota conjunta assinada por representantes dos três poderes. Os integrantes da comissão devem ser indicados ainda esta semana.
Além do acréscimo das mortes violentas, durante a greve de policiais os cearenses sentem o aumento de outros crimes, como os assaltos. A empresária Francisca Robéria conta o que aconteceu com a amiga dela em Fortaleza.
“A minha amiga e eu saímos para fazer compras, e quando a gente chegou na calçada o malandro tomou o celular dela. E era em um carrão, pensamos até que era um policial. A gente fica morrendo e medo, não tem ninguém para nos socorrer”.
O sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, César Barreira, acredita que essa onda de violência nas ruas vem da disputa de poder entre três facções que atuam dentro das cadeias do estado.
“Nós tivemos a questão dos Guardiões do Estado, que é uma facção local e que cresceu muito nesses últimos anos. E o Comando Vermelho e o PCC estão tentando recuperar espaços no Ceará. Então me parece que esse aumento alarmante e preocupante nas taxas de homicídio decorre dessa busca de espaço no estado do Ceará”.
Enquanto a comissão para acabar com a greve dos policiais não sai do papel, cerca de 3 mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional estão no estado para ajudar na segurança dos cearenses, na Operação da Garantia da Lei e da Ordem.
Alguns policiais militares suspenderam as atividades no dia 18 de fevereiro, depois que ficaram insatisfeitos com a proposta do governo do estado para o reajuste salarial da categoria. A remuneração inicial passaria de R$ 3,4 mil para R$ 4,5 mil até 2022.
Motins e greves de policiais são proibidos pela Constituição. Por isso, 230 grevistas já foram afastados das atividades. Até o momento, não conseguimos contato com os grevistas.