Quase quatro anos de total dedicação ao marido e aos dois filhos, e longe do trabalho remunerado. É o que a educadora física Poliana Freire, de 41 anos, vive enquanto espera o melhor momento para voltar a ter um emprego. Ao mudar de cidade, para acompanhar o esposo, Poliana teve que deixar a profissão.
Com trabalho remunerado, ou não, é sobre nós, mulheres, que recai a maior responsabilidade nos cuidados com a casa e a família. No Brasil, as mulheres dedicam quase o dobro de tempo do que os homens, nos afazeres domésticos, como mostra uma pesquisa do IBGE. Enquanto eles dedicam mais de 11 horas semanais, elas passam mais de 21 horas, cuidando de pessoas, de tarefas domésticas e da produção para o próprio consumo.
A Socióloga Jacqueline Pitanguy conta que, com o tempo, as mulheres passaram a ocupar mais o mercado de trabalho, mas os homens não passaram a se inserir mais nos trabalhos domésticos.
Na avaliação da especialista, é preciso criar meninos e meninas mostrando que, mesmo sendo diferentes, são iguais em responsabilidades e deveres com a casa e os cuidados da família. A engenheira química Letícia Protector, de 35 anos, conseguiu, com muito custo, voltar ao mercado de trabalho, após seis anos acompanhando o então marido, pelos países onde moraram. Depois que se separou, se divide entre os cuidados com a filha de quatro anos e a casa, mesmo atuando na profissão.
Para a professora de história da Universidade Federal de Santa Catarina, Glaucia Fraccaro, é preciso que os trabalhos de cuidado sejam valorizados nas políticas públicas, pelas empresas e todas as pessoas, incluindo os homens.
Outro dado do levantamento do IBGE aponta que até mesmo as mulheres que têm um emprego remunerado, trabalham quase sete horas a mais do que os homens que também têm um trabalho fora de casa. Com isso, eles acabam trabalhando mais tempo fora de casa do que elas, e tendo muito mais chances de crescer na carreira e ter boas oportunidades.
*Com produção de Beatriz Evaristo, e sonoplastia de Jailton Sodré
