Pesquisadores identificam origem de plásticos nas praias do Ceará
Você sabe de onde vem o plástico encontrado nas praias da costa brasileira? Pesquisadores do Ceará usaram simulações de correntes marítimas para identificar a origem de detritos plásticos encalhados nesses locais.
A pesquisa foi divulgada nesse mês pela revista FAPESP e mostra como uma grande quantidade de lixo produzido na África cruzou o Oceano Atlântico até atingir o litoral cearense.
O professor Tommaso Giarrizzo, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, conta que a investigação começou há dois anos, durante o monitoramento de óleo na Praia do Futuro, em Fortaleza, quando foram encontrados vários resíduos com logomarcas desconhecidas. Eram mais de mil itens plásticos, não produzidos, nem vendidos no Brasil, que estavam também nas praias de Porto das Dunas e em Jericoacoara, abrangendo uma distância de mais de 300 quilômetros entre os três pontos.
Quase 80% dos detritos, a maioria da indústria de bebidas, vieram da África. A maior parte foi identificada como um tipo de plástico difícil de ser reciclado, de 31 marcas de sete países africanos.
As rotas potenciais do lixo foram simuladas pelos pesquisadores, levando à hipótese que, do material do continente africano, mais de 90% veio da República Democrática do Congo, quarto país mais populoso do continente, conforme explica o professor Tommaso Giarrizzo:
"A modelagem matemática que avaliou efeitos de correntes oceanográficas considerou as condições ambientais de áreas reais que estão sendo monitoradas por sistemas de boias e de satélites nos oceanos. Através dessa modelagem foi possível reconstruir o trajeto percorrido por cada plástico."
Não se sabe se o lixo foi despejado de forma acidental ou intencional. Mas na capital da República Democrática do Congo, Kinshasa, cidade com aproximadamente 17 milhões de habitantes, o acúmulo de resíduos plásticos aumentou drasticamente nas últimas duas décadas, segundo os pesquisadores.
Ainda de acordo com o artigo, resultado da pesquisa, a amostragem de lixo corresponde a apenas dois meses de 2022, mas demonstra ser necessário tanto um monitoramento contínuo da costa brasileira, quanto estender a responsabilidade do lixo aos produtores dos plásticos, por meio de medidas regulatórias e uma legislação internacional, complementa Tommaso Giarrizzo:
"Um resultado que demonstra quanto o problema dos resíduos sólidos, especialmente de plástico, é um problema global. Não adianta se preocupar apenas com um município ou um estado. Temos que trabalhar a nível global para solucionar o problema do plástico".
Na amostra acolhida pelos pesquisadores da Universidade do Ceará, uma parcela também tinha como origem países asiáticos e europeus, além do Brasil.