logo Radioagência Nacional
Meio Ambiente

Trilhas Amazônicas apresenta caminhos para um turismo sustentável

Podcast também aborda problemas do setor causados pela crise climática
Baixar
Rafael Cardoso e Akemi Nitahara
21/03/2025 - 07:00
Rio de Janeiro
Trilhas Amazônicas EP 1 Turismo
© Arte EBC

Neste primeiro episódio do Trilhas Amazônicas você vai conhecer iniciativas de turismo de base comunitária na Amazônia e no Jalapão. Também vamos saber o que está sendo feito para garantir um turismo sustentável e as dificuldades do setor devido a crise climática.

O turismo na Amazônia gira em torno dos rios. A perda de volume no principal meio de transporte impacta diretamente as atividades. Os extremos climáticos de 2024 mudaram até o passeio mais icônico nos arredores de Manaus: o encontro das águas. Visualizar a junção da água barrenta do Rio Solimões com a água escura do Rio Negro, para formar o Rio Amazonas, ficou prejudicada.

 Em setembro, a Praia de Ponta Negra, principal balneário de Manaus, foi interditada para banhistas, depois que o Rio Negro ficou abaixo da cota mínima de segurança, de 16 metros. O Museu do Seringal, que fica no Igarapé São João, foi fechado temporariamente, porque o acesso é exclusivamente pelo rio.

Em Alter do Chão, no Pará, que tem alta temporada começando em agosto, o nível baixo do Rio Tapajós prejudicou o deslocamento dos turistas para ilhas, restaurantes e estabelecimentos comerciais. O Sairé, um festival cultural realizado em setembro, foi suspenso por causa da baixa procura.

Mas é preciso destacar que quando se fala de crise climática e turismo, há de se pensar sobre a responsabilidade do próprio setor nos impactos ao meio ambiente. Já que o turismo é um dos grandes responsáveis pelos deslocamentos aéreos e terrestres, bem como pelo uso intensivo de energia elétrica, por exemplo.

A professora Isabel Grimm, doutora em meio ambiente e desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná destaca que nós vivemos uma sociedade de risco e onde as incertezas são muito grandes.

"Então, pensar no futuro para o turismo é pensar hoje na adaptação do turismo à mudança climática. Pensar numa adaptação voltada para a atividade, que é o que está acontecendo hoje quando a gente fala de um Plano de Adaptação Brasil, que está acontecendo pelo Ministério do Meio Ambiente, onde todos os ministérios estão participando, e o turismo tem ocupado um espaço muito importante nessa discussão."

Pedro Nassar é coordenador do programa de turismo de base comunitária do Instituto Mamirauá e mestre em gestão de áreas protegidas na Amazônia. O Instituto leva o nome da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, e tem sede na cidade de Tefé. O principal resultado desse trabalho é a Pousada Uacari, que recebe visitantes para uma experiência imersiva na Amazônia.

Para Nassar o turismo de base comunitária tem que garantir a participação da comunidade nas discussões, na gestão e no planejamento:

"Então, eu resumiria que os benefícios, de um modo geral, tanto econômicos quanto sociais, culturais, ambientais, tem que ser a maior parte para a comunidade e a comunidade tem que ser parte ativa dos processos que estão acontecendo no turismo e não ser de massa, né?"

Os moradores envolvidos integram uma associação local e trabalham no programa em sistema de rodízio, cerca de 12 dias por mês. Cada hóspede da Pousada Uacari contribui com a Taxa de Apoio Socioambiental, para financiar projetos e recursos comunitários, como compra de barcos, construção de centros comunitários e rádio de comunicação. O instituto também promove cursos para formar multiplicadores, que irão disseminar o conhecimento em outras regiões do país. De Mamirauá para Mumbuca, o modelo de Tefé já foi exportado para o Jalapão, por exemplo.

Ilana Ribeiro Cardoso, quilombola do Mumbuca, fica no estado do Tocantins, na região do Jalapão é artesã e empreendedora. Em 2018,ela esteve no Instituto Mamirauá e conheceu de perto as iniciativas de turismo comunitário. A partir dali, a Amazônia virou uma fonte de inspiração e aprendizado para o Cerrado. Ilana defende que a comunidade sabe cuidar do meio ambiente:

"Quando é sustentável, é cuidado. E quem cuida é a comunidade. Então o turismo tem que vir de baixo, não de cima. Então tem que vir da comunidade que está lá. Então a base tem que ser a comunidade, porque nós sabemos como cuidar."

Ilana ajuda a organizar restaurantes, pousadas e roteiros para que turistas conheçam de forma mais autêntica a comunidade e a história do quilombo. Entra as experiências sustentáveis oferecidas estão trilhas feitas por antepassados, plantas medicinais e oficinas de artesanato com capim-dourado.

Caminhos para um turismo que abuse menos do planeta já existem. Mas a situação do clima global preocupa.

O podcast Trilhas Amazônicas é uma parceria entre a Agência Brasil e a Radioagência Nacional. A série abre o ano da Trigésima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, a ser realizada em Belém, em novembro. Serão sete episódios publicados toda sexta-feira na Radioagência Nacional e nos tocadores de áudio. 

Você pode conferir, no menu abaixo, a transcrição do episódio, a tradução em Libras e ouvir o podcast no Spotify, além de checar toda a equipe que fez esse conteúdo chegar até você. 

*A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDxAmazônia 2024. 

PODCAST Trilhas Amazônicas- Episódio 1 - Turismo e crise climática

VINHETA: Trilhas Amazônicas

SOBE SOM 🎶 

EPISÓDIO 1: Turismo e crise climática

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: O clima da Amazônia é conhecido pelo calor e pelas chuvas. No início de dezembro de 2024, pude comprovar o calor escaldante de Manaus. Mas as chuvas ficaram para outra visita. O Amazonas enfrentava a pior seca da história, com níveis de água baixíssimos, como nunca se viu antes. Quem trabalha com turismo sente diretamente os efeitos da crise climática.

RODRIGO: Quando fica muito seco, que nem esse ano foi uma das quartas secas mais históricas durante 120 anos no Amazonas. Então, prejudica um pouco o turismo, porque muitas pessoas deixam de vir para Manaus por causa da seca. Então, o turismo diminui. A focagem de jacaré, que a gente tem muito durante a noite, param porque na seca fica difícil de jacaré.

DANIEL : Quando o rio está cheio, a gente recebe de 50, 60 lanchas por dia, de 8 horas até 6 horas da tarde. Por exemplo, agora durante esse período da seca, a gente recebe duas lanchas. Certa, né? No caso, vocês são privativos, não é marcado, entendeu? Não é combinado com a gente. Então, já essas lanchas que vêm privativo, como vocês estão vindo, já é o que ajuda a gente mais ainda, entendeu? Mas, geralmente, só vêm duas lanchas para nós por dia. A gente depende só do turismo e das vendas de artesanato, né?

RAFAEL: O Rodrigo é o piloto da lancha, que no percurso até o encontro dos rios Negro e Solimões, nos indica no horizonte partes de terra do continente e das ilhas que já deveriam estar cobertas por água.

RODRIGO: Rodrigo Amorim. Eu sou o capitão da lancha e o guia ao mesmo tempo.

RAFAEL: O Daniel lidera uma aldeia multiétnica com 38 pessoas, na região do Lago Janauari, que atende turistas com venda de artesanatos e apresentações de suas culturas e danças tradicionais.

DANIEL: O meu nome com a minha língua indígena é Nhahori. Em português eu me chamo Daniel. Nós somos cinco etnias diferentes. No caso, eu sou Tucano, tem o Tuyuca, tem Bará, Macuna e Piratacuia. Aqui a gente já trabalha muitos anos já com isso aqui. Já mais de 20 anos já. Isso aqui é uma continuação de um trabalho do meu finado avô.

RAFAEL: Ah, deixa eu me apresentar também, né? Eu sou Rafael Cardoso, repórter da Agência Brasil. Este é o primeiro episódio do podcast Trilhas Amazônicas, onde vamos falar dos desafios que a região enfrenta, bem como soluções encontradas pelos moradores da maior floresta tropical do planeta para enfrentar a crise climática.  A gente lançou um teaser desse podcast, onde explicamos o que é a Amazônia e como será dividida a série, que vai ter sete episódios. O tema de hoje são os caminhos para um turismo sustentável.

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: Toda a região amazônica sente os efeitos sociais e econômicos da estiagem. Um dos setores mais afetados é o turismo, fonte de renda para boa parte da população. O calor e a seca afastam os visitantes, porque muitas atividades estão prejudicadas.

RODRIGO: Então, devido à seca ser muito grande, o turismo fica ruim, os ribeirinhos sofrem, o pessoal do turismo que recebe os visitantes, como o pessoal que tem o pirarucu, o restaurante, a tribo indígena, eles têm que se deslocar da comunidade deles e montar um acampamento onde tem água que é para chegar todos os turistas que ainda vêm mesmo na seca, né? Então, isso dificulta muito a vida dos turistas, dos ribeirinhos e da gente que trabalha carregando, transportando os turistas, né? E a seca, ela dificulta muito, muito, muito para todos.

SOBE SOM 🎶  

DANIEL: Sim, afetando muito. Principalmente o turismo, a gente depende, a gente não tem transporte de carro, essas coisas, tudo é por água. Então, atrapalha muito a gente, porque o rio fica mais baixo. A gente dorme aqui, né? Durante toda a seca a gente dorme aqui. Se a gente for voltar todo dia pra lá pra onde é a aldeia mesmo, é mais ou menos umas meia hora caminhando pra chegar no lago, de lá pegar um rabeto, né? Que é uma canoa pequena, e de lá chegar na comunidade, de lá tem que andar mais um pouco de novo. Então a gente infelizmente corre todo o risco, mas a gente precisa, a gente não pode parar.

RAFAEL: Além da fonte de renda, a crise climática afeta o dia a dia e o modo de vida das pessoas que vivem na Amazônia.

DANIEL: A caça, essa área aqui, ela já é um pouco difícil, né? Mas tem, mas assim, afetou muito em termos da pesca, né? A pesca afeta muito. Ela fica mais escasso, fica mais difícil. E em alguns lugares morreu muito também peixe, né? Se estragou, né? Então, tudo isso aí faz falta pra nós, né? Aqui é 50% do turismo e 50% da pesca. Infelizmente, a gente tá se refugiando só no turismo agora.

RAFAEL: As mudanças climáticas já passaram de alerta dos cientistas para fato constatado pela população. Pelo menos na Amazônia.

RODRIGO: Ultimamente aqui até no inverno, que é a época que está cheio, que está chovendo, é o mesmo que está agora o verão, mudou muito o clima aqui em Manaus.

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: O turismo na Amazônia gira em torno dos rios. A perda de volume no principal meio de transporte impacta diretamente as atividades. Os extremos climáticos de 2024 mudaram até o passeio mais icônico nos arredores de Manaus: o encontro das águas. Visualizar a junção da água barrenta do Rio Solimões com a água escura do Rio Negro, para formar o Rio Amazonas, ficou prejudicada.

 Em setembro, a Praia de Ponta Negra, principal balneário de Manaus, foi interditada para banhistas, depois que o Rio Negro ficou abaixo da cota mínima de segurança, de 16 metros. O Museu do Seringal, que fica no Igarapé São João, foi fechado temporariamente, porque o acesso é exclusivamente pelo rio.

Em Alter do Chão, no Pará, que tem alta temporada começando em agosto, o nível baixo do Rio Tapajós prejudicou o deslocamento dos turistas para ilhas, restaurantes e estabelecimentos comerciais. O Sairé, um festival cultural realizado em setembro, foi suspenso por causa da baixa procura.

Mas é preciso destacar que quando se fala de crise climática e turismo, há de se pensar sobre a responsabilidade do próprio setor nos impactos ao meio ambiente. Já que o turismo é um dos grandes responsáveis pelos deslocamentos aéreos e terrestres, bem como pelo uso intensivo de energia elétrica, por exemplo.

ISABEL: Essa relação do turismo com o clima é uma relação de muita proximidade, né? A atividade turística, ela se desenvolve principalmente em função do tempo e do clima, que são coisas distintas, né? E o turismo, além de ser impactado pelas mudanças climáticas, pelos eventos extremos das mudanças climáticas, na forma de calor intenso, inundações, secas extremas, furacões, enfim, todo evento que tem ocorrido cada vez mais e com maior frequência, então tem impactado a atividade turística, mas, ao mesmo tempo, a gente tem que sempre lembrar que o turismo também é um grande tributário das emissões de gases de efeito estufa. Então, tem sempre os dois lados que devem ser observados.

RAFAEL: Essa é a professora Isabel Grimm, doutora em meio ambiente e desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná.

ISABEL: De toda forma, eu acredito que os impactos têm sido realmente muito grandes, principalmente quando nós falamos da economia. Então, o que a gente fala hoje é que a gente já ultrapassa a questão das mudanças climáticas e fala de uma emergência climática, que é um dos maiores desafios da sociedade contemporânea e também da atividade turística que tem sido impactada. Então, o turismo em todas as regiões do mundo tem sofrido muito com as mudanças climáticas e os eventos extremos. E no caso do Brasil, como a gente tem observado recentemente no Rio Grande do Sul, com as enchentes que ocorreram, que várias regiões foram impactadas, do turismo rural, do turismo de base comunitária, e algumas regiões do norte do país, na região da floresta amazônica, realmente a seca também impactou, ou seja, o evento extremo de uma seca prolongada fez com que muitos leitos dos rios perdessem o seu volume e, com isso, o principal meio de transporte que liga ou de algumas atividades turísticas que ocorrem nessa região também foram impactadas, né.

RAFAEL: Turismo de base comunitária. Vamos falar mais disso daqui a pouco, como uma alternativa para o turismo de massa.

ISABEL: Nós precisamos pensar em alternativas. E aí a gente fala de um turismo mais sustentável, ou mesmo de um turismo de baixo carbono. E essas duas, tanto o turismo de baixo carbono como o turismo sustentável, podem ser alternativas ao turismo de massa. E dessa forma a gente consegue minimizar, de certa forma, o impacto da atividade turística nos ecossistemas, sejam os sociais e os ambientais. E, ao mesmo tempo, essas duas possibilidades, eles podem ainda maximizar os benefícios sociais e também econômicos, trazendo benefícios às comunidades, às populações locais, que dependem do turismo para a sua subsistência, para a geração de trabalho e renda.

RAFAEL: Esse envolvimento das populações locais é uma das possibilidades para o turismo continuar existindo nesses novos tempos.

ISABEL: Eu gosto de colocar que nós vivemos uma sociedade de risco e onde as incertezas são muito grandes. Então, pensar no futuro para o turismo é pensar hoje na adaptação do turismo à mudança climática. Pensar numa adaptação voltada para a atividade, que é o que está acontecendo hoje quando a gente fala de um Plano de Adaptação Brasil, que está acontecendo pelo Ministério do Meio Ambiente, onde todos os ministérios estão participando, e o turismo tem ocupado um espaço muito importante nessa discussão, de levar a formação e a capacitação a nível local para que as partes envolvidas, para que os gestores municipais possam participar da formação para a adaptação do turismo à mudança climática. Então, é um importante passo que está acontecendo.

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: E para isso ocorrer, vai ser fundamental fazer adaptações e buscar caminhos sustentáveis. A 600 quilômetros a oeste de Manaus, na região do médio Solimões, um programa de turismo de base comunitária tem contribuído para o desenvolvimento local desde 1998.

PEDRO: O meu nome, pode botar Pedro Nassar. Minha função é eu sou coordenador do programa de turismo de base comunitária do Instituto Mamirauá. Eu sou mestre em gestão de áreas protegidas na Amazônia.

RAFAEL: O Instituto leva o nome da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, e tem sede na cidade de Tefé. O principal resultado desse trabalho é a Pousada Uacari, que recebe visitantes para uma experiência imersiva na Amazônia.

PEDRO: O programa, ele nasceu junto com a pousada Uacari, que é uma iniciativa de turismo de base comunitária, referência na Amazônia, né? Assim que a reserva foi transformada em RDS, em 96, depois começaram a pensar as iniciativas de alternativas de renda, de manejo sustentável dos recursos e tal, o turismo foi uma das atividades. Então em 98 começou o turismo em Mamirauá, com um embrião da pousada Uacari, o que viria a ser a pousada, então o programa nasceu junto ali, ajudando a fazer a gestão do turismo, da pousada Uacari, mas sempre com a ideia do participativo, que é o que está no nosso sangue, do Instituto, de fazer participativamente e que quem se beneficia diretamente são as próprias comunidades.

RAFAEL: Entre as metas principais do programa estão contribuir para a conservação dos recursos naturais, promover empoderamento local e o desenvolvimento econômico e social das comunidades envolvidas. São pelo menos 11 comunidades beneficiadas diretamente ao longo destes 27 anos.

PEDRO: O turismo de base comunitária, fundamentalmente, ele é diferente do de massa, não visa a exploração do turismo normal, que é muita quantidade de gente, fazer de qualquer jeito, as pessoas chegarem no lugar e irem embora, como se nada tivesse acontecido. Ele sempre tem um monte de experiência por trás no turismo de base comunitária, isso do ponto de vista do turista, né? Mas é importante que o TBC tenha uma participação efetiva local, seja onde for a comunidade, a gente fala muito em Amazônia, comunidades ribeirinhas, terras indígenas e tal, mas pode ter um turismo de base comunitária na cidade, com uma outra realidade, né? O importante é que as pessoas participem nos processos ali, não sejam meramente trabalhadores, que vão lá, compram sua função e vão embora para casa. Porque o que a gente também fala muito é dos benefícios que são advindos do turismo tem que ir para a comunidade, né. Então uma pessoa pode pensar beleza um salário é um benefício que é gerado pelo turismo então é base comunitária se for uma pessoa da comunidade trabalhando. Se for só isso não é tudo de base comunitária não é simplesmente lá trabalhar ganha dinheiro embora né. Gerar o benefício econômico é, para a comunidade, é fundamental no TBC. Mas sem algum nível de participação na gestão, no planejamento, nas discussões, não é turismo de base comunitária. Então, eu resumiria que os benefícios, de um modo geral, tanto econômicos quanto sociais, culturais, ambientais, tem que ser a maior parte para a comunidade e a comunidade tem que ser parte ativa dos processos que estão acontecendo no turismo e não ser de massa, né?

RAFAEL: O programa do Instituto Mamirauá inclui atividades de pesquisa e monitoramento de tecnologias de saneamento, impactos ambientais, estudos de viabilidade e planejamento turístico, monitoramento ambiental e socioeconômico. O eixo central é trabalhar a autonomia das comunidades na gestão do turismo, com geração de emprego e renda, e conservação dos recursos naturais.

PEDRO: Sem a conservação, não tem turismo de base comunitária, na Amazônia principalmente. Então, é fundamental que a floresta fique em pé, mas é fundamental que as comunidades onde se faça turismo em áreas que tenham comunidades, claro, né, se é turismo de base comunitária, as pessoas também tenham o seu modo de vida ali mantidos, né, e respeitados.

RAFAEL: Os moradores envolvidos integram uma associação local e trabalham no programa em sistema de rodízio, cerca de 12 dias por mês. Cada hóspede da Pousada Uacari contribui com a Taxa de Apoio Socioambiental, para financiar projetos e recursos comunitários, como compra de barcos, construção de centros comunitários e rádio de comunicação. O instituto também promove cursos para formar multiplicadores, que irão disseminar o conhecimento em outras regiões do país.

PEDRO: Quando a gente tem o curso, abre um edital, faz uma seleção das pessoas interessadas ali, ou das entidades interessadas. E a ideia é passar a nossa experiência de Instituto Mamirauá no turismo para essas pessoas que vieram fazer o curso aqui, também trocar ideia, de conhecer um pouco as outras instituições, as outras iniciativas, fazer um pouco ali de trocas também, mas é muito passando a nossa experiência, tirando dúvidas, ajudando o pessoal que está muitas vezes que está começando a fazer turismo, né, a poder gerar novas ideias ali para quem tá começando principalmente, né?

RAFAEL: De Mamirauá para Mumbuca, o modelo de Tefé já foi exportado para o Jalapão, por exemplo.

ILANA : Meu nome é Ilana Ribeiro Cardoso, sou quilombola do Mumbuca, fica no estado do Tocantins, na região do Jalapão. Sou artesã, sou empreendedora.

RAFAEL: Em 2018, Ilana esteve no Instituto Mamirauá e conheceu de perto as iniciativas de turismo comunitário. A partir dali, a Amazônia virou uma fonte de inspiração e aprendizado para o Cerrado.

ILANA: Hoje eu trabalho no meu quilombo, Mumbuca, um trabalho de seis anos, né? Um trabalho de força e garra, não tive tanto apoio, recursos, um trabalho de formiguinha. Hoje já estou indo para outras comunidades, mas na região de Jalapão. E faço um intercâmbio em outras comunidades também que trabalham com turismo de base comunitária, né? Pra mim me espelhar, pra mim... me sentir mais tranquilo. Saber que tem outras pessoas também na mesma luta que eu. A minha primeira vez que eu estive aqui na Amazônia foi em 2018, através de um edital de um projeto, ao qual fui selecionada pelo Instituto Mamirauá. E foi que me deu abrir as portas para onde eu estou hoje, e os ribeirinhos, deles ter abrido as portas das casas deles, eu ter conhecido o turismo de base comunitária através deles, e através disso eu voltei para o Jalapão e fiz isso na minha comunidade, e eu vi que isso deu certo, e isso vai dar certo. Então assim, a minha mensagem que eu passo para as outras pessoas da comunidade que querem começar a trabalhar com turismo de base comunitária é que vamos fazer intercâmbio, vamos conhecer outros lugares, porque isso vai abrir um leque muito grande na sua mente e na sua criatividade para que você possa fazer isso para as suas comunidades também.

RAFAEL: Ilana ajuda a organizar restaurantes, pousadas e roteiros para que turistas conheçam de forma mais autêntica a comunidade e a história do quilombo. Entra as experiências sustentáveis oferecidas estão trilhas feitas por antepassados, plantas medicinais e oficinas de artesanato com capim-dourado.

ILANA: Quando é sustentável, é cuidado. E quem cuida é a comunidade. Então o turismo tem que vir de baixo, não de cima. Então tem que vir da comunidade que está lá. Então a base tem que ser a comunidade, porque nós sabemos como cuidar. Nós sabemos a quantidade de pessoas que podem entrar no fervedor, a quantidade de pessoas que podem ir no campo de capim, a gente sabe a quantidade de pessoas que podem ir em uma vereda, numa nascente. Tem que ter esse cuidado. A gente não está pensando só na questão do lucro, né? A gente está pensando que aquele momento pode ter aquele lucro, mas e depois? Se a gente não cuidar, se exagerar com a quantidade que foi pesquisado, estudado. E o turismo sustentável, ele dá essa possibilidade, porque o guia é local, ele está deixando dinheiro na comunidade. Então, ele vai viver daquele turismo, ele está trabalhando na sua comunidade e com algo que ele está contribuindo com a sustentabilidade da comunidade e com a natureza. Então, para mim, o turismo sustentável é algo que chegou na vida das comunidades como pra somar.

RAFAEL: Caminhos para um turismo que abuse menos do planeta já existem. Mas a situação do clima global preocupa. Bem como a especulação imobiliária.

ILANA: Eu me preocupo. Por quê? O Jalapão é um território que tem muitos olhares, de gente grande, que tem dinheiro. Assim, nós trabalhamos da forma sustentável na comunidade. E as pessoas que hoje estão querendo ir para o Jalapão, para a terra, eles querem fazer do Jalapão um território imobiliário. Então, assim, essas pessoas não conhecem as beiras dos rios. Eles não sabem que o nosso rio tem que ser cuidado. E nós, da comunidade, sabemos. Eles não sabem. Eles estão indo por causa de negócio. Eles estão indo por causa de dinheiro. Então, isso me preocupa, porque pode ser que hoje não está acontecendo, mas e para o futuro? E para os meus filhos? E lá no Jalapão tem muitas nascentes que são vertedores cachoeira então a gente é muito rico em água potável só que se as pessoas hoje começar a trabalhar na questão do agro, plantar soja perto, que está acontecendo isso também, daqui a pouco essas nações vão ser poluídas.

RAFAEL: Na Amazônia, a seca tem se tornado uma preocupação constante.

PEDRO: Pra nossa região aqui, a seca é bem impactante, porque a gente depende dos rios para fazer tudo, para chegar aqui em Tefé, ou vem de avião, ou vem de barco, lancha, enfim. Então, a seca realmente impactou demais e para muito além do turismo. A vida de todo mundo mudou porque as coisas encarecem, a distância aumenta, os tempos aumentam, deslocamento, então é bem complicado. E a preocupação é essa de saber, pensando em mudanças climáticas, o que isso vai gerar. São dois anos seguidos de grande seca na Amazônia, pode ser que não é esperado, mas que tenha uma super cheia, mas que também causa outro problema, então a gente está nesse momento muito indefinido, e até para planejar as ações é muito complicado para a gente, né? Tanto do turismo, quanto das pesquisas, das ações com as comunidades. A gente planeja ao longo do ano, mas é possível que chegar em julho para a gente. A gente tem que rever várias ações de segundo semestre, porque se a seca ficar muito brava, a gente tem que parar a atividade e tentar reformular. Só que essa questão de mudanças climáticas realmente é uma coisa muito complicada e ainda a gente fica meio de mãos atadas sem saber exatamente como proceder, pensando num planejamento mais longo.

RAFAEL: E você, enquanto turista, qual o seu papel nessa crise climática?

ISABEL: A responsabilidade do turismo, ela recai sobre toda a cadeia produtiva, sobre todos os stakeholders, as partes envolvidas. As empresas que estão ligadas diretamente ou indiretamente com a atividade turística e também recai sobre a ação, sobre o comportamento do próprio turista. Então, para além da mitigação, que é um grande desafio hoje imposto sobre a atividade turística, nós temos avançado muito na questão da própria adaptação. O turismo precisa internalizar todos os custos ambientais e também custos sociais, do qual ele tem impactado a sociedade, tem impactado o meio ambiente, e, ao mesmo tempo, ele tem que lidar com situações de avançar na perspectiva de uma adaptação.

RAFAEL: Já decidiu o destino das próximas férias? Que tal pesquisar um pouco mais e tentar uma experiência de baixo carbono?

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: O podcast Trilhas Amazônicas é uma parceria entre a Agência Brasil e a Radioagência Nacional. A série abre o ano da Trigésima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, a ser realizada em Belém, em novembro. A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDxAmazônia 2024.

A reportagem, entrevistas e apresentação foram minhas, Rafael Cardoso.

Adaptação, roteiro, edição e montagem de Akemi Nitahara.

Coordenação de processos e supervisão de Beatriz Arcoverde, que também faz a implementação web junto com Lincoln Araújo.

Mara Régia gravou a vinheta e os títulos dos episódios

A trilha sonora original foi composta para nós por Ricardo Vilas

Também utilizamos a música Japurá River, de Uakti e Philip Glass

Identidade visual da equipe de arte da EBC

No próximo episódio, vamos falar das descobertas arqueológicas que a tecnologia e os saberes ancestrais estão revelando.

SOBE SOM 🎶 

 

Em breve

Reportagem, entrevistas e apresentação

Rafael Cardoso
Edição, roteiro, adaptação e montagem Akemi Nitahara 
Coordenação de processos e supervisão

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design:

Caroline Ramos

Interpretação em Libras: Equipe EBC
Implementação na Web:

Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde

Trilha sonora original Ricardo Vilas
Locução da vinheta e títulos dos episódios Mara Régia
Música Japurá River  Uakti e Philip Glass

 

x