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Saúde

Suicídio: prevenção deve passar por tratamento precoce de transtornos

No Brasil, são aproximadamente 14 mil casos anuais
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Ana Lúcia Caldas - Repórter da Rádio Nacional
10/09/2023 - 11:00
Brasília

Estamos no Setembro amarelo. Se precisar, peça ajuda. Este é o lema neste ano. O dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Precisamos falar sobre saúde mental.  

"Já é um tabu que felizmente tem sido quebrado: falar sobre prevenção de suicídio." 

"O silêncio é um grande problema nesse sentido, porque amplia o estigma."

 "Agora as pessoas não precisam ser psicólogos ou médicos psiquiatras para reconhecerem que algo não está indo bem com as pessoas ao redor."  

Para se ter ideia, oficialmente são registrados mais de 700 mil suicídios no mundo, todos os anos. Um número que, segundo a Organização Mundial da Saúde, pode chegar a um milhão. No Brasil, são aproximadamente 14 mil casos anuais — uma média de 38 pessoas que atentam contra a própria vida a cada dia.

Para o médico psiquiatra Fernando Fernandes, da Abrata — Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos —, a prevenção deve passar pelo reconhecimento e tratamento precoce dos transtornos psiquiátricos. 

"O principal fator de risco associado ao suicídio é a presença de algum transtorno psiquiátrico. Há pesquisadores que falam que 90% dos casos estão associados a um transtorno psiquiátrico, há pesquisadores que falam 97, há pesquisadores que falam que virtualmente  todos os casos do suicídio estariam associados a algum transtorno psiquiátrico." 

E quais são os transtornos mais associados ao risco de suicídio?  

"A depressão, que é muito frequente. Por ser uma doença muito frequente e aumentar o risco de suicídio, acaba sendo a mais importante. Mas outras também, como transtorno bipolar, esquizofrenia, o transtorno de personalidade, sobretudo transtorno de personalidade borderline, e o uso e abuso de substâncias que isoladamente ou associado a outros transtornos psiquiátricos multiplicam o risco de suicídio." 

Fernando Fernandes também explica como devemos agir diante de uma suspeita. 

"Solidariedade, atenção e empatia já podem fazer toda a diferença para ela, se for só apenas um sofrimento psíquico, aquela disposição em ajudar, em ouvir, já pode aplacar um pouco o sofrimento dela, e se ela estiver passando por algum transforma psiquiátrico recomendar que ela busque uma ajuda especializada."

Os estudos revelam que nove entre dez casos podem ser evitados.  

Leila Herédia, do CVV, Centro de Valorização da Vida, diz que no ano passado foram 3,2 milhões de atendimentos nos serviços oferecidos. Ela ressalta que existe um momento em que todo mundo se questiona sobre a vida. 

"Quem nunca, em algum momento da vida, passando por uma dificuldade, não pensou 'puxa, eu não queria estar vivendo isso', é da nossa natureza. É normal. Agora o problema acontece quando eu começo a não só pensar como a fazer planos para morte. porque a nossa natureza é para vida." 

Leila também ressalta que o silêncio amplia o estigma, e é preciso saber onde pedir ajuda. 

"Que mais pessoas saibam onde buscar ajuda, o que fazer, o que cada um de nós pode contribuir. Então, o silêncio é um grande problema nesse sentido, porque ele amplia o estigma, faz com que as pessoas falem menos de si e do que estão vivendo. É mais ou menos o que acontecia com câncer antigamente. As pessoas falavam 'Ah, está com aquela doença ruim'." 

Ricardo Oliveira tentou duas vezes o suicídio quando tinha 19 anos. Hoje, ele é psicólogo e ajuda os outros a superar o problema da depressão. Para Ricardo, a resposta sobre se devemos conversar sobre saúde mental é: sim! 

"Ainda acho necessário, principalmente em escolas, empresas, tudo... A saúde mental é um pouco trabalhada de uma forma... A palavra certa seria um estigma, mas acho que é mais um não entendimento. O pessoal tem um certo receio de falar. 'Ah, isso não é uma coisa muito séria, pode ser uma frescura, sei lá'." 

O Brasil dá sinais de que está comprometido com a prevenção. Neste ano, o Ministério da Saúde ampliou o orçamento da Rede de Atenção Psicossocial com investimento de mais de R$ 200 milhões.

Precisa de ajuda? Quer ajudar alguém? Anote ai: o Centro de Valorização da Vida no telefone 188 ou no site cvv.org.br. Procure os CAPS, Centros de Atenção Psicossocial, ou as Unidades Básicas de Saúde. Ou ainda, o site mapasaudemental.com.br que mostra o centro de apoio mais perto de você.  

 

Especial Jovens e saúde mental

Radioagência Nacional apresenta um especial com quatro reportagens sobre jovens e saúde mental. Essa é a quarta matéria da série. 

 

Confira todas as reportagens:

  1. Metade dos transtornos mentais começa antes dos 14 anos
  2. Setembro amarelo: autolesão cresce entre adolescentes
  3. Pais e escolas desempenham papel fundamental na prevenção ao suicídio
  4. Suicídio: prevenção deve passar por tratamento precoce de transtornos

 

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Lúcia Caldas

Produção: Dayana Vitor

Sonoplastia: Messias Melo

Edição: Daniel Ito

Publicação na Radioagência Nacional: Renata Batista

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