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Saúde

Em SP, 20% dos internados em UTI por covid-19 morrem devido à doença

Segundo governo, índice mostra que doença é mais grave que se pensava
Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
Publicada em 14/05/2020 - 15:36
São Paulo
Leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com um dispositivo de respiração artificial.
© Reuters / Kai Pfaffenbach / Direitos Reservados

Um em cada cinco pacientes infectados pelo novo coronavírus internados em leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) no estado de São Paulo morre por causa da doença. A informação foi divulgada hoje (14) pelo diretor do Hospital Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Junior, membro do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo. "Isso quer dizer que, de cada cinco pacientes que vão para a UTI, um não volta para casa. E a taxa de ocupação dos leitos de UTI está em torno de 85% e aumentando”. 

Segundo o coordenador de controle de doenças da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, Paulo Menezes, 8% das pessoas diagnosticadas com covid-19 no estado morreram por causa da doença. “Temos 4.315 óbitos para 54 mil pessoas diagnosticadas. Isso dá aproximadamente 8%. Ou seja, 8% das pessoas que foram diagnosticadas, vieram a óbito. E não foi por falta de leito de UTI, porque isso não está acontecendo no estado de São Paulo. Mas porque a cada dia que passa, entendemos que a doença é mais grave. O vírus é mais agressivo do que parecia no início da pandemia”, falou ele.

A covid-19, segundo Menezes, causa uma doença sistêmica e não somente uma doença pulmonar, como se imaginava. “A doença é mais grave do que as pessoas estão imaginando. O isolamento social não é só em função de dar tempo para a gente ter leitos com respiradores. Mas ele é a única coisa que podemos fazer para evitar que as pessoas peguem o vírus que causa, em parte delas, uma doença muito grave e que pode vir a óbito ou causar lesões irreversíveis ou com sequelas que, depois que a pandemia passar, vão continuar trazendo um impacto na vida das pessoas e da sociedade como um todo”, explicou.  

Segundo o diretor do Emílio Ribas, alguns pacientes de covid-19 estão apresentando insuficiência renal. “De cada dez pacientes, quatro estão evoluindo para insuficiência renal. Desses pacientes que vão receber alta, alguns deles vão precisar continuar fazendo diálise. E alguns terão ainda sequelas pulmonares. Estamos diante de uma doença nova que surpreende a cada dia com novas manifestações clínicas”, disse Pereira Junior. “Não queremos só diminuir o número de casos, mas que a população colabore [com o isolamento] para que a gente não tenha pacientes graves ou com sequelas”, enfatizou.

Infectados

Dados mais recentes mostram que o estado de São Paulo tem 54.286 casos confirmados do novo coronavírus, com 4.315 mortes. Há 3.884 pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) entre infectados e com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Além disso, 6.110 estão internados em enfermarias. 

A taxa de ocupação de leitos de UTI em todo o estado está em torno de 69%, enquanto na Grande São Paulo ela é crítica, em torno de 85,5%.

Isolamento

A taxa de isolamento em todo o estado paulista tem se mantido em 47%, um índice baixo, considerando expectativas da Secretaria de Saúde, que considera 55% de isolamento das pessoas um percentual mínimo satisfatório para evitar a disseminação do vírus e um colapso no sistema de saúde.

De acordo com Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, o isolamento precisa ser mantido, e com taxas altas, não somente para evitar um colapso na saúde, mas também porque ainda não há uma vacina ou tratamento adequado para a doença. 

“Umas das questões é se a imunidade que o indivíduo desenvolve contra o vírus é permanente ou não. Os primeiros indícios mostram que não. E, portanto, se não há essa proteção de longo prazo, isso significa que o vírus vai continuar circulando. Daí a necessidade de uma vacina”, falou ele, acrescentando que ela só deve ser realidade a partir do segundo semestre do próximo ano.

“O coronavírus está mudando o mundo e a forma como ele funciona. O dia em que tivermos uma vacina e pudermos vacinar em massa a população mundial, poderemos então voltar a pensar ou evoluir para uma situação em que não tenhamos que nos preocupar com transmissão de vírus de uma pessoa para outra. Mas neste momento, vamos ter que lidar com ele por muito tempo”, disse Paulo Menezes, da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo. “É um vírus muito grave. O H1N1 matou uma em cada mil pessoas diagnosticadas. Mas aqui estamos falando, no Brasil, em uma a cada 12 pessoas diagnosticadas. Precisamos transmitir essa mensagem não para criar pânico, mas para que pessoas saibam o que estamos enfrentando nesse momento”.

Óbitos em São Paulo

Segundo o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, 31% dos óbitos ocorridos em todo o Brasil pelo novo coronavírus ocorreram no estado de São Paulo. Mas esse número, segundo o secretário, já foi maior. No dia 15 de abril, os óbitos de São Paulo correspondiam a 45% de todo o país. Isso, de acordo com ele, se deve ao resultado da quarentena em São Paulo que, apesar de ainda distante do ideal, já conseguiu evitar muitas mortes e o colapso no sistema de saúde. “A política de isolamento social em São Paulo salvou vidas”.

“No início da pandemia, no dia 24 de março, 68% dos casos de coronavírus do Brasil eram de São Paulo. Depois disso, caiu para 27% no dia 13 de maio (ontem)”, acrescentou. “Essas taxas têm sido decrescentes, demonstrando a eficácia da política de isolamento social”, disse Vinholi.

Hospital de campanha

A cidade de São Paulo vai receber, na próxima quarta-feira (20), um novo hospital de campanha para tratar os casos de baixa ou média complexidade do novo coronavírus, mas que necessitam de internação. Com isso, além dos hospitais de campanha do Pacaembu e do Anhembi, administrados pela prefeitura de São Paulo, e do Ibirapuera, administrado pelo governo estadual, São Paulo vai ter o seu quarto hospital de campanha, o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Barradas, na comunidade de Heliópolis. O AME Barradas terá 200 leitos, sendo 24 de UTI e 28 de estabilização. O investimento neste hospital é de R$ 30 milhões, com R$ 915 mil de custeio.

Segundo a secretaria estadual da Saúde de São Paulo, o hospital de campanha do Ibirapuera, inaugurado no dia 1º de maio, tem neste momento 114 pacientes internados. Mas já passaram por ele 244 pacientes, sendo que 87 tiveram alta. Esse hospital do Ibirapuera recebe pacientes encaminhados por hospitais da Grande São Paulo.