Pandemia pode atrasar tratamento de câncer de mama
Levantamento feito pela Fundação do Câncer, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS), revela queda de 84% no número de mamografias feitas no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus, em comparação ao mesmo período do ano passado. A instituição constatou também em estudo do Observatório de Oncologia, que aumentou de 28 dias para 45 dias o tempo médio entre a primeira consulta com um especialista e o diagnóstico do câncer de mama entre 2014 e 2018. Na média do período, o tempo médio ficou em 36 dias.
Com o intuito de conscientizar as mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, a Fundação do Câncer lançou hoje (1º) a campanha Outubro+Que Rosa, estrelada pela atriz Catarina Abdalla. A campanha tem como mote o slogan “É tempo de...” e se divide em quatro focos:
É tempo de cuidar de si, ou seja, de ir ao médico ou fazer exames periódicos;
É tempo de ajudar o outro, seja compartilhando informações ou incentivando as pessoas no cuidado preventivo ou curativo;
É tempo de apoiar, seja cuidando de quem está doente ou fazendo uma doação para instituições que ajudam a combater o câncer;
É tempo de prevenção, ou seja, de falar sobre promoção da saúde e chances de cura da doença.
O diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, ressaltou que a ideia é falar para as pessoas que o caminho para combater o câncer de mama está no cuidado e no diagnóstico precoces. “Isso é importantíssimo, especialmente nesse momento em que muitas pessoas deixaram de cuidar da saúde em função do isolamento social devido à pandemia da covid-19”.
Sintomas
Em entrevista à Agência Brasil, Maltoni deixou claro que se a mulher tiver algum sintoma, sentir dor nos seios, perceber algum nódulo ou caroço, ou que já tinha alteração em exames anteriores, não deve deixar de fazer exames para ver a evolução do caso e elucidar se há algo realmente preocupante.
“É óbvio que, se a mulher não sente nada, nesse momento de pandemia, e já seria hora de fazer a mamografia dela de rotina, se ela tem mais de 50 anos de idade, não tem problema nenhum postergar mais alguns meses a mamografia e fazer em um momento de maior tranquilidade e menor perigo de pandemia”, salientou.
“O que não deve é esquecer de fazer. É para estar atenta com o auto cuidado e a necessidade de fazer os exames de rotina”, completou o diretor executivo da Fundação do Câncer. A preocupação, segundo Maltoni, é as pessoas ficarem com medo de procurar o serviço médico por conta da covid e chegarem tardiamente para o tratamento de uma situação mais avançada.
Maltoni enfatizou a diferença do exame de rastreamento, que significa chamar uma população-alvo assintomática, sem nenhuma queixa, entre 50 anos e 69 anos de idade, para fazer exames de rotina. “Para essas mulheres de rastreamento, em um momento de pandemia, adiar esses exames um pouco mais é recomendável, porque elas acabam não superlotando os equipamentos e esvaziam um pouco o Sistema de Saúde”.
O diretor reiterou, por outro lado, que “para mulheres que têm sintomas, que apresentam alguma alteração, que notaram algum nódulo, perceberam alguma coisa diferente ou que precisam fazer exame de comparação em relação a um já alterado que mostrou a necessidade de repetição em até seis meses para avaliar se houve ou não alguma mudança, a gente recomenda que os exames sejam feitos para não perder a oportunidade de um diagnóstico precoce, porque o resultado é muito melhor de tratamento”.
Mortes e custos
A Fundação do Câncer chamou atenção para outro problema relatado pelo diretor do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, Normam Sharpless. Ele estimou que a falta de rastreamento e tratamento durante a pandemia elevará em cerca de 1% o número de mortes por câncer naquele país. Sharpless observou ainda que além dos cuidados com a saúde terem ficado em segundo plano, a pandemia do novo coronavírus resultou em maior atenção e investimentos para a cura da covid-19, o que contribuiu para paralisar parcial ou totalmente pesquisas sobre câncer, no mundo todo.
De acordo com a Fundação do Câncer, o adiamento no cuidado com a saúde pode levar a diagnósticos do câncer de mama em estágios avançados, em alguns casos, gerando maiores gastos para o país. O economista sênior em saúde do Banco Mundial (BIRD), André Medici, analisou que o câncer de mama pré-menopausa em estágio 3 da doença, ou seja, o mais adiantado, representa 482% a mais despesas para os cofres públicos em relação ao tratamento no estágio inicial do câncer de mama. Já a diferença de custos entre os estágios inicial e intermediário fica em 201%, no mesmo tipo de tumor. Os dados foram divulgados pela Fundação do Câncer. (Alana Gandra)