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Saúde

Em quatro anos, 535 indígenas tiraram a própria vida

Dado está em relatório divulgado pelo Cimi
Sayonara Moreno - Repórter da Rádio Nacional
Publicado em 31/07/2023 - 16:59
Brasília

No Brasil, entre 2019 e 2022, 535 indígenas tiraram a própria vida. A maior parte, no estado do Amazonas, onde 208 suicídios foram registrados. Os dados estão no Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), lançado na última semana.

Para a psiquiatra e pesquisadora associada da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jacyra Araújo, que estuda o tema da saúde mental indígena, o problema não é recente, mas é comum em populações originárias do mundo todo. Ela destaca que as taxas de suicídio no Amazonas chamam atenção e que as possíveis causas não são fáceis de levantar. Mas a realidade de conflitos na região explica muita coisa.

"Dá para dizer que tem um acesso menor ao tratamento em saúde mental e que também tem a ver com falta de perspectiva e de assimilação da cultura moderna. Nós observamos um aumento mais recente das taxas de suicídio no estado do Amazonas. Essa exploração de mineração naquela região trouxe, segundo alguns autores, insegurança e piora da situação de conflito entre a população indígena e a população não indígena. Isso provavelmente está relacionado com a piora dos dados de suicídio nessa região, já que traz uma instabilidade que predispõe à doença mental."

Boa Vista (RR), 14/02/2023, O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana - Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami, fala sobre a questão dos indígenas Yanomami no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek'uana - DSEI YY.
Junior Yanomami fala sobre o adoecimento mental entre indígenas yanomami - Rovena Rosa/Agência Brasil

Parte dos povos yanomami vive no Amazonas. O presidente da Associação Yanomami Urihi, Junior Yanomami, destaca a realidade violenta na região. Ele cita o caso de meninas que chegam ao adoecimento mental, após sucessivas violências contra seus corpos, como estupro, gravidez precoce, abuso e a exploração de invasores.

"São crescentes os casos de mulheres sofrendo violência, estupro. Tem muitas jovens também que engravidaram de garimpeiros e tem filhos dos garimpeiros. Tem um problema grave psicológico com as meninas yanomami, elas choram, ficam com raiva, isso é um problema."   

O Relatório do Cimi aponta, ainda, que somente no ano passado, foram registrados 115 suicídios de pessoas indígenas, em todo o país. Uma das organizadoras do documento, a antropóloga Lúcia Helena Rangel, cita a pobreza e os contextos de violência contra essas populações. No entanto, atribui grande parte do adoecimento mental indígena, ao racismo.

O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de 2021, mostra que a taxa de mortalidade por suicídio em indígenas é quatro vezes superior à da população não indígena.

O relatório do Cimi traz um alerta sobre a disseminação do álcool e outras drogas nos territórios indígenas. Segundo o documento, essa realidade é um mecanismo antigo dos colonizadores, para “controle dos indígenas, a fim de facilitar o livre acesso aos territórios e a prática de crimes”. Por outro lado, provoca o adoecimento mental e deixa as populações mais vulneráveis às ideações suicidas.

Ouça na Radiogência Nacional:


Obter ajuda

Entre os profissionais que tratam de saúde mental e instituições especialistas em prevenção ao suicídio, é unânime a ideia de procurar (ou orientar) ajuda específica sempre que sentir necessidade de acolhimento (ou perceber que alguém precisa). Aqui alguns canais para receber atenção e auxílio: 

- Centro de Valorização da Vida, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. 

- Mapa da Saúde Mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário on-line e presencial em todo país. 

- Pode Falar, um canal lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. Funciona de forma anônima e gratuita, indicando materiais de apoio e serviço.