Truque do Desejo reúne grupos de foliões ao som de pagode no Aterro do Flamengo
O refrão tira a calça jeans, bota o fio dental, morena você é tão sensual, da música Marrom Bombom, de autoria de os Morenos, não é marchinha de carnaval, mas é um dos principais sucessos do Bloco Truque do Desejo, que desfila no Aterro do Flamengo, hoje (10), na zona sul do Rio de Janeiro.
É o quarto carnaval do bloco que, tocando pagode da década de 1990, foi um dos mais concorridos do dia, mesmo fora da programação oficial da prefeitura, reunindo centenas de foliões, amantes de um repertório musical no melhor estilo “dor de cotovelo”.
A jornalista Cecília Oliveira, fantasiada de Carmem Miranda, disse que o ritmo marcou sua adolescência. “Eu sou uma pessoa que viveu intensamente o pagode dos anos 90”. O bloco, acrescenta, é uma forma de reviver as canções que fizeram sucesso à época.
O nome Truque do Desejo veio da canção Palpite, de Vanessa Rangel, sucesso da novela Por amor, apresentada pela TV Globo em 1997. No bloco, o repertório passeia por clássicos do Araketu, de Os Travessos, de Negritude Junior, de Katinguelê e de Exaltasamba, entremeados de recados de tolerância, uma vez que é formado, na maioria, por LGBTs e pessoas negras.
Fãs de carteirinha de pagode, as amigas Camila Goular e Jéssica Ferreira, acompanharam os ensaios, segundo elas, bem mais vazios. Camila e Jéssica disseram que se prepararam especialmente para celebrar os 30 anos do grupo Molejo, vestidas de fruta. “Foi uma coincidência, a gente não sabia. Mas quem não dormiu e acordou cantando “pera, uva, maçã ou salada mista?”, brincaram.
Foliões que chegaram tarde reclamaram do som, apesar de as caixas terem o dobro da potência em relação ao ano passado, segundo uma das organizadoras, Karina de Almeida Neves. Ela reconhece que, a cada ano, o bloco com cerca de 20 ritmistas ganha novos seguidores.
“No primeiro ano, que era bem uma coisa entre amigos, levamos uma caixa pequena, que não funcionou, e a gente ficou cantando em microfone de camelô até chegar uma foliã com um megafone. No segundo, fizemos uma parceria com um quiosque, mas o som não era tão bom. Ano passado, contratamos uma equipe massa, curtimos muito, foi bem melhor, mas como tinha muito mais gente do que a capacidade, não foi ideal. Agora, dobramos essa estrutura de 2017, que já foi a melhor e investimos mais”, explicou Karina. De acordo com ela, a divulgação foi boca a boca, e o dinheiro para financiar o bloco veio de contribuições arrecadadas em ensaios e apresentações. “A gente passa o chapéu na rua, no bar, não tem grana de patrocinador ou da prefeitura”.
O Truque surgiu quando, há quatro anos, amigos se perderam de um bloco e terminaram, na rua mesmo, cantando músicas de carnaval. “Quando acabou o repertório, engatamos no pagode, que era uma coisa que estávamos acostumados, e, aí, a galera curtiu muito, começou a fazer coro de pagode, puxando um atrás do outro”.
Em 2017, o Truque do Desejo tentou autorização da prefeitura, mas teve o pedido recusado. Desde então, desistiu e resolveu festejar o carnaval com quem aparecesse.