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Direitos Humanos

Prefeitura de São Paulo deve incorporar farinata na merenda escolar

Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 18/10/2017 - 17:00
São Paulo
Brasília - A bancada do PSDB na Câmara se reúne com o prefeito de São Paulo, João Doria (Wilson Dias/Agência Brasil)
© Wilson Dias/Agência Brasil
São Paulo - O prefeito João Dória fala à imprensa sobre o repasse de verba do governo federal para atender usuários de droga na Cracolândia (Rovena Rosa/Agência Brasil)

O  prefeito  João  Doria    Arquivo/Agência  Brasil

O prefeito de São Paulo, João Doria, confirmou hoje (18) que pretende incorporar a farinata na merenda escolar dos alunos da rede municipal. A farinata é uma farinha obtida a partir de alimentos que estejam próximos da data de vencimento e que serão descartados. O produto foi elaborado pela organização sem fins lucrativos Sinergia.

Na semana passada, Doria anunciou que usaria o produto no Programa Alimento para Todos, que prevê a distribuição do composto para a população carente da cidade. O uso da farinata gerou polêmica apôs o prefeito mostrar um biscoito em forma de bolinhas que foi chamado de ração nas redes sociais.

"Na prefeitura de São Paulo, a Secretaria de Educação já foi autorizada a utilizar o alimento solidário de forma complementar na merenda escolar, com todas as suas características de proteínas, vitaminas, sais minerais, para a complementação dessa merenda já com início em outubro", disse Doria.

Entretanto, o prefeito não soube informar quais serão os compostos introduzidos na merenda.

Segundo Doria, apesar de ter promulgado a Lei 01-00550/2016, que institui e estabelece diretrizes para a Política Municipal de Erradicação da Fome e Promoção da Função Social dos Alimentos, a administração nunca disse que já estava pronta para implantar o projeto. "Eu disse que, a partir daquele momento, podíamos iniciar o processo de incorporação da farinata e sua distribuição".

De acordo com a secretaria municipal de Direitos Humanos, Eloisa Arruda, ainda serão realizados estudos para conhecer as carências nutricionais da população da cidade de São Paulo. "Ainda não está definido o que vai chegar às escolas em outubro, mas estamos em contato com o secretário da Educação para que ele nos apresente qual é o cardápio destas creches. e a introdução pode ser feita paulatinamente". O estudo deve ser feito pelo Observatório de Políticas para o Desenvolvimento Social, da Secretaria de Desenvolvimento Social.

Eloisa enfatizou que o alimento in natura continuará sendo fornecido e seu uso, incentivado, mas que serão analisadas as necessidades alimentares nas regiões da cidade para que o alimento solidário seja incorporado. "Não vamos substituir alimentos in natura. Temos regiões em São Paulo que são chamadas de desertos alimentares, nas quais o alimento in natura não chega pela dificuldade logística. O que queremos é alimentos de boa qualidade dos supermercados fora da conformidade que cheguem a esses desertos alimentares. é um projeto amplo que está apenas começando". 

A fundadora da Sinergia, Rosana Perrotti, explicou que farinata é um composto feito com alimentos bons, e que são empregadas diversas técnicas para permitir o reaproveitamento. "Testamos todas as técnicas que chegaram a nós e conectamos todas elas de forma que qualquer alimento que entra, sai o mesmo, mas em formato de pó ou granulado”.

Segundo Rosana, a única diferença entre tal alimento e o produzido pela indústria é que a farinata é patenteada exclusivamente para os programas de combate à fome. "Esta é uma inovação que esperamos que inspire o Brasil e o mundo. Só vamos conseguir produzir para essa finalidade por meio de políticas públicas".

Rosana não soube explicar quem produzirá o composto e como será a distribuição. Ela ressaltou que pelo menos 1,3 bilhão de toneladas são desperdiçadas no mundo e há 1 bilhão de pessoas sem alimento. O custo para descarte do que é desperdiçado chega a US$ 750 bilhões.

"Cada supermercado sabe seu custo. Nós vamos reduzir os custos deles ao operacionalizar a farinha. Esse custo será menor do que o do processo de descarte. A prefeitura não vai colocar nenhum recurso. O que vai fazer é reduzir seus custos, inclusive na área de saúde e educação, porque, se elevamos o nível da nutrição, vamos ter melhor resultado educacional e de saúde. Cada empresa que entra na parceria pode ajudar nesse beneficiamento", acrescentou.

Arcebispo apoia

O arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, defendeu o uso da farinata em virtude do grande número de pessoas que passam fome na cidade de São Paulo. De acordo com o cardeal, três questões que interessam à igreja serão sanadas com a distribuição da farinata: o escândalo da fome, o desperdício de alimentos, o ônus ambiental causado por esse desperdício.

"A possibilidade de fazer algo para que isso não aconteça [a existência de pessoas com fome] nos levou a apoiar a iniciativa que pretende levar alimento de forma segura e gratuita para quem não tem. O projeto de lei que foi elaborado para permitir a distribuição da farinata foi feito há quatro anos. O assunto foi introduzido no Congresso Nacional, já tramitou na Câmara dos Deputados e está no Senado Federal. Com essa farinha se fazem muitas coisas, não é alimento granulado como se tem dito", afirmou dom Odilo.