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Direitos Humanos

ONU: mais de 81 mil mulheres foram assassinadas em 2021, diz relatório

Dados mostram que mais de 5 mulheres foram assassinadas por hora
Joana Raposo Santo – Repórter da RTP
Publicado em 23/11/2022 - 20:17
Lisboa
Protesto contra o feminicídio e violência contra mulheres.
© Edgard Garrido/Reuters/Direitos reservados
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta quarta-feira (23), expõe números preocupantes sobre o feminicídio no mundo. Em 2021, foram 81,1 mil assassinatos de mulheres. Desse total, 56% foram mortas pelo marido, parceiro ou outro membro da família.

Apesar de a maioria dos homicídios no mundo serem cometidos contra homens (81%), as mulheres são desproporcionalmente afetadas pelos assassinatos na esfera privada. Enquanto 56% dos homicídios de mulheres foram cometidos pelos parceiros ou membros da família, apenas 11% dos homicídios de homens ocorreram nessas circunstâncias.

Segundo os dados da ONU, em 2021 mais de cinco mulheres foram mortas por hora por um familiar. Os departamentos das Nações Unidas para as Mulheres e para o Crime consideram estes números “elevados e alarmantes”, especialmente se for levado em conta que o número real de assassinatos é, provavelmente, muito superior.

Cerca de quatro em cada dez mortes de mulheres em 2021 não foram considerados feminicídios por provas insuficientes, de acordo com a ONU, que diz ainda que os números têm permanecido praticamente inalterados ao longo da última década.

No ano passado, o número mais alto de feminicídios praticados por membros da família das vítimas foi registrado no continente asiático, com 17,8 mil mortes. No entanto, segundo o relatório, é na África que as mulheres estão em maior risco de serem assassinadas por familiares.

No continente africano, a taxa de homicídios baseados no gênero em ambiente doméstico fixou-se em 2,5 para cada 100 mil pessoas do sexo feminino. O número é muito superior ao do continente americano (1,4), Oceania (1,2), Ásia (0,8) e Europa (0,6).

Ainda segundo a ONU, em 2020 a pandemia de covid-19 coincidiu com um significativo aumento dos feminicídios na América do Norte e no Sul da Europa. E, em 25 países desses dois continentes, aumentou também o número de mortes provocadas por outros familiares que não os maridos ou companheiros das vítimas.

Em 2021, dos 45 mil feminicídios cometidos por familiares das vítimas, 17,8 mil acontecerem na Ásia, 17,2 mil na África, 7,5 mil na América, 2,5 mil na Europa e 300 na Oceania.

“Nenhuma mulher ou criança deveria recear pela sua vida por serem quem são. Para travar todas as formas de assassinatos relacionados com o gênero feminino, necessitamos contar cada vítima, e compreender melhor os riscos e causas dos feminicídios”, defendeu Ghada Waly, diretora executiva do gabinete da ONU para as Drogas e Crime.

Apenas assim “podemos desenvolver mais e melhores medidas de prevenção e respostas a nível de Justiça criminal”, acrescentou.

Já Bárbara Jiménez-Santiago, advogada dos direitos humanos e coordenadora de uma ONG pelos direitos das mulheres, defende que as estatísticas passem a incluir também o número de mortes que resultam de outras formas de violência, como, por exemplo, casos de suicídio após uma violação.

Ativistas e especialistas defendem que a resposta ao problema do feminicídio deve passar por mais legislação e políticas contra as causas da violência baseada no gênero, assim como pelo investimento dos governos em serviços públicos que digam respeito a essa área.

Há, também, que ultrapassar a forte discriminação contra mulheres e raparigas em vários países do mundo, incluindo aqueles onde se pratica mutilação genital, que permitem violações dentro do casamento ou que dão a opção ao homem de se casar com a mulher que violou para evitar cumprir pena.

“Os assassinatos relacionados com gênero e outras formas de violência contra mulheres e meninas não são inevitáveis. Mas podem e devem ser prevenidos, através de uma intervenção antecipada e de parcerias como as que ajudaram a produzir este relatório”, lê-se no documento da ONU.

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