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Educação

Campanha #CientistaTrabalhando chama atenção para processo científico

Ciência precisa estar no debate do dia a dia, diz especialista
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 08/07/2020 - 20:39
Rio de Janeiro
Sarah Rodrigues Fernandes,Cientistas da UFG desenvolvem medicamento que reverte overdose de cocaína
© Universidade Federal de Goiás (UFG)/Direitos reservados

Chamar a atenção para o processo científico em meio à pandemia do novo coronavirus é um dos objetivos da campanha #CientistaTrabalhando, lançada nesta quarta-feira (8), Dia Nacional da Ciência. A data marca a fundação, em 1948, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A campanha é promovida pelo Instituto Serrapilheira, voltado para o fomento à ciência e à divulgação científica no Brasil, e a agência Bori, que busca criar uma ponte entre os cientistas brasileiros e a imprensa.

Segundo a diretora de Divulgação Científica do Serrapilheira, Natasha Furlan Felizi, por causa da pandemia, há uma grande saturação do assunto ciência como debate público, mas, depois de alguns meses de discussão do tema, existem também demonstrações de falta de conhecimento da sociedade sobre o processo científico. “Porque há muita gente que se manifesta contra a ciência, achando que a ciência é incapaz de produzir consenso sobre os medicamentos, tratamentos adequados, ou mesmo por causa da 'demora' em produzir uma vacina”, disse Natasha em entrevista à Agência Brasil.

O tema ganhou grande visibilidade por causa da pandemia, mas, ao mesmo tempo, há uma reação negativa por desconhecimento de como funciona a ciência, de quanto tempo leva e de quanto debate requer esse processo, observou Natasha. “Então, o objetivo da campanha é chamar a atenção para isso, para como se dá de fato o processo, como a ciência de certa forma é um processo democrático também, no qual muitas vozes cooperam para construir esses consensos que, às vezes, levam anos e décadas para serem estabelecidos.”

Ciência no dia a dia

Natasha enfatizou que a ciência precisa estar no debate público também como um retrato do processo que ela envolve, e não somente como a comunicação de resultados. “Do mesmo jeito que se  discute política todo dia, as pessoas deveriam, de alguma forma, discutir ciência todo dia”. A ideia é refletir sobre como a ciência está presente no dia a dia da população, independentemente de haver uma pandemia.

A iniciativa da campanha partiu da comunidade de divulgadores científicos dos campi do Serrapilheira, que não são vinculados formalmente ao instituto, embora já tenham participado dos processos seletivos deste e se reúnam em um fórum de debate. Cada uma dos divulgadores ativou seus contatos nas redes sociais para construir o movimento.

Do lado do Serrapilheira, em parceria com a agência Bori, veículos da imprensa e colunistas, foi feito o pedido para que o espaço das colunas de vários assuntos nos jornais, revistas e redes sociais fosse cedido para o debate sobre a ciência: “fosse na forma de ocupação mesmo da coluna por um cientista que não é o autor da coluna ou pelo próprio colunista escrevendo sobre o tema”.

A ação começou nesta quarta-feira e vai ser operada ao longo de todo o mês de julho. Até agora, mais de 20 colunistas confirmaram a cessão do espaço ou estão produzindo conteúdo sobre o processo científico. A mensagem da campanha é que ciência é um processo e, para chegar a resultados, precisa de tempo, investimento e diálogo.

Fundo de Desenvolvimento

O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), físico Luiz Davidovich, aproveitou o Dia Nacional da Ciência e conclamou todos os setores da sociedade brasileira a se juntarem às instituições que compõem a Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br), em defesa da recuperação econômica do país.

A campanha objetiva a liberação de R$ 4,6 bilhões que estão contingenciados e que compõem o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Os recursos são originários de impostos pagos por empresas para o desenvolvimento de pesquisa e inovação em suas respectivas áreas de atuação.

Em nota, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações informou que a gestão do FNDCT é atribuição da pasta e que o fundo é operado pela Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), vinculada à pasta.

"No combate à covid-19, a liberação do FNDCT vai contribuir para reduzir os impactos do problema," afirmou o ministro Marcos Pontes. "Esses recursos certamente vão ajudar na recuperação do país sendo gerenciados pelo MCTI."

A nota acrescenta que o ministério acompanha a tramitação do Projeto de Lei (PL) 3.610, de 2020, apresentado em 2 de julho pela deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), que dispõe sobre a autorização de transposição, remanejamento e transferência entre categorias do FNDCT, com o objetivo de aprimorar o uso do fundo.