Times do NBB miram retorno e buscam reforços em meio à pandemia
A chegada da pandemia do novo coronavírus (covid-19) paralisou o basquete masculino no Brasil em 15 de março, com a interrupção da temporada do Novo Basquete Brasil (NBB). Passados dois meses, ocorreram reuniões por videoconferência e até houve a elaboração de um protocolo de saúde para um eventual retorno. Mesmo assim, os clubes decidiram pelo cancelamento da edição 2019/2020 do campeonato nacional da modalidade. A expectativa é que a bola laranja volte a quicar em quadras país afora a partir deste mês de agosto, mesmo que em ritmo de treino. A retomada das atividades, porém, dependerá da liberação das autoridades de saúde, o que poderá variar bastante de estado para estado – e até de cidade para cidade.
A previsão da Liga Nacional de Basquete (LNB), responsável por promover o NBB, é que a edição 2020/2021, a 13ª da história da competição, comece no dia 14 de novembro, com rigorosos cuidados sanitários e sem torcida. "Teremos consequências diretas [da pandemia] não só na realização dos jogos, mas também na presença do público. Nas partidas, a dificuldade será atender a todos os protocolos necessários para preservar a segurança de jogadores, árbitros, mesários e comissões. Os deslocamentos terão que ser bem estudados. Todos entendem que será um ano de transição, um NBB de travessia em meio a uma dificuldade mundial", analisa Lula Ferreira, supervisor técnico do Sesi Franca, em entrevista à Agência Brasil.
A equipe é uma das que pretende iniciar os treinos em agosto. "Administrativamente, estamos preparados para reiniciar as atividades. A dependência ficará, exclusivamente, das autoridades de saúde. É algo que independente da nossa vontade. Vamos acompanhar as orientações e segui-las rigorosamente", garante Ferreira.
A cidade de Franca (SP), porém, situa-se numa região ainda considerada crítica pelo governo paulista quando o assunto é covid-19. Tanto que ainda está na chamada Fase Vermelha, a primeira - de um total de cinco - do Plano São Paulo, que flexibiliza a quarentena no estado. Isso significa que, no município apelidado de "Capital do Basquete", apenas serviços essenciais podem funcionar. Além dessa particularidade, no caso do Franca e dos times do estado de São Paulo que disputam o NBB, há pela frente o Campeonato Paulista, previsto para iniciar entre setembro e novembro. "Acredito que essa volta tenha que ter, no mínimo [uma pré-temporada], de 45 dias para mais. Creio que, ao menos, dois meses seja o ideal para que os atletas estejam inteiros para correr o menor risco de contusão", avalia o técnico francano Hélio Rubens Garcia Filho, o Helinho.
Campeão na temporada 2018/2019 diante do próprio Franca, o Flamengo é outro com a volta aos treinos prevista para este mês. Mas, ao contrário do rival paulista, o Rubro-Negro tem uma final continental pela frente antes do próximo NBB. Em março, o clube se garantiu na final da Champions League, a "Libertadores" do basquete masculino ao superar o Instituto, da Argentina. A equipe aguarda o ganhador do confronto entre os também argentinos Quimsa e San Lorenzo, cuja disputa está empatada, com uma vitória para cada lado.
A Federação Internacional da modalidade (Fiba) ainda não divulgou as datas para continuação do torneio, mas, a expectativa é que as partidas ocorram antes do novo NBB começar. "A Fiba, a princípio, trabalha com o retorno [da Champions] para outubro. O objetivo é sermos campeões e disputarmos o Mundial de Clubes. Empenhamos muitas forças em 2019/2020 e, por isso, antecipamos o planejamento para minimizar o tempo em que estivemos parados. Gosto de ressaltar que é difícil isso, estrear jogando uma decisão, mas é a mesma dificuldade que outras equipes terão", diz o gerente do basquete rubro-negro, Diego Jeleilate.
Primeiros movimentos
Até por isso, o Flamengo é justamente um dos times mais ativos no mercado de transferências que ainda está no começo. Além de renovar com o técnico Gustavo de Conti e com jogadores - como o ala Marquinhos, o armador Franco Balbi e o pivô Olivinha, destaques do grupo campeão do NBB em 2019 -, o Rubro-Negro investiu pesado na contratação de outros três jogadores: o armador Yago, revelação do Paulistano; o ala Chuzito González, que estava no Instituto, da Argentina; e o pivô Rafael Hettsheimeir, que estava no Franca.
"O nosso planejamento é de longo prazo, onde a gente sempre busca manter a excelência da equipe, uma ótima logística, um ótimo padrão de time para sempre buscar os títulos que disputamos. A pandemia fez com que a gente antecipasse alguns aspectos, e nos replanejamos para que possamos, a partir de agosto, retomar as competições com excelência e qualidade", explica Jeleilate.
Além de Hettsheimeir, os francanos perderam o pivô Cipolini e o ala-armador David Jackson. Por outro lado, renovaram com o ala Lucas Dias, o armador Elinho e o pivô Guilherme Hubner. Também trouxeram de volta ao time os alas André Goes e Danilo Fuzaro, que defendiam o Mogi das Cruzes. "As grandes conquistas do clube em meio à pandemia foram a renovação da parceria com o Sesi e a manutenção do patrocinador máster e de parceiros importantes. A gente sabe que é difícil para o torcedor entender que o time perderá jogadores. Fizemos todas as propostas possíveis, mas dentro de um orçamento, porque o clube precisa ter responsabilidade", argumenta Ferreira, dizendo que o elenco para 2020/2021 será completado por atletas formados na base.
Um dos grandes rivais do Franca, o Bauru, desistiu do último NBB alegando problemas financeiros, um mês após a paralisação do torneio, antes mesmo do cancelamento da competição. No começo de julho, o clube ainda perdeu o patrocinador máster, mas, três semanas depois, anunciou uma nova parceira (Zopone Engenharia), a manutenção do experiente ala Larry Taylor e o primeiro reforço: o armador Alexey, que estava no Mogi. Já nos últimos dias, o agora Zopone/Bauru confirmou duas contratações: o pivo Dikembe, ex-Paulistano e revelação da temporada passada, e do ídolo da torcida baruense, o ala Alex, campeão nacional em 2017, e eleito melhor jogador das finais.
Ninguém até agora, porém, mexeu-se tanto no mercado quanto a Unifacisa. A equipe de Campina Grande (PB), que iniciou o projeto no basquete há oito anos. O time debutou no NBB justamente na temporada encerrada precocemente. O clube anunciou sete reforços entre junho e julho: o ala-armador Betinho (ex-Pinheiros), os alas Felipe Vezaro (Corinthians) e Nehemias Morillo (São José), os alas-pivôs Vinícius Pastor (Rio Claro) e Rafa Oliveira (São José), o armador Arthur Pecos (Corinthians) e o pivô Paranhos (Mogi). A Unifacisa ainda confirmou a renovação do armador Nate Barnes, destaque do time paraibano na edição 2019/2020.
Apesar do barulho, o presidente da Unifacisa, Diego Gadelha, afirma que o orçamento para é 46% menor que na temporada anterior. "A equação fecha basicamente por alguns pontos. Tínhamos um plantel maior, cerca de 15 jogadores. Agora, vamos trabalhar com no máximo oito, nove jogadores, completando o treino com atletas do time universitário. A próxima edição será mais curta. Antes, eram 10 meses de contrato. Agora, seis meses e meio de duração, mais um mês e meio de temporada, dá oito meses de trabalho. O elenco é menor, mas, com jogadores qualificados e que confiam na credibilidade que adquirimos. Apesar da pandemia, mantivemos os contratos até junho e pagamos integralmente", explica.
Interrogações e ausência alvinegra
O prazo para negociação do direito associativo das equipes interessadas em participar do NBB termina em 14 de agosto. No dia 30 do mesmo mês, segundo nota publicada no site da liga, os clubes "precisarão oficializar suas participações no campeonato comprovando as documentações financeiras necessárias para a aprovação do Conselho, além da validação do Livro de Dívidas (referente à certidão de situação regular de valores contratuais dos atletas e comissão técnica da temporada anterior)".
Há times que ainda definem o planejamento da modalidade, em meio aos impactos da pandemia. O Mogi, por exemplo, trabalha atualmente com os jogadores das equipes sub-19 e sub-22, de forma remota, e negocia com apoiadores, entre novos e que já estavam com o clube na última edição. "Estamos lutando para renovar contratos, saindo à campo para viabilizar outras receitas e não ficarmos restritos só ao patrocínio máster, mas [oferecendo] plataformas de camisa e quadra, de mídia, outras alternativas para resolver. É um cenário duríssimo, mas, a gente tem que se atualizar, encarar de frente", afirma o gestor mogiano e presidente da LNB, Nilo Gonçalves.
O Pinheiros ainda estrutura o projeto da nova temporada, segundo informado pela assessoria de imprensa do clube à Agência Brasil. Na edição encerrada precocemente em maio, o time paulista chegou a dispensar os atletas antes de ser definida a continuidade ou não da competição, alegando o impacto financeiro da pandemia, mas, assegurando o pagamento dos salários até o fim dos contratos. Já o Minas Tênis Clube, por ora, anunciou oficialmente somente a renovação do técnico Léo Costa.
O Botafogo, porém, será principal ausência do próximo NBB. Em dificuldades financeiras, o clube decidiu encerrar o projeto do basquete. O término da equipe, que no ano passado se sagrou campeã da Liga Sul-Americana, segundo torneio mais importante do continente, foi confirmado à Agência Brasil pelo técnico Léo Figueiró. "Foi um projeto vitorioso, que conseguiu todos os objetivos. No meu modo de ver, tinha páginas na história a serem escritas. Infelizmente acabou, mas, fica o sentimento de dever cumprido, do orgulho do torcedor resgatado, da alegria no sorriso no torcedor. Acho que isso o basquete conseguiu concretizar, com muita maestria. A gente lamenta o ocorrido, mas, foge da nossa alçada a continuação ou não da equipe", lamenta o treinador.