Coluna – Temporada caminha para ter apenas dois clubes em evidência
Foi-se o tempo em que o futebol brasileiro tinha vários candidatos aos principais títulos nacionais da temporada. Mas também faz muito tempo que não víamos apenas duas equipes tão distantes das demais, sinalizando um fim de temporada polarizado entre elas (Atlético-MG e Flamengo). Para se ter uma ideia, nos últimos dez anos o campeão brasileiro só esteve uma única vez envolvido na final da Copa do Brasil: o Cruzeiro, de 2014, que ficou com o vice-campeonato da Copa. Aliás, ganhar as duas competições nacionais é algo raríssimo, que apenas o mesmo Cruzeiro, em 2003, conseguiu.
Mas esse ano a polarização promete acirrar uma rivalidade que já dura quatro décadas. Apesar de Atlético-MG e Flamengo se enfrentarem desde 1929, foi nos anos de 1980 que a disputa esquentou. Em uma temporada semelhante à atual, na qual atleticanos e rubro-negros tinham os times mais fortes do país. Não faltam jogos emocionantes desde então, a começar pela disputa do título brasileiro de 1980, com vitória do Flamengo no Maracanã por 3 a 2. Polêmica, então, nem se fala. Um exemplo é a decisão por uma vaga na fase semifinal da Copa Libertadores, na qual o Flamengo passou pelo Galo no famoso jogo em que o árbitro José Roberto Wright expulsou meio time mineiro e a partida nem chegou ao final.
Depois disso, em partidas decisivas, há equilíbrio, com uma eliminação para cada lado no Brasileiro (86 para o Atlético e 87 para o Flamengo) e o mesmo na Copa do Brasil (2006 para os rubro-negros e 2014 para os alvinegros). Diante disso tudo, como não esperar um fim de temporada emocionante, ao menos para os torcedores dessas equipes?
Pois é. Se para esses é bom, o que dizer dos demais? O curioso é que essa polarização nunca foi sequer cogitada, seja pela imprensa, por especialistas em negócios ou pelas torcidas. Há anos se fala em Flamengo e Corinthians, com o argumento de terem as cotas mais elevadas da TV, ou de Flamengo e Palmeiras, por conta de patrocinadores e de boas administrações. No entanto, se por um lado o Rubro-Negro carioca confirmou esse patamar, o Galo mineiro furou a fila graças ao apoio financeiro de investidores, que fizeram com que a dívida quase bilionária do clube não interferisse na montagem de um time de estrelas.
Na Copa do Brasil, cujos semifinalistas serão conhecidos neste meio de semana, o caminho para ambos se torna ainda mais tranquilo (ao menos antes de a bola rolar) porque o Palmeiras já está fora da disputa. No Brasileirão, o Verdão paulista também já deu sinais de não ter forças para buscar algo mais do que uma vaga no G4, visto que, no momento, já está a sete pontos do Atlético, após perder em casa, de virada, para o time misto do Flamengo.
Os demais ficam na expectativa de vagas nas Copas Libertadores e Sul-Americana. E essa lista prevista de G6 para a Libertadores certamente vai crescer, podendo ir a G9. Para quem está fora da disputa dos títulos, o melhor cenário seria uma taça para o Atlético, outra para o Flamengo e uma terceira para o Palmeiras. Sem esquecer o Bragantino, que pela Copa Sul-Americana pode aumentar ainda mais essas vagas via Brasileirão.
O Palmeiras tem uma missão dificílima, mas viável, de brilhar e quebrar essa hegemonia de cariocas e mineiros, na Libertadores, onde enfrenta o Atlético na semifinal e, muito provavelmente, o Flamengo na decisão. Já pensou bater logo os dois favoritos e queimar a língua dos críticos?
Eu visto a carapuça, sem dúvida alguma. Mas, ao mesmo tempo, tenho poucas dúvidas de que esse voo mais alto vai ficar entre o Galo e o Urubu. O Periquito não tem asas para isso.
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.