Policiais civis cobram política nacional de segurança com atos e paralisações
Policiais civis em várias unidades da Federação interromperam parte de suas atividades nas primeiras horas de hoje (21). Segundo a Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), entidade responsável pelo ato nacional que reúne policiais civis, federais e rodoviários federais, profissionais de ao menos 16 unidades aderiram à paralisação, que deve durar 24 horas. Logo mais, às 16h, representantes da categoria realizarão marcha pela Esplanada dos Ministérios.
De acordo com a Cobrapol, a mobilização nacional conjunta foi a forma encontrada para cobrar do governo uma política nacional de segurança pública. Em seu site, a entidade afirma que Alagoas, Amazonas, Bahia, Brasília, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins estão participando da paralisação. No entanto, ao entrar em contato com entidades locais, a Agência Brasil foi informada de que, em vários estados, a categoria não paralisou os serviços, optando por fazer atos de apoio à mobilização nacional.
O Rio de Janeiro é um dos estados onde os policiais cruzaram os braços. Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro (Sinpol), Fernando Bandeira, 60% do efetivo aderiram à paralisação. Já a chefia de Polícia Civil garantiu que está monitorando o funcionamento de todas as delegacias do estado, a fim de adotar medidas necessárias para o bom atendimento à população. Entre as reivindicações da categoria estão o reajuste de 100% do tíquete-alimentação e do vale-transporte, a criação de um plano de cargos e salários e a incorporação das gratificações. Ontem (20), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão disse que o pleito dos policiais fluminenses é justo e que o salário que recebem não é o ideal, mas que, ao longo de sete anos, o governo concedeu mais de 120% de aumento aos policiais e que está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já em Alagoas, os policiais optaram por manter os serviços integralmente. O Sindpol local convocou a categoria para um ato pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 51/2013, que trata, entre outras coisas, da implantação da carreira única e da desmilitarização da Polícia Militar. De acordo com o vice-presidente do sindicato, José Edeilto Gomes dos Santos, embora a categoria não tenha paralisado as atividades, “um bom número” de policiais” participou do ato conjunto com a Polícia Federal, em Maceió.
O coordenador de comunicação da Polícia Civil, Amarildo Albuquerque, garantiu à reportagem da Agência Brasil que o movimento não prejudicou o atendimento à população e que os serviços estão funcionando normalmente em todo o estado.
No Amazonas, a categoria também optou por não aderir à paralisação, mas manifestou apoio à mobilização nacional em reunião de um grupo de policiais. “Temos uma negociação já em andamento e, desde segunda-feira [19], estamos nos reunindo com representantes do governo estadual. Por isso, optamos por não fazer uma paralisação e orientamos a todos que estão de serviço a comparecer normalmente ao trabalho, para não atrapalhar as negociações”, comentou o diretor financeiro do Sinpol, Fredson Bernardo da Silva, que informou que ao menos cem policiais civis participam do ato, no centro de Manaus. “Apoiamos o movimento pela valorização da segurança pública em todo o país”, disse.
Na Bahia, o Sindpoc anunciou que, das 8h à mesma hora de amanhã (22), apenas o mínimo de 30% do efetivo de serviço estará a postos para atender a casos de prisões em flagrantes e crimes contra a criança e a vida. Segundo o presidente da entidade, Marcos de Oliveira Maurício, ao menos 65% da categoria estão parados.
Até o momento, não foram registrados transtornos. A Polícia Civil da Bahia informou não ter recebido reclamações sobre o atendimento, mas ainda não tem um balanço sobre o movimento. A corporação está orientando os cidadãos a, se necessário, procurar os delegados responsáveis pelas delegacias ou a registrar ocorrências na delegacia virtual.
No Distrito Federal, a categoria aprovou a paralisação entre as 8h e a meia-noite de hoje, durante assembleia realizada ontem. Vice-presidente do Sinpol, Renato Rincón afirmou que a adesão à paralisação "é maciça" e que apenas casos de homicídios, latrocínios, estupros, remoção de cadáveres e outras ocorrências emergenciais devem ser atendidas. A Secretaria de Segurança Pública confirmou que as vítimas de crimes de menor potencial ofensivo não estão sendo atendidas nas delegacias, mas garantiu que todas as ocorrências graves serão registradas e atendidas normalmente. O sindicato convocou a categoria a comparecer à marcha desta tarde.
No Espírito Santo, a paralisação de 24 horas foi aprovada durante uma assembleia realizada na manhã de hoje. Segundo o Sindipol, os policiais que aderirem ao movimento vão permanecer em suas unidades, mas trabalhando apenas em emergências, flagrantes e recolhimento de corpos. Os policiais capixabas cobram melhores condições de trabalho e a exigência de nível superior para ingresso na corporação. Em todo o estado, o atendimento nas delegacias e departamentos acontece normalmente. A secretaria informou ainda não ter um balanço sobre a adesão ao movimento.
Em Santa Catarina, segundo o Sinpol, serviços foram interrompidos no interior do estado, onde a adesão da categoria à mobilização foi mais significativa. Já na capital, Florianópolis, devido à baixa adesão, o sindicato optou por fazer um ato de esclarecimento à população. No interior, a orientação sindical é que os policiais atendam apenas a emergências e ordens judiciais. Procurada, a assessoria da Polícia Civil informou que, "em todo o estado, não houve paralisação".
No Pará, o sindicato que reúne servidores públicos da Polícia Civil chegou a anunciar a adesão da categoria à mobilização nacional, mas, segundo a imprensa local, os policiais fizeram um ato em Belém e agendaram uma assembleia para o próximo dia a fim de discutir uma provável paralisação. A Agência Brasil não conseguiu conversar com nenhum representante do sindicato ou da Polícia Civil do Pará.