Agricultores cearenses marcham em Fortaleza por melhores condições para o campo

Publicado em 20/05/2015 - 17:53 Por Edwirges Nogueira - Correspondente da Agência Brasil/EBC - Fortaleza

Segurança hídrica, acesso à assistência técnica rural e outras políticas de convivência com a seca pautaram a marcha de agricultores cearenses em Fortaleza na manhã de hoje (20), como parte da programação nacional do 21º Grito da Terra Brasil.

Segundo a Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece), cerca de 5 mil pessoas de municípios do interior viajaram à capital e marcharam no percurso de aproximadamente 4 quilômetros (km) entre o centro da cidade e sede da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado. Depois, eles ocuparam a entrada do edifício.

O agricultor Luís das Chagas do Vale, de 54 anos, veio de Irauçuba, a 154km da capital. Ele vive no assentamento Saco Verde e fez um relato das dificuldades dos agricultores neste quarto ano de seca. “Começaram umas chuvas de forma regular, mas elas acabaram na época de segurar a safra. O feijão estava ramado, no ponto de florar. Os roçados não vingaram, e estamos sem esperança porque a chuva não voltou e, da maneira como está, não vai voltar mais e vamos perder tudo o que plantamos.”

O secretário de Política Agrícola da Fetraece, José Francisco de Almeida Carneiro, estima que a agricultura terá perdas acima de 50% este ano devido ao agravamento da seca. Segundo ele, esse contexto é o diferencial desta edição do Grito da Terra no Ceará. “Defendemos um amplo projeto de convivência com o Semiárido, com distribuição de água de forma equitativa, universalização do acesso à água por meio da construção de cisternas de placa e outras ações.”

Sobre o Plano Estadual de Convivência com a Seca, lançado pelo governo do estado no fim de fevereiro, o secretário disse que acredita nas ações elencadas no documento e que espera que as medidas sejam de fato implementadas.

“Não adianta discutir sucessão rural enquanto essas políticas não forem efetivadas. Reiteramos para os órgãos do governo que não temos nenhum interesse de vir para as cidades. Se não tiver política pública, o campo vai se esvaziar, e não é isso o que queremos”, acrescentou José Francisco Carneiro.

A assistência técnica rural é outra reivindicação dos participantes do Grito da Terra no estado e, de acordo com o secretário, é “uma luta constante”. Ele ressaltou a importância da agricultura familiar na produção de alimentos. “Somos responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à casa das pessoas. No entanto, a assistência técnica ainda é deficitária. Quem estuda a ciência do campo precisa voltar sua sabedoria e inteligência para a agricultura familiar.”

Em reunião com representantes da Fetraece, na segunda-feira (18), em que foi debatida a pauta do Grito da Terra, a Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Ceará informou que vai começar a contratar este mês empresas para prestar assistência técnica rural a cerca de 10,3 mil famílias assentadas.

Além disso, o instituto renovou em abril contrato com prestadores do serviço, que beneficiará 3.644 famílias em assentamentos rurais pelo segundo ano consecutivo. De acordo com o superintendente Roberto Gomes, até o segundo semestre deste ano, será possível universalizar esse apoio para as 21,5 mil famílias assentadas no Ceará.

“É unânime tanto da parte das empresas, mas, principalmente, da parte dos assentados a avaliação positiva do trabalho de assistência técnica. Foram implantadas novas técnicas e houve um reforço do perfil agroecológico e a interação dos assentados com as demais políticas públicas municipais e estaduais”, destacou Roberto Gomes.

Após reunião com representantes da Fetraece, o governo do estado anunciou investimentos de R$ 5,3 milhões para a regularização fundiária e para apoio à agricultura familiar, além da celebração de um convênio com a federação no valor de R$ 43 milhões para o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro obrigatório que auxilia no processo de regularização de imóveis rurais. O governo também se comprometeu a perfurar 356 poços para garantir água às populações do campo.

Edição: Jorge Wamburg

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