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Presidente licenciado da Eletronuclear recebeu R$ 4,5 milhões de propina, diz PF

Ivan Richard - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 28/07/2015 - 11:12
 - Atualizado em 28/07/2015 - 18:20
Brasília
Othon Luiz - Eletronuclear
© Marcello Casal/Arquivo/Agência Brasil

Alvo da 16ª fase da Operação Lava Jato, o diretor-presidente licenciado da Eletronuclear e vice-almirante da Marinha Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso hoje (28) pela Polícia Federal (PF), recebeu cerca de R$ 4,5 milhões de propina do consórcio vencedor da licitação para a montagem da Usina Nuclear Angra 3, segundo o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal. 

De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, o consórcio formado pela empresas Camargo Corrêa, UTC, Andrade Gutierrez, Odebrecht, EBE e Queiroz Galvão repassava recursos para empresas intermediárias, que repassavam a propina para Othon Luiz Pinheiro da Silva.

Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, que integra a força-tarefa, o repasse de recurso ao então diretor-presidente da Eletronuclear ocorreu até dezembro do ano passado, nove meses depois de deflagrada a Lava Jato e após a prisão de vários empreiteiros.

“Há indícios de pagamento de propina por parte da Andrade Gutierrez em contratos desde 2009 para uma empresa de propriedade de Othon Luiz. Os elementos indicam que Othon Luiz recebeu R$ 4,5 milhões”, disse. “A corrupção no Brasil é endêmica e está espalhada por vários órgãos, em metástase”, acrescentou o procurador, comparando a corrupção ao momento em que o câncer se espalha por vários órgãos do corpo.

A 16ª fase da Lava Jato, batizada de Radioatividade, foi desencadeada a partir do depoimento do executivo da Camargo Corrêa Dalton Avancini, que assinou acordo de delação premiada com a Justiça Federal. Na delação, ele revelou a existência de um cartel nas contratações de obras da Angra 3 e chegou a citar Othon Luiz Silva como beneficiário de propinas.

Na ocasião, Silva negou ter participado ou conhecimento de qualquer irregularidade. Em nota à época, ele afirmou que jamais recebeu propina e que vive de sua aposentadoria da Marinha e de seus vencimentos como presidente da Eletronuclear. Ele se afastou do cargo em 29 de abril, após ser citado na Lava Jato.

“A palavra do colaborador não leva à prisão, mesmo que temporária. Fizemos o nosso trabalho e levantamos as confirmações”, explicou o procurador.

Também foi preso o presidente global da AG Energia, Flávio Barra, subsidiária da Andrade Gutierrez. Os presos temporários serão levados hoje para Curitiba, onde se concentram os processos da Lava Jato. De acordo com a PF, a previsão é que cheguem à capital paranaense por volta das 20h e já prestem depoimento amanhã (29).

Outro lado

Em nota divulgada hoje,  a Andrade Gutierrez informou que está acompanhando a 16ª fase da operação e destacou “que sempre esteve à disposição da Justiça”. Os advogados da empresa estão analisando a ação da PF para se pronunciar. A Eletronuclear informou que vai se pronunciar em nota sobre o caso.

Também por meio de nota, a Odebretch classificou de "injustificáveis" as medidas adotadas pelas autoridades na 16ª fase da Lava Jato. A empresa informou que todos os seus executivos sempre estiveram à disposição dos responsáveis pela investigação para fornecer os esclarecimentos e documentos necessários. "A CNO [Construtora Norberto Odebretch] reafirma que nunca participou de oferecimento ou pagamento de propina em contratos com qualquer cliente público ou privado, o que obviamente inclui a Eletronuclear, portanto não reconhece como verdadeiras as afirmações de delator premiado que, visando obter a sua liberdade, em razão de prisão preventiva, não tem qualquer compromisso com a verdade", diz o comunicado.

Procurada pela Agência Brasil, a UTC disse, por meio da assessoria de imprensa, que não comenta investigações em andamento.

*Matéria alterada às 18h20 para acréscimo de informações