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Racionamento faz pernambucanos acumularem água, o que dificulta combate ao Aedes

Sumaia Villela – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 13/02/2016 - 16:53
Recife
Militares e agentes de saúde procuram focos do mosquito Aedes aegypti na comunidade do Coque, no bairro Joana Bezerra, região periférica da capital pernambucana
© Imagem de divulgação/Sesau Recife
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome reforçou as ações de combate contra o Aedes aegypti em Recife

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome reforçou as ações de combate contra o Aedes aegypti em RecifeImagem de divulgação/Sesau Recife

Campeão de notificações dos casos de microcefalia, com mais de 1,5 mil registros, Pernambuco foi o estado que recebeu o maior número de militares na Região Nordeste: mais de 7,7 mil pessoas. São quase 5,5 mil homens e mulheres atuando somente em Recife. Eles se unem a agentes de vigilância ambiental para conscientizar a população sobre o combate a focos de reprodução do mosquito transmissor da dengue, do vírus Zika e da febre chikungunya, o Aedes aegypti.

Além de entregar panfletos em casas e estabelecimentos comerciais em áreas urbanas de 31 municípios do estado, os militares também atuaram na região agreste de Pernambuco. Os transportadores de água, que usam os caminhões-pipa para abastecer cidades atingidas pela seca, receberam atenção especial. Na capital pernambucana, Recife, áreas de risco contaram com visitas individuais e coleta de larvas do inseto.

Uma das localidades visitadas foi a comunidade do Coque, no bairro Joana Bezerra, uma região periférica da capital pernambucana. Como em outros locais do Recife, os moradores ficam sem água durante dias, o que os obriga a estocar água. “Vivemos um racionamento histórico, então as pessoas não tem escolha. E isso cria focos do mosquito”, explica a coordenadora de Vigilância Ambiental da cidade, Vânia Nunes.

Apesar dos cuidados da moradora Maria de Lurdes para evitar focos do mosquito, a mãe dela teve dengue no final do ano passado

Apesar dos cuidados da moradora Maria de Lurdes para evitar focos do mosquito, a mãe dela teve dengue no final do ano passado Imagem de divulgação/Sesau Recife

A pescadora Maria de Lurdes da Silva, de 48 anos, abriu a porta de sua casa para receber os militares. A mãe dela teve dengue há cerca de um mês. Maria Lurdes afirmou que toma todos os cuidados para não criar focos de reprodução do mosquito, mas por causa da falta de abastecimento de água, toda a preocupação foi insuficiente.

“Dentro da minha casa está tudo bem, mas nunca imaginava que na frente da minha casa tinha um foco. Um buraco que a gente cavou pra pegar água – que aqui a água é bem difícil mesmo, falta de seis a oito dias. Todo dia eu limpo o buraco, mas quando foi hoje tinha um foco dentro. Mas agora minha vigilância vai ser redobrada, não vai ser só dentro de casa não, vai ser na rua também”, promete a pescadora.

Saneamento e abastecimento

A coordenadora Vânia argumenta que é preciso melhorar a infraestrutura em comunidades como a do Coque, com coleta de lixo e abastecimento de água, mas faz um apelo para que as pessoas adotem cuidados mesmo diante das dificuldades: “a gente chega em várias casas e o depósito para armazenar água é uma garrafa PET. Então a garrafa tem que ter tampa. Se eu preciso acumular água em um balde eu tenho que improvisar uma tampa. Então pega um plástico, um tecido, uma lona e passa um cordão, qualquer coisa. Mas tem que acumular água com segurança”.

Vânia Nunes explica ainda que as grandes instituições, como empresas e órgãos públicos, também precisam colaborar no combate ao mosquito, fiscalizando seus meios de produção e instalações em busca de água parada. A coordenadora também defende que, para combater o Aedes aegypti de forma eficiente, é preciso criar uma lei que aplique uma sanção, uma penalidade, caso alguém se negue a abrir a casa para a fiscalização dos agentes.

A ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, participou das atividades em Pernambuco e esteve na comunidade do Coque. Ela defendeu que os municípios se empenhem em melhorar serviços públicos para combater o mosquito. “É muito importante que a gente melhore a situação do saneamento no Brasil, de coleta de lixo, para não ter lixo na rua. Às vezes um saco plástico que está acumulando água é um criadouro do mosquito. Então as prefeituras, principalmente nesse momento, tem de estar se dedicando a uma coleta muito mais cuidadosa, mas sempre lembrando que dois terços dos criadouros estão nas residências”, alertou.

Militares e agentes de saúde procuram focos do mosquito Aedes aegypti na comunidade do Coque, no bairro Joana Bezerra, região periférica da capital pernambucana

Militares e agentes de saúde procuram focos do mosquito Aedes aegypti na comunidade do Coque, no bairro Joana Bezerra, região periférica da capital pernambucanaImagem de divulgação/Sesau Recife

Para a ministra, a população está mais consciente dos riscos de acumular água parada: “em todas as casas que visitamos as pessoas não tinham água em vasos. Já é um efeito das informações”. A ministra lembrou, no entanto, que uma só residência pode acabar com todo o trabalho de prevenção de toda uma comunidade. “Visitamos um comércio com a caixa d'água destampada. Toda a vizinhança se mobilizando e uma caixa pode ser o foco de proliferação de milhares de mosquitos. Então todo mundo tem que se somar”.

Auxílio para microcéfalos

Tereza Campello também falou sobre o auxílio financeiro que o governo federal concede a pessoas com deficiência e afirmou que o governo está "se organizando" para apoiar as famílias cujos bebês nasceram com microcefalia, malformação congênita que a comunidade científica relaciona com infeção pelo vírus zika durante a gestação. "[O auxílio] Está previsto na legislação. A constituição federal criou o Benefício de Prestação Continuada, que dá direito a um salário mínimo para crianças com deficiência, pessoas com deficiência que não possam trabalhar e idosos, desde que a renda familiar por pessoa seja menor que um quarto de salário mínimo”, explica.