Organização criminosa desviou cerca de R$ 48 milhões da Eletronuclear
Dez pessoas foram presas hoje (6) na Operação Pripyat, que desarticulou uma organização criminosa que desviou dos cofres públicos cerca de R$ 48 milhões por meio de lavagem de dinheiro e fraudes licitatórias decorrentes de contratos da Eletronuclear entre 2008 e 2014. Ao todo, seis funcionários da Eletronuclear, empresa subsidiária da Eletrobras, foram presos preventivamente. Eles foram encaminhados para o sistema prisional e serão ouvidos ao longo da semana.
Dentre os presos está o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro, que já cumpria prisão domiciliar. Ele recebeu aproximadamente R$ 12 milhões, de acordo com as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que apontam que os funcionários presos e um clube de empreiteiras atuavam para desviar recursos da Eletronuclear, principalmente os destinados às obras da Usina Nuclear de Angra 3.
O procurador da República Lauro Coelho Junior explicou que os presos preventivos eram altos funcionários que faziam parte do núcleo operacional financeiro da organização criminosa. “Somente pela construção da Usina de Angra 3, a Andrade Gutierrez recebeu da Eletronuclear R$1,202 bilhão. Cerca de 2% iam para o núcleo político da organização, 1% para Othon Luiz e 1,5% para os diretores que foram presos hoje”.
O presidente da estatal, Pedro José Diniz Figueredo, foi afastado devido à suspeita de que ele favoreceu Pinheiro e interferiu no andamento das investigações internas conduzidas pela Comissão Independente de Investigação instituída pela Eletrobras.
A operação envolveu 130 agentes federais no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Também foram cumpridos três mandados de prisão temporária e nove de condução coercitiva, além de 26 mandados de busca e apreensão.
Também foram presos preventivamente os diretores afastados da estatal Luis Antonio de Amorim Soares, José Eduardo Brayner Costa Mattos, Edno Negrini, Persio José Gomes Jordani e dos superintendentes afastados Luiz Manuel Amaral Messias e José Eduardo Brayner Costa Mattos. O empresário Adir Assad, preso pela Operação Saqueador, também teve mandado de prisão preventiva, acusado de lavar dinheiro para a Andrade Gutierrez no esquema com a Eletrobras .
Empresas envolvidas
Os presos temporários são pessoas ligadas às empreiteiras Flexsystem, WW Refrigeração, Eval – Empresa de Viação Angrense, Legend, SP Terraplanagem e JSM Engenharia. Essas empresas intermediaram o repasse de propina paga pela empresa Andrade Gutierrez, investigada na Operação Lava Jato.
As investigações começaram com a apuração do conteúdo de quebras de sigilo bancário e fiscal da empresa Flexsystem, cujo endereço registrado é uma residência no Joá, bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro.
Desdobramentos da Lava Jato
A Operação Pripyat é desdobramento no Rio de Janeiro da 16º fase da Operação Lava Jato, denominada Radioatividade. As suspeitas em relação a Andrade Gutierrez foram confirmadas pelas colaborações premiadas dos ex-executivos Rogério Nora, Clóvis Primo, Flávio Barra e Gustavo Botelho, que revelaram o pagamento de propina para os funcionários da Eletrobras.
O procurador chamou de audácia da organização criminosa, que mesmo depois de ser alvo da Operação Radiotividade, continua a influenciar a Eletronuclear e atrapalhar a elucidação do esquema.
A Andrade Gutierrez informou que não se pronunciará sobre o caso.
A Eletronuclear, em comunicado ao mercado, disse que tomou conhecimento pela imprensa "de suposta operação da Polícia Federal, iniciada na manhã de hoje, envolvendo o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva e outros. A Companhia está verificando o episódio noticiado pela imprensa e manterá o mercado informado".
A Eval – Empresa de Viação Angrense não quis se pronunciar. A JSM Engenharia informou que não tem nenhum contrato de licitação com a Eletronuclear e que provavelmente houve erro de digitação na sigla. Os contatos disponíveis na internet das empresas Flexsystem Engenharia, VW Refrigeração, SP Terraplanagem e Legend estão desatualizados.
O advogado do empresário Adir Assad, Miguel Pereira Neto, informou que só se pronunciará depois de ter acesso aos autos do processo.
As defesas dos demais presos não foram encontradas até a publicação do texto.