Médicos e profissionais de enfermagem realizam ato público pelo fim da violência

Publicado em 15/03/2017 - 16:37 Por Ludmilla Souza - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

São Paulo - Manifestação de profissionais de Saúde em defesa da paz, após divulgação de pesquisa feita pelos Conselhos Regional de Enfermagem e de Médicos do estado de São Paulo, que indicam altos índices de

Profissionais da saúde pedem em São Paulo fim da violência no ambiente de trabalho Rovena Rosa/Agência Brasil

Médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem fizeram uma passeata na manhã de hoje (15) em defesa da paz e distribuíram rosas aos pacientes nas imediações do Complexo Hospital das Clínicas. Houve também revoada de balões brancos na passeata, que faz parte da campanha do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) pelo fim da violência contra profissionais de saúde.

O Cremesp e o Coren-SP apresentaram uma pesquisa inédita sobre violência contra médicos e profissionais de enfermagem nas unidades de saúde. De acordo com o estudo, 59,7% dos médicos e 54,7% dos profissionais de enfermagem sofreram, mais de uma vez, situações de violência no trabalho. Os resultados foram anunciados durante o Encontro das Comissões de Ética de Medicina e de Enfermagem no Centro de Convenções Rebouças.

Após o encontro, médicos e profissionais de enfermagem seguiram em passeata para reforçar a campanha Violência Não Resolve, lançada nesta manhã, com o intuito de conscientizar a população sobre o problema, mostrando que respeito e harmonia, além de essenciais, contribuem para a melhoria da assistência.

A presidente do Coren-SP, Fabíola de Campos Braga Mattozinho, espera que a campanha sensibilize o público. “Muitas vezes o paciente está em situação de fragilidade, chega a uma unidade de saúde e depara com a falta de profissionais e medicamentos e isso, obviamente, gera uma insatisfação no paciente, que se volta contra a pessoa que está trabalhando, em sua maioria profissionais de enfermagem.”

Segundo Fabíola, a pesquisa vai ajudar a implantar medidas para minimizar tais situações. “[Com a pesquisa] damos voz a esses profissionais para que consigamos identificar as situações e assim criar um fluxo de melhor atendimento, além de implementar medidas para a redução dessa violência.”

Denúncias

O primeiro-secretário do Cremesp, Braúlio Luna Filho, espera que a campanha chegue a todos. “Precisamos que a população entenda que o mau atendimento, a longa espera, a falta de exame, um medicamento indisponível, não é culpa do médico ou do enfermeiro, existe uma estrutura que impede isso.”

“Infelizmente tem uma minoria que se desespera, que chega a um local em que não o atendem bem e parte para a agressão. Geralmente, é violência verbal, mas, às vezes, chega-se a situações de agressão física”, acrescentou Luna.

Ele lembrou que, muitas vezes, o médico agredido não quer voltar a trabalhar naquele local e que os governos têm dificuldade de contratar médicos, problema que se multiplica quando há casos de violência. “Queremos que a população entenda que o profissional de saúde é aliado dela. Temos que lutar por mais recursos na saúde e melhores condições de atendimento da população. Este é o nosso intuito.”

Luna disse que lamenta o falto de a maior parte dos casos de violência não ser denunciada, já que os profissionais não acreditam que o problema possa ser resolvido. Além disso, ele defende a criação de uma delegacia especializada. “Queremos que a Secretaria de Saúde crie um mecanismo mais seguro, como uma delegacia especializada nesse tipo de assunto. Talvez isso ajude os médicos a denunciar de maneira mais competente e, quem sabe, sensibilizar os órgãos públicos a tomar uma conduta para resolver esse problema que desestrutura o sistema de saúde."

Apoio

O ajudante de serviços gerais Robson Farias, que estava aguardando atendimento no Hospital das Clínicas, aprovou o ato. “É bom que a população veja como a gente passa dificuldades e eles [profissionais de saúde] também passam, ninguém pode agredir os enfermeiros e médicos.”

O pedreiro Josias Ferreira da Silva, que também estava no hospital, considera importante a conscientização. “Deveria ter um jeito de acabar com essa violência, eles têm que cuidar bem dos pacientes, mas, em quase todos os hospitais, somos mal atendidos. A situação da saúde está difícil no Brasil.”

Para a enfermeira Simone Gomide dos Santos, a campanha é uma forma de sensibilizar tanto profissionais de saúde quanto pacientes. “Muitas vezes, não há macas, medicações, nem condições de trabalhar. Enfim, não temos formas dignas de trabalho, e isso também é uma violência contra o profissional, que gera um efeito dominó.”

Para Simone, a falta de notificações de agressões sofridas pelos profissionais de saúde aumenta o problema. “Não temos números que reforcem a necessidade de uma política pública para termos mais segurança no trabalho. Por isso, essa ação é importante para as categorias.”

Edição: Lílian Beraldo

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