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Verba da Faperj ampliará testes para coronavírus na UFRJ

Com os recursos será possível ampliar testes para 450 amostras/dia
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 25/03/2020 - 20:19
Rio de Janeiro
Diagnóstico laboratorial de casos suspeitos do novo coronavírus (2019-nCoV), realizado pelo Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como Centro de Referência Nacional em Vírus
© Divulgação/Josué Damacena (IOC/Fiocruz)

A Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) concedeu, em forma de auxílio financeiro, verba de R$ 900 mil ao Laboratório de Virologia Molecular, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LVM-UFRJ), para pesquisas científicas relacionadas ao novo coronavírus. A Faperj é vinculada à Secretaria Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. Os recursos serão liberados até a próxima sexta-feira (27), disse hoje (25) à Agência Brasil o presidente da Faperj, Jerson Lima Silva. A transferência para o LVM foi autorizada por todas as instâncias, assegurou Silva.

O coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, professor Amilcar Tanure, disse à Agência Brasil que os testes para a covid-19 estão sendo feitos desde o dia 1º deste mês, quando eram efetuadas 30 amostras por dia, com o atendimento limitado à comunidade da universidade, no campus do Fundão, na Ilha do Governador, zona norte da cidade. Hoje, esse número evoluiu para 150 amostras/dia.

“O recurso da Faperj veio apoiar o laboratório de coronavírus da UFRJ para poder fazer o diagnóstico de toda a comunidade da universidade, na questão dos profissionais da saúde, dos pacientes graves que estão chegando e também dos alunos que moram no alojamento. Com esse aporte da Faperj, nós vamos passar para 450 amostras/dia. Para isso, vai ser superimportante esse aporte de ajuda”, comentou. Isso vai ajudar também a desafogar o Laboratório Central Noel Nutels (LACEN-RJ), que está atestando os diagnósticos no Rio de Janeiro.

Pesquisas científicas

Amilcar Tanure explicou que muitos hospitais do Rio de Janeiro que estavam sem testes no começo da epidemia começaram a utilizar também o laboratório, incluindo hospitais do município do Rio, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Instituto Nacional de Cardiologia, o Hospital Universitário Antonio Pedro, entre outros. “Então, a gente começou a nuclear vários testes e, obviamente, quando a gente começa a fazer um diagnóstico do coronavírus, abre espaço também para fazer as pesquisas científicas, como, por exemplo, saber a história natural da doença no Brasil, como ela se apresenta”. Os pesquisadores da UFRJ observaram que a febre, em muitos casos, não era um sintoma muito frequente. “A gente começou a entender um pouco mais da infecção”.

Outra coisa que os pesquisadores fizeram foi abrir uma triagem, ou seja, que pessoas passem no laboratório, façam entrevista, escolham a amostra e façam o diagnóstico. No entanto essa triagem tem atendido basicamente o pessoal da própria universidade. “A gente achou bem interessante porque, com essa triagem, podemos fazer novos testes rápidos que estão chegando, porque pode fazer avaliações. Em se colocando o diagnóstico, a gente abre espaço para fazer várias coisas”.

Os recursos da Faperj vão viabilizar ainda outros estudos. Um deles é o estudo de avaliação do teste rápido e, também, um estudo da variabilidade genética do vírus, que Amilcar Tanure considera importantíssimo. Em parceria com outros pesquisadores do estado, o LVM da UFRJ sequenciou 19 genes do vírus no Brasil inteiro, incluindo vários do Rio de Janeiro que foram diagnosticados no laboratório. “Você começa a abrir espaço para outras coisas. Nós conseguimos isolar já dois vírus do Rio de Janeiro. Isso pode ajudar a gente em pesquisas de drogas e outras coisas”.

Com o recurso da Faperj, ganharão agilidade ainda as pesquisas que vêm sendo feitas pelo LVM e pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), outra unidade da UFRJ, com o objetivo de desenvolver um teste brasileiro de sorologia para que o país não precise mais importar.

Chamada emergencial

Amanhã (26), a Faperj estará lançando uma chamada geral pública emergencial para projetos que visem combater os efeitos do coronavírus, totalizando valor de até R$ 30 milhões. Nesse caso, em razão da importância das pesquisas envolvendo a covid-19, o presidente da Faperj, Jerson Lima Silva, afirmou que a aprovação dos projetos será ágil e não seguirá o cronograma normal de um edital da entidade, que inclui várias etapas. “Nesse caso, a gente tem sempre que considerar que está atrasado”. Se pesquisas desse tipo tivessem sido feitas uma semana antes, o presidente da Faperj acredita que “provavelmente, teria diminuído o número de pessoas infectadas, teria diminuído o número de mortes”.

O edital emergencial tem três sub-chamadas. Os projetos podem ser nas áreas de diagnóstico, sequenciamento, psicologia, entre outras. “Sempre com foco principal no curto e médio prazos”. Serão autorizados tanto projetos que já estejam em andamento e que possam alterar um pouco a linha de pesquisa para incluir a questão do coronavírus, como projetos novos”. Jerson Lima Silva destacou que a crise do novo coronavírus envolve uma quantidade enorme de cientistas em todo o Brasil atuando, financiados com recursos públicos, o que reforça a importância do investimento na ciência.

Destacou que além da população sujeita ao vírus, os cientistas e pesquisadores estão enfrentando a covid-19 diariamente. “A ciência está no front, principalmente quem trabalha nessa área”, manifestou Silva. “A gente está colocando todo o conhecimento, o saber da ciência no Rio de Janeiro e em outros estados para esse objetivo”.

Contribuição

Amilcar Tanure afirmou que nesse edital emergencial da Faperj vão aparecer outros cientistas que darão contribuições no combate à epidemia do coronavírus. “É isso que a gente está precisando fazer, porque o problema é muito sério, [são] muitos óbitos, vai começar a aumentar isso e a gente tem que começar a entender como esse vírus está se disseminando e como a gente pode parar ele também”.

Em conjunto com a professora Leda Castilho, da Coppe, o LVM está buscando desenvolver um teste rápido nacional que ajude a fazer diagnósticos epidemiológicos com mais velocidade. Tanure disse que o teste rápido na escala de produção que o Brasil precisa ainda terá de ser importado da Ásia. Mesmo assim, é importante saber a avaliação dos testes na população brasileira, “saber se esse teste importado é sensível, é específico. Tudo isso é importante”.

Amilcar Tanure fez um apelo para que todas as agências de fomento de pesquisa do país façam como a Faperj, “para entrar no esforço de cabeça”, e doem recursos para as pesquisas referentes ao coronavírus. “A gente está precisando dessa ajuda. Caso contrário, até chegar a ajuda, a epidemia já passou. Essa é a nossa preocupação”, concluiu.