Visitantes conhecem terror sofrido pelos que tentavam cruzar o Muro de Berlim

Publicado em 09/11/2014 - 12:31 Por Giselle Garcia - Enviada Especial da Agência Brasil/EBC - Berlim

A última das 17 prisões comandadas pela Stasi, a polícia secreta da República Democrática da Alemanha, permanece com as instalações preservadas na região leste de Berlim. Na celebração dos 25 anos da queda do muro que dividiu a cidade nos anos de guerra fria, o lugar, que recebeu 385 mil visitantes em 2013, é uma das principais atrações de turistas que querem conhecer os horrores vividos pelos prisioneiros políticos do regime comunista.

A última das 17 prisões comandadas pela polícia secreta da República Democrática Alemã permanece aberta a visitantes_Giselle Garcia

A última das 17 prisões comandadas pela polícia secreta da antiga República Democrática da Alemanha permanece aberta a visitantesGiselle Garcia

Nossa reportagem embarcou em uma das visitas guiadas. Na parte externa, muros altos, arame farpado e bases de vigilância deixam claro que se trata de uma prisão. Mas nosso guia garante que, à época, não era possível ter acesso visual ao prédio e ninguém sabia o que estava acontecendo ali. “Esses eram locais secretos. O encarceramento e a tortura existiam, as pessoas tinham uma ideia disso, mas ninguém sabia exatamente para onde essas pessoas eram levadas”, conta ele.

A área, que originalmente abrigava uma cozinha industrial, foi tomada pelos soviéticos em 1945, logo após o fim da 2ª Guerra Mundial, e transformada em campo de concentração. Mais de 20 mil prisioneiros foram levados para o lugar e submetidos a condições desumanas. Em 1947, o campo foi desativado e o primeiro prédio da prisão foi construído; um porão, com 68 celas. Cada cela abrigava de quatro a até 20 prisioneiros. Eles dormiam em uma cama conjunta de madeira. O lugar não tinha janela, apenas uma pequena entrada de ar. Uma lâmpada, com luz fraca, ficava acesa 24 horas por dia.

A população da prisão era composta, principalmente, por cidadãos que queriam deixar a Alemanha Oriental ou que discordavam, de alguma forma, do regime comunista. Supostos nazistas, políticos simpatizantes de partidos democráticos e desertores do Exército também eram levados para o local. “Ali, as pessoas viviam todo tipo de tortura psicológica e, às vezes, física também. Por meio de longos interrogatórios e ameaças, elas eram forçadas a assinar confissões de crimes que não tinham cometido”, relembra o guia.

Em 1951, o segundo prédio foi construído, com 106 celas e 120 salas de interrogatório. Os detidos eram obrigados a dormir de modo que os guardas pudessem observar seus rostos. Quem desobedecesse, era acordado por uma sirene e ordenado a retomar a posição. No porão do prédio, salas com isolamento acústico e sem iluminação abrigavam, temporariamente, prisioneiros descontrolados ou que estivessem fazendo muito barulho.

De 1951 a 1989, mais de 11 mil pessoas passaram pela prisão. Algumas permaneciam por semanas, meses ou anos. Outras, morreram nas celas, sonhando com a liberdade. Apenas em dezembro de 1989, um mês depois da queda do Muro de Berlim, o último prisioneiro foi libertado. No ano seguinte, a prisão fechou as portas. Era o fim de quatro décadas de repressão e tortura, cujas marcas ainda estão vivas na memória de quem viveu aquela época.

Edição: Davi Oliveira

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