Mais de 700 resgatados no Mediterrâneo não têm porto para desembarcar
Mais de 700 migrantes a bordo de barcos de organizações não governamentais (ONG) aguardam há oito dias por desembarque urgente em um porto do Mediterrâneo, depois de terem sido resgatados no mar, disseram hoje (2) as entidades que os salvaram.
Um total de "460 pessoas, entre elas mulheres, crianças, bebés e homens, continuam presos nos barcos, alguns precisando de cuidados médicos urgentes, oito dias depois de terem sido resgatados no Mediterrâneo central, denunciaram hoje a ONG SOS Mediterranée e o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
A ONG afirmou que a equipe a bordo do barco Ocean Viking, sob sua responsabilidade, não consegue dar resposta ao grande número de casos que precisam de assistência médica, que incluem estresse, desidratação, infecções, feridas mal tratadas e doenças crônicas. Duas mulheres grávidas de nove meses tiveram de ser retiradas.
"Nunca tínhamos registrado um número tão grande de casos médicos graves a bordo do Ocean Viking. Os sobreviventes foram encontrados no meio do mar em situações inimagináveis, numa tentativa desesperada de se salvar em fuga da Líbia", disse um dirigente da SOS Mediterranée, Xavier Lauth.
O Ocean Viking, da SOS Mediterranée, resgatou 466 mulheres, crianças e homens em dez operações de 25 a 27 de agosto.
Entre os sobreviventes havia mais de 20 mulheres adultas, entre elas algumas grávidas, e mais de 80 menores, 75% dos quais não acompanhados.
Em 29 de agosto, duas grávidas de nove meses foram retiradas do barco, numa operação de urgência, e levadas pela guarda costeira italiana, assim como quatro familiares - duas irmãs e os dois filhos, um deles uma menina de três semanas.
Também o barco Geo Barens, da ONG Médicos Sem Fronteiras, espera há mais de uma semana para atracar e desembarcar os 267 migrantes que tem a bordo e que foram resgatados do mar no fim de semana passado.
"Entre os sobreviventes que aguardam desesperadamente para desembarcar está Omar, de 10 anos, que viajou sozinho desde os Camarões. Passou seis meses na Líbia, em condições subumanas, e dois dias no mar antes de ser resgatado. Por ele e todos os outros, não podemos esperar mais", escreveu a ONG em suas redes sociais.
A organização Médicos Sem Fronteiras denunciou a falta de reação dos países próximos, afirmando que "até agora, foram enviados quatro pedidos a um porto de Malta e três à Itália, sem qualquer resposta".
Segundo as autoridades italianas, na noite passada chegaram à ilha de Lampedusa, a mais próxima da costa africana, 68 pessoas em dois barcos diferentes, depois de, na quinta-feira, terem chegado 330.
No centro de identificação da ilha há 887 migrantes, sendo que a capacidade do serviço é para 350, informaram as autoridades locais, que desenvolvem operações de recolocação.
Este ano, já chegaram à costa italiana 58.451 migrantes. No mesmo período de 2021 foram 39.478, de acordo com dados do governo da Itália atualizados hoje.
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