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Internacional

Ação mostra aumento de migrantes asiáticos e africanos na América

Operação Turquesa, da Interpol, reuniu agentes de todo o continente
Daniel Trotta - Repórter da Reuters*
Publicado em 11/12/2023 - 13:26
Londres
FILE PHOTO: A man passes an Interpol logo during the handing over ceremony of the new premises for Interpol's Global Complex for Innovation, a research and development facility, in Singapore September 30, 2014. REUTERS/Edgar Su//File Photo
© REUTERS/Edgar Su//File Photo/Proibida reprodução
Reuters

Uma recente operação de repressão ao contrabando de migrantes e ao tráfico de pessoas na América encontrou migrantes de 69 países, um indicador do crescimento acentuado de asiáticos e africanos que estão cruzando oceanos e continentes para chegar aos Estados Unidos (EUA).

Coordenada pela organização policial internacional Interpol, a quinta Operação Turquesa anual reuniu agentes de todo o continente, de 27 de novembro a 1º de dezembro, em uma tentativa de desmantelar sindicatos internacionais do crime.

Entre as vitórias, as autoridades alegaram ter detido um cidadão português que comprava bebês recém-nascidos de mulheres brasileiras pobres para vender na Europa, prendido três suspeitos ligados à famosa gangue venezuelana Tren de Aragua e congelado US$ 286 mil em bens pertencentes a uma rede que recrutava brasileiros para um centro de fraude cibernética no Camboja.

Na operação, a Interpol reuniu agentes da lei de 31 países, incluindo Cuba pela primeira vez, além da França e da Espanha. Juntos, eles fizeram 257 prisões, resgataram 163 supostas vítimas de tráfico humano e detectaram quase 12 mil imigrantes sem documentos de 69 países, informou a Interpol.

Dezenas de vítimas de tráfico eram crianças, incluindo 12 em Honduras.

Com foco em migrantes com destino aos EUA e ao Canadá, a operação deste ano mostrou "aumento acentuado" de migrantes da Ásia e da África, particularmente da China, que foi o terceiro país de origem mais popular, atrás da Venezuela e do Equador, disse a Interpol.

"O número de nacionalidades detectadas durante a Operação Turquesa 5 demonstra como esse importante corredor migratório, antes considerado rota reservada às Américas, tornou-se alvo de grupos do crime organizado de todo o mundo", disse o secretário-geral da Interpol, Jurgen Stock, em comunicado.

Os migrantes que cooperaram com a polícia forneceram informações sobre táticas de recrutamento, condições de viagem e o custo do contrabando, que variava de US$ 2.700 a US$ 20 mil por pessoa, dependendo da viagem. Os contrabandistas geralmente têm vínculos com o comércio de drogas ilícitas, rendendo fortunas incalculáveis a criminosos já estão cheios de dinheiro.

O número de migrantes encontrados na fronteira dos EUA com o México, provenientes de países fora da América Latina e do Caribe, aumentou 43% entre os anos fiscais de 2022 e 2023, de acordo com dados dos Estados Unidos.

Em outubro, primeiro mês do ano fiscal de 2024, havia quase 12 mil migrantes na fronteira provenientes desses países "extracontinentais", quase a mesma quantidade que chegou em todo o ano de 2021.

Brasil 

A Operação Turquesa também ofereceu uma visão do papel de destaque do Brasil no comércio transcontinental, com migrantes cruzando o país. A maioria tinha como destino os Estados Unidos, outros a Europa e alguns se estabeleceram no próprio Brasil, de acordo com a Polícia Federal (PF), que enviou agentes a nove pontos do território brasileiro, que fazem fronteira com mais dez países.

O Brasil detectou padrões como o de migrantes de Cuba e do Haiti que viajam para a Guiana, depois atravessam ilegalmente para o Brasil e fazem uma viagem terrestre de dois dias até Manaus. Lá, eles iniciam uma viagem de barco de mais de 1.000 quilômetros, com duração de uma semana, subindo o Rio Amazonas até o posto avançado na selva de Tabatinga, na fronteira com a Colômbia e o Peru.

Tabatinga também atrai migrantes de outros lugares da bacia do Caribe que têm como destino a Europa, segundo a polícia. Em uma rota, cidadãos da República Dominicana obtêm passaportes falsos na Colômbia, atravessam para o Brasil em Tabatinga e fazem a longa viagem até São Paulo, a mais de 3.200 km de distância, sua última parada antes da Europa.

"Temos essa política de braços abertos e temos alguns vizinhos complicados em relação à produção de drogas e tudo o mais", disse o comissário Cristiano Eloi, chefe da Divisão de Repressão ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes da PF.

"E temos esses mais de 16 mil quilômetros (de fronteira) com todos esses países latino-americanos. Isso torna absolutamente impossível cuidar de cada centímetro de nossas fronteiras."

Outro agente da PF, que falou sob condição de anonimato por não ser o porta-voz oficial, afirmou que muitos suspeitos de crimes se misturam aos migrantes, que muitas vezes relutam em cooperar. Além disso, a lei brasileira impede que a polícia prenda pessoas simplesmente por violações de imigração.

Com essas limitações, o Brasil prendeu apenas três suspeitos na operação, mas libertou quatro vítimas do tráfico: os dois bebês que seriam vendidos e mais duas mulheres que foram detidas no aeroporto em São Paulo antes de ir para a Europa, disse Eloi.

"Não estamos indo atrás dos migrantes", disse Eloi à Reuters. "Estamos indo atrás do contrabandista, dos traficantes que estão enviando pessoas para serem exploradas."

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