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Internacional

Negociações lentas para trégua em Gaza abalam esperança em Rafah

Rodada de conversas no Cairo terminou sem resultado
Nidal al-Mughrabi – Repórter da Reuters
Publicado em 14/02/2024 - 10:45
Cairo
Fumaça no centro de Gaza vista de Israel
 14/2/2024   REUTERS/Dylan Martinez
© REUTERS/Dylan Martinez
Reuters

Os palestinos amontoados em seu último refúgio na Faixa de Gaza expressaram medo crescente, nesta quarta-feira (14), de que Israel lance em breve um ataque planejado à cidade de Rafah, depois que as negociações, no Cairo, sobre uma trégua terminaram de forma inconclusiva.

As conversas na capital egípcia, envolvendo Estados Unidos, Israel, Egito e Catar, terminaram na terça-feira (13) sem qualquer sinal de avanço. Nenhuma data foi anunciada para a próxima reunião.

A falta de acordo representou um novo golpe para os mais de um milhão de palestinos amontoados em Rafah, cidade próxima à fronteira com o Egito, onde muitos estão vivendo em acampamentos e abrigos improvisados após fugirem dos bombardeios israelenses em outras partes de Gaza.

Os militares israelenses afirmam que querem expulsar os militantes islâmicos dos esconderijos em Rafah e libertar os reféns que estão sendo mantidos lá após o ataque do Hamas a Israel no dia 7 de outubro, mas não deram detalhes de um plano proposto para retirar os civis.

"As notícias foram decepcionantes, esperávamos que houvesse um acordo no Cairo. Agora estamos contando os dias para que Israel envie tanques. Esperamos que eles não o façam, mas quem pode impedi-los?", afirmou à Reuters Said Jaber, um empresário de Gaza que está abrigado em Rafah com sua família, por meio de um aplicativo de bate-papo.

"Perdemos nossas casas, nossos empregos. Isso não é suficiente? Já estamos fartos dessa guerra e precisaremos de décadas para reconstruir Gaza e recuperar nossas vidas. Quando o mundo vai parar com o massacre de nosso povo por Israel?"

Israel afirma que toma medidas para minimizar as baixas civis e acusa os combatentes do Hamas de se esconderem entre os civis, inclusive em hospitais e abrigos – algo que o grupo militante nega.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, que deve manter conversações com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na quarta-feira, disse que uma ofensiva do Exército israelense em Rafah "comprometeria completamente a situação humanitária".

"Porque as pessoas em Rafah não podem simplesmente desaparecer no ar. Elas precisam de lugares seguros e corredores seguros para evitar serem pegas ainda mais no fogo cruzado. Elas precisam de mais ajuda humanitária. E precisam de um cessar-fogo", disse ela em um comunicado divulgado em Berlim.

Bombardeio

As forças israelenses bombardearam áreas do leste de Rafah durante a noite, segundo testemunhas palestinas.

Aviões e tanques israelenses bombardearam várias áreas de Khan Younis, no sul de Gaza, e houve combates pesados em algumas partes da cidade, segundo moradores.

O Ministério da Saúde do enclave governado pelo Hamas disse que as forças israelenses continuavam a isolar os dois principais hospitais de Khan Younis e que os tiros de franco-atiradores no Hospital Nasser haviam matado e ferido muitas pessoas nos últimos dias.

Falando em um vídeo de dentro do Hospital Nasser, um médico disse que a instalação estava sob cerco das forças israelenses há 22 dias e que escavadeiras protegidas por tanques haviam derrubado o portão norte do hospital.

"Um estado de pânico prevaleceu nesta manhã, quando acordamos com os sons de fortes explosões e bombardeios perto da área norte do hospital. É terrível, a comida está em falta", disse o Dr. Haitham Ahmed no vídeo, que a Reuters não pôde verificar imediatamente.

Moradores de Rafah disseram ontem que dezenas de pessoas deslocadas começaram a deixar Rafah depois dos bombardeios e ataques aéreos israelenses nos últimos dias.

Rafah é vizinha do Egito, mas o Cairo deixou claro que não permitirá o êxodo de refugiados pela fronteira.

Tragédia em números

Pelo menos 28.576 palestinos foram mortos e 68.291 ficaram feridos nos ataques israelenses em Gaza desde 7 de outubro, informou o Ministério da Saúde de Gaza nesta quarta-feira.

Nas últimas 24 horas, 103 palestinos foram mortos e 145 ficaram feridos, acrescentou o comunicado do ministério.

Acredita-se que muitas outras pessoas estejam soterradas sob os escombros de prédios destruídos em toda a Faixa de Gaza, que é densamente povoada e está, na maioria, em ruínas. O suprimento de alimentos, água e outros itens essenciais estão se esgotando e as doenças estão se espalhando.

Pelo menos 1,2 mil israelenses foram mortos e cerca de 250 foram feitos reféns no ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro, segundo os registros israelenses.

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