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Internacional

Servidores europeus criticam apatia da UE diante da situação palestina

Carta chamada Não em Nosso Nome foi entregue a dirigentes
Carla Quirino – Repórter da RTP
Publicado em 24/05/2024 - 09:49
Lisboa
Fumaça no centro de Gaza vista de Israel
 14/2/2024   REUTERS/Dylan Martinez
© REUTERS/Dylan Martinez
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Uma carta assinada por 211 funcionários de instituições da União Europeia (UE) aponta para uma "apatia contínua" do bloco diante da situação palestina. No documento, divulgado com exclusividade pelo jornal britânico The Guardian, os assinantes apelam para um cessar-fogo e alertam para as contradições entre os valores defendidos pela UE e o que consideram o "silêncio" dos líderes.

Os organizadores esperavam, inicialmente, alcançar pelo menos 100 assinaturas, mas esse número duplicou, à medida que a carta circulou dentro das agências da União Europeia.

O texto intitulado Não em Nosso Nome e entregue nesta sexta-feira (24) é dirigido aos três principais responsáveis da UE: Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia; Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu; e Charles Michel, que lidera o Conselho Europeu.

"Somos um grupo de funcionários públicos e outros funcionários da UE que estão preocupados com o quão pouco (ou nada) a UE está fazendo para resolver a terrível crise humanitária em Gaza", sublinha o texto.

A carta começa por condenar de forma veemente os ataques de 7 de outubro, perpetrado pelo movimento radical palestino Hamas. O documento expressa ainda uma “preocupação crescente” com a resposta da UE à crise humanitária em Gaza, argumentando que é “contrária aos seus valores fundamentais e ao objetivo de promover a paz”.

Os signatários advertem para a “apatia diante da situação dos palestinos”. Esta atitude pode facilitar "indiretamente – através da inação – não só a propagação de narrativas polarizadoras, como também contribuir para a normalização da ascensão de uma ordem mundial em que é o simples uso da força, em oposição a um sistema baseado em regras, que determina a segurança do Estado, a integridade territorial e a independência política".

“Foi precisamente para evitar uma ordem mundial tão sombria que os nossos avós, testemunhas dos horrores da II Guerra Mundial, criaram a Europa”, exalta a carta.

“Ficar de braços cruzados diante de tamanha erosão do Estado de Direito Internacional significaria fracassar o projeto europeu tal como é previsto por eles. Isso não pode acontecer em nosso nome”, insiste.

“Não podemos acreditar que os nossos líderes, que são tão eloquentes sobre os Direitos Humanos e que descrevem a Europa como o farol dos Direitos Humanos, de repente ficaram tão silenciosos sobre a crise que se desenrola em Gaza”, dizem os signatários.

“É como se, de repente, nos pedissem para fechar os olhos aos nossos valores e aos valores pelos quais supostamente trabalhávamos. E para nós, isso não é aceitável”, afirmam.

“A incapacidade da UE para responder a estes apelos cada vez mais desesperados está em clara contradição com os valores que a UE defende e que nós defendemos”, insistem os 211 funcionários de agências comunitárias que assinaram a carta.

O documento publicado pelo Guardian (sem as assinaturas) apresenta uma lista de pedidos: insta a UE a apelar oficialmente a um cessar-fogo imediato e permanente; apelam pela libertação de todos os reféns; e, por último, requer a garantia de que os Estados-membros “suspendam as exportações diretas e indiretas de armas para Israel”.

Zeno Benetti, um dos autores do texto, garante que a iniciativa não pretende ser um movimento pró-Palestina, nem tomar posição partidária: “Em vez disso, assinámos porque pensamos que o que está acontecendo coloca em risco princípios do direito internacional que consideramos importantes e que os tomamos como garantidos”.

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