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Internacional

El Salvador: dois mil acusados de pertencer a gangues chegam à prisão

Presídio de Tecoluca tem capacidade para 40 mil presos
Carla Quirino – Repórter da RTP
Publicado em 12/06/2024 - 15:41
Lisboa
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Presos acusados de pertencer a gangues, detidos durante o estado de emergência de El Salvador, estão gradualmente enchendo a superlotada prisão de Tecoluca. Nesta terça-feira (11) foram transferidos mais dois mil homens que estavam encarcerados em diferentes presídios do país. Foram necessárias fortes medidas de segurança.

As imagens divulgadas pelo Governo de El Salvador mostram todo o processo de transferência de dois mil presos, alegadamente, associados a gangues que operam no país.

As autoridades, fortemente armadas, escolheram a madrugada para escoltar mais dois mil prisioneiros para a prisão de alta segurança de Tecoluca, entretanto já superlotada de milhares de outros elementos de gangues, acusados ou condenados.

Esta operação foi anunciada pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele que se tornou popular devido à política opressiva. Bukele fez da luta contra a criminalidade das gangues uma das suas bandeiras para as eleições presidenciais do país em fevereiro. Acabou vencendo o pleito com 85% dos votos e desta forma deverá manter-se no poder por mais cinco anos.

Conhecida como uma super-prisão, o Centro de Confinamento de Terrorismo, Cecot, 74 quilômetros a sudeste da capital San Salvador, ocupa 166 hectares, em Tecoluca. Foi um dos principais projetos do presidente Bukele, concluído em janeiro do ano passado.

"Transferimos mais de 2 mil membros de gangues das prisões de Izalco [oeste], Ciudad Barrios [leste] e San Vicente [sudeste], para o Cecot", escreveu Bukele na rede social X.

A construção do Cecot tem o propósito de aprisionar os membros mais violentos e chefes das principais gangues do país, MS-13 e Barrio 18.

Presídio

Nestas instalações de alta segurança onde não entra sol, só existe luz artificial 24 horas por dia, os presos são obrigados a comer com as mãos, porque as facas e garfos poderiam transformar-se em armas. Entre os alimentos estão arroz, farelo, ovos cozidos ou macarrão.

Os presos só podem sair das celas 30 minutos por dia. Podem exercitar-se, usando apenas o próprio peso corporal. Não existe qualquer objeto de treino devido ao medo de se espancarem uns aos outros ou aos guardas com halteres ou barras.

Dentro do Cecot existem oito módulos com um número indeterminado de presos em cada um, porém as autoridades não revelam quantas pessoas se encontram lá no momento. No projeto, a capacidade de toda a prisão é de 40 mil presos.

Os condenados dormem em cubículos colados uns aos outros, em forma de beliches de quatro andares, sem almofadas ou colchão.

Alguns grupos de Direitos Humanos criticam a instalação prisional chamando-a de “buraco negro dos Direitos Humanos”. Enquanto diversos funcionários da ONU descreveram o Cecot como um “poço de aço”, construído para "despachar os prisioneiros sem aplicar a pena de morte".

Um relatório do grupo de direitos humanos Cristosal concluiu que 174 reclusos foram torturados e mortos de forma violenta desde que o Presidente Nayib Bukele lançou a dura campanha contra as gangues.

O aumento da criminalidade em El Salvador remonta à guerra civil na década de 1980 que empurrou muita população de latino-americanos a refugiarem-se nos EUA. Terá sido nas rua de Los Angeles que se formaram os gangues MS-13 e Barrio 18.

Quando a guerra terminou, os grupos de El Salvador regressaram ao país e com eles trouxeram as suas afiliações a gangues, rivalidades e violência.

As autoridades estimam que o Barrio 18 tenha cerca de 65 mil membros globais, enquanto o MS-13 tem entre 50 mil e 70 mil.

No rol dos crimes estão os homicídios, tráfico sexual e de drogas, extorsão, lavagem de dinheiro e sequestro.

O número de assassinatos em El Salvador – considerado por muitos como a capital mundial do homícidio – caiu 56,8 por cento em 2022 após a repressão levada a cabo pelas medidas do Governo.