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Internacional

Mais de uma em cada quatro crianças vive em pobreza alimentar grave

Cerca de 180 milhões correm o risco de sofrer consequências graves
Lusa*
Publicado em 06/06/2024 - 11:00
Nova York
CRIANÇAS FOME GAZA - Palestinian children wait to receive food cooked by a charity kitchen amid shortages of food supplies, as the ongoing conflict between Israel and the Palestinian Islamist group Hamas continues, in Rafah, in the southern Gaza Strip, March 5, 2024. REUTERS/Mohammed Salem
© REUTERS/Mohammed Salem
Lusa

Mais de uma em cada quatro crianças com menos de 5 anos vive em situação de "pobreza alimentar grave", alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Isso significa que mais de 180 milhões de crianças correm o risco de sofrer consequências graves para a saúde se não tiverem alimentação nutritiva e diversificada, de acordo com relatório do Unicef divulgado nessa quarta-feira à noite.

Um número chocante de crianças "sobrevive com dieta muito pobre, consumindo produtos de dois ou menos grupos alimentícios", disse Harriet Torlesse, uma das autoras do relatório, à agência de notícias France-Presse.

De acordo com as recomendações do Unicef, as crianças pequenas devem consumir diariamente alimentos de pelo menos cinco dos oito grupos alimentares (leite materno, cereais, frutas e legumes ricos em vitamina A, carne ou peixe, ovos, laticínios, leguminosas, outras frutas e legumes).

No entanto, 440 milhões de crianças com menos de 5 anos (ou 66%), que vivem em cerca de uma centena de países de baixo e médio rendimentos, não têm acesso a esses grupos todos os dias, vivendo em situação de “pobreza alimentar”.

E destes, cerca de 181 milhões (27%) consomem, no máximo, alimentos de dois grupos.

Essas “crianças que comem apenas dois grupos de alimentos por dia, por exemplo arroz e um pouco de leite, têm 50% mais probabilidades de sofrer de formas graves de má nutrição”, como debilitação progressiva que pode levar à morte, alertou a diretora do Unicef, Catherine Russell, em comunicado.

Essas crianças sobrevivem e crescem, mas “não prosperam. Têm menos sucesso na escola e, quando adultas, mais dificuldade em ganhar a vida, o que mantém um ciclo de pobreza de geração em geração", explicou Harriet.

“O cérebro, o coração e o sistema imunitário, que são importantes para o desenvolvimento e a proteção contra doenças, dependem das vitaminas, dos minerais e das proteínas”, acrescentou a especialista em nutrição.

A grave pobreza alimentar concentra-se em 20 países, com situações particularmente preocupantes na Somália (63% das crianças com menos de 5 anos afetadas), na República da Guiné (54%), na Guiné-Bissau (53%) e no Afeganistão (49%).

Embora não existam dados disponíveis para os países ricos, as crianças de agregados familiares pobres enfrentam também essas carências nutricionais.

O relatório chama a atenção para a situação na Faixa de Gaza, onde a ofensiva israelense provocada pelo ataque sem precedentes do movimento islâmico palestiniano Hamas em 7 de outubro, levou ao “colapso dos sistemas alimentícios e de saúde”.

Em nível global, constatando apenas “progressos lentos” nos últimos 10 anos na luta contra a pobreza alimentar, o relatório defendeu a introdução de mecanismos de proteção social e de ajuda humanitária para os mais vulneráveis.

Defendeu também uma transformação do sistema agroalimentar, responsabilizando as bebidas com elevado teor de açúcar e os pratos industriais ultraprocessados, “comercializados de forma agressiva junto das famílias, que se tornaram a norma para a alimentação das crianças”.

Esses produtos são frequentemente “baratos, mas também muito calóricos, salgados e gordos. Suprimem a fome, mas não fornecem as vitaminas e os minerais de que as crianças necessitam", destacou Harriet Torlesse.

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