Ciclone em ilha francesa pode ter deixado centenas de mortos
Equipes de salvamento tentam encontrar sobreviventes na ilha francesa de Mayotte, depois de o território, ao largo da costa da África Oriental, ter sido atingido por um ciclone no fim de semana.
O ciclone Chido, que provocou ventos de mais de 225 quilômetros por hora (km/h), arrasou povoações inteiras, afetando sobretudo os mais pobres que viviam em bairros de lata.
O número de mortos poderá atingir “perto de mil ou mais do que isso”, disse o representante do governo na ilha do Oceano Índico, François-Xavier Bieuville.
Ele admitiu que é “extremamente difícil” obter um número exato agora, depois de as ilhas do Oceano Índico terem sido atingidas pelo intenso ciclone tropical no sábado (14), causando destruição generalizada.
No entanto, o balanço final será “muito difícil”, uma vez que a tradição muçulmana, bem viva em Mayotte, exige que os mortos sejam enterrados “no prazo de 24 horas”, explicou nesse domingo François-Xavier Bieuville.
Segundo dados do Ministério do Interior, a população ilegal da ilha ultrapassa os 100 mil habitantes - de uma população oficial de 320 mil - tornando improvável a realização de contagem completa dos mortos. Segundo a AFP, o ministro francês do Interior, Bruno Retailleau,
vai hoje à ilha com 160 soldados e bombeiros para reforçar os 110 que já se encontram no local.
As autoridades francesas informaram que estão sendo realizadas operações marítimas e aéreas para transportar material e equipamento de socorro, depois de o ciclone Chido ter atingido as ilhas com ventos de mais de 200 km/h.
“Os primeiros aviões de intervenção chegaram a Mayotte para prestar ajuda de emergência face aos danos causados pelo ciclone. O governo está totalmente mobilizado para apoiar os habitantes de Mayotte neste momento”, afirmou Nicolas Daragon, ministro francês da Segurança Interna, na rede social X.
O total de vítimas e a extensão dos danos físicos nas ilhas, que se situam entre Madagascar e Moçambique, ainda não é clara.
As autoridades também estabeleceram uma ponte aérea entre Mayotte e a Ilha da Reunião, outro território ultramarino francês do outro lado de Madagascar, disse Sebastien Lecornu, o ministro francês da Defesa.
“Para o alojamento dos serviços de emergência, três estruturas com capacidade para 150 pessoas estão no local, estando outra a caminho”, acrescentou Lecornu no X, ao fim desse domingo, acrescentando que estão sendo fornecidos alimentos e geradores.
O ciclone Chido foi o mais forte a atingir Mayotte em mais de 90 anos, segundo o serviço meteorológico francês, Meteo France. Ontem, os moradores compararam o cenário a um apocalipse nuclear.
Mayotte, no sudeste do Oceano Índico, ao largo da costa da África, é a ilha mais pobre da França e o território mais pobre da União Europeia. Os destroços de centenas de casas improvisadas estão espalhados pelas encostas, coqueiros caíram sobre os telhados dos edifícios e os corredores dos hospitais estavam inundados, de acordo com imagens dos meios de comunicação locais.
O Chido atravessou o sudeste do Oceano Índico na sexta-feira e no sábado, atingindo também as ilhas vizinhas de Comores e Madagascar. As autoridades das Comores afirmaram que 11 pescadores que saíram para o mar no início desta semana estavam desaparecidos.
Sistema de saúde
A situação do sistema de saúde no arquipélago está "muito degradada, com um hospital parcialmente destruído e centros médicos igualmente inoperantes", disse nesta segunda-feira a ministra da Saúde da França.
"O hospital sofreu danos significativos no abastecimento de água e também degradação, especialmente nas áreas de cirurgia, reanimação, urgência, maternidade, partes essenciais do funcionamento da unidade", afirmou Geneviève Darrieussecq.
Em declarações ao canal França 2, a ministra da Saúde e Solidariedade francesa mostrou-se preocupada com a situação, mas garantiu que o equipamento continua a funcionar.
"Apesar de tudo [o hospital] continua a funcionar ainda que de forma precária", disse a governante que também descreveu a existência de "centros médicos igualmente inoperantes".
Situada a cerca de 8 mil quilómetros de Paris, Mayotte é um destino importante para os imigrantes sem documentos da vizinha Comores. É significativamente mais pobre do que o resto da França e há décadas que se debate com a violência de gangues e a agitação social.
Mais de três quartos da população de Mayotte vivem abaixo do limiar de pobreza francês. No início deste ano, as tensões foram alimentadas pela escassez de água.
A França colonizou Mayotte em 1843 e anexou as quatro grandes ilhas do arquipélago das Comores em 1904. O resto do arquipélago votou a favor da independência, em referendo realizado em 1974, mas Mayotte decidiu manter-se sob controle francês.
Moçambique
Pelo menos três pessoas morreram ontem no norte de Moçambique devido à passagem do ciclone Chido, com ventos fortes e chuvas torrenciais que destruíram vários edifícios, segundo balanço provisório.
O ciclone atingiu as províncias costeiras de Nampula e Cabo Delgado na madrugada desse domingo, danificando edifícios e cortando a eletricidade em algumas áreas.
Duas pessoas morreram na cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, e uma criança de três anos foi arrastada pelo ciclone em Nampula, de acordo com a primeira contagem provisória publicada pelo Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (Inam).
Mais de 2.800 pessoas deslocadas pelo ciclone tiveram de ser abrigadas em Pemba.
O instituto tinha informado, no início do dia, que o ciclone era suscetível de provocar trovoadas e ventos violentos com rajadas até 260 km/h em algumas zonas das províncias.
Mais de 250 milímetros de precipitação eram esperados em 24 horas.
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