Ditadura deve servir para que o Brasil trabalhe pela paz, diz cardeal do Rio
Em alusão ao dia de hoje (31), que marca o golpe de 1964 e a ditadura militar no Brasil, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, salientou que “toda questão da violência, que está no coração do homem, seja lá de que lado ele estiver da sua ideia de poder, sempre é muito ruim”.
Homenageado pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), dom Orani acrescentou que “nós fomos criados para a paz, para o entendimento. E quando nós vemos as guerras, brigas, revoluções, nós não nos entendemos. É muito ruim para todos. Acho que cabe a nós aprendermos com as lições do passado - todas elas - e tentarmos trabalhar para que a paz aconteça”.
Referindo-se à ocupação feita ontem (30), do Complexo da Maré, pela força de segurança do estado, o cardeal avaliou que esse é um primeiro passo para que as pessoas possam começar a pensar em dar outros passos de desenvolvimento, de escolaridade, de saúde, de trabalho. “Enfim, todo um trabalho muito grande que se tem pela frente, porque, evidentemente, a ocupação faz com que o território volte ao Estado, mas, sem dúvida, tem toda uma questão, que as pessoas que lá estão necessitam ser promovidas, escutadas”.
Nesse sentido, sugeria ao governo fluminense que escute o povo que mora na Maré para saber quais são suas necessidades, seus problemas e desejos. “Para poder ir ao encontro da vontade deles e das suas necessidades”. O cardeal comentou que já está mantendo conversas a respeito com as pessoas responsáveis do governo fluminense. “Inclusive, já pedi às paróquias de lá para fazer esse trabalho, para poder reunir as pessoas e ouvi-las. O povo dizer o que ele precisa, o que ele quer, o que é melhor para ele”. Ele ressaltou a importância desse diálogo porque, “às vezes, nós pensamos que as pessoas querem uma coisa e, na verdade, elas querem outras coisas”.
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No próximo dia 6 de abril, em sua primeira viagem ao exterior, já como cardeal do Brasil, o arcebispo do Rio de Janeiro vai entregar os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) – a Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora - à cidade de Cracóvia, na Polônia, que sediará o próximo encontro da juventude com o papa Francisco.
Nos três dias que antecedem o Domingo de Ramos (10, 11 e 12 de abril), o arcebispo participará do encontro do Pontifício Conselho para os Leigos (PCL), órgão na Santa Sé responsável pela JMJ, no qual dom Orani Tempesta apresentará um relatório do evento ocorrido no Rio de Janeiro, em julho do ano passado. Haverá representantes dos jovens católicos do mundo inteiro, que falarão de sua experiência na capital fluminense. O cardeal não quis, entretanto, abordar como está a dívida remanescente da JMJ no Brasil. As estimativas apontam que, depois da doação de R$ 11,7 milhões do papa Francisco, a dívida está abaixo de R$ 30 milhões.
No Domingo de Ramos, dom Orani receberá a Igreja Santa Maria Mãe da Providência, situada no bairro de Monteverde, em Roma, que terá o seu brasão e a sua foto. É tradição que todo aquele que é nomeado cardeal passe a ser titular de uma igreja, na capital da Itália.
Segundo dom Orani, o fato de ter um cardeal a mais no Brasil significa um olhar do papa para o país, e o incentiva a respeitar cada vez mais as diferenças com outras culturas e religiões e a trabalhar para que tudo ocorra dentro de um ambiente de harmonia e convivência. Destacou que as lições de acolhimento e fraternidade, observadas durante a JMJ no Rio, devem ser atualizadas pensando no futuro.
Fonte: Em alusão ao dia de hoje (31), que marca o golpe de 1964, que instaurou a ditadura militar no Brasil, o cardeal arcebispo do Rio