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Política

Defesa de Cavendish silencia após Cabral alegar ter devolvido joia em 2012

Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 06/12/2017 - 20:15
Rio de Janeiro
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral - Antônio Cruz/Arquivo Agência Brasil

O ex-governador afirma que anel comprado por Fernando Cavendish era presente para a então primeira-dama Adriana  Ancelmo  e  foi  devolvido;  empresário  diz  que  era  "negócio"   Antônio Cruz/Arquivo/Agência Brasil

O escritório Moraes Pitombo, responsável pela defesa do empresário Fernando Cavendish, informou nesta quarta-feira (6) que não vai se pronunciar sobre o depoimento prestado ontem (5) na Justiça Federal pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. Entre as alegações feitas ao juiz Marcelo Bretas, Cabral disse que um anel de 220 mil euros comprado pelo proprietário da construtura Delta para Adriana Ancelmo, mulher do então governador, foi devolvido a Cavendish em 2012.

Procurado pela Agência Brasil, o escritório disse que seu cliente não vai se manifestar e não negou, nem confirmou a devolução da joia.

O anel, cujo atual paradeiro é desconhecido, foi comprado por Cavendish em uma viagem à França em 2009, onde Adriana comemorava o aniversário. O assunto foi abordado em depoimentos na Justiça Federal no âmbito da Operação Crossover, que investiga um esquema de pagamento de propinas envolvendo obras do Maracanã, do PAC das Favelas e do Arco Metropolitano. Cavendish foi interrogado na segunda-feira. O empresário e o ex-governador  estão entre os 20 nomes denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF).

Ambos disseram que, na época da viagem à França, mantinham relação de amizade e frequentavam suas respectivas casas. Na versão de Cabral, a joia foi um "presente de puxa-saco". O ex-governador afirmou que sequer perguntou o valor do anel e que este foi devolvido em 2012, ocasião em que seu governo teria declarado a Delta uma empresa inidônea e ele rompeu relações com Cavendish.

"Ele assumiu aqui que foi devolvido o presente?", perguntou Cabral ao juiz Marcelo Bretas. Diante da negativa, o ex-governador prosseguiu. "Você acha que eu vou entrar numa loja com um sujeito e pedir pra ele comprar um presente para minha mulher e dizer que isso foi propina do Maracanã um ano depois? Chega a ser risível."

Por sua vez, Cavendish disse que comprou o anel a pedido de Cabral. "Em um certo momento. ele me chamou para dar uma volta e tratar de um assunto. Entramos em uma joalheria, explicou que estava dando um presente para Adriana e disse que gostaria que eu pagasse", relatou. Cavendish ressaltou ter deixado claro que não estava dando nenhum presente e que o pagamento deveria ser acertado no futuro.

Segundo o proprietário da Delta, tratou-se de um negócio e, em decorrência desse episódio, Sérgio Cabral teria intercedido para que a Delta entrasse no consórcio das obras no Maracanã, liderado pela Odebrecht. Posteriormente, o valor da joia também teria sido abatido pela construtora no cálculo de uma propina de 5% cobrada sobre o faturamento com a reforma do estádio.

Manipulação de editais

Nos depoimentos de segunda-feira, executivos vinculados à Odebrecht, à Carioca Engenharia e à Delta descreveram como ocorria a manipulação nos editais para garantir a divisão das obras.

"Para exemplificar, havia exigência de que as [empresas] concorrentes tivessem participado de construção ou de reformas de estádios acima de 30 mil torcedores e que tivessem colocado 20 mil cadeiras. Até aquela data, poucas empresas no Brasil havia construído estádio. As últimas obras eram a reforma do Maracanã e a construção do Engenhão [ambas para os Jogos Pan-Americanos de 2007], de que a Odebrecht participou, e tinha, no Pará, o Mangueirão", disse Marcos Vidigal, ex-diretor da Odebrecht Infraestrutura, a respeito do edital do Maracanã.

No caso do PAC das Favelas, que envolvia três editais, os depoentes informaram que foram formados três consórcios divididos por nove empresas. Cada um deles ficaria com uma das obras. Para dar aparência de competitividade, o consórcio previsto para vencer um dos editais deveria fazer propostas para serem derrotadas nos outros dois. Os executivos afirmaram ainda que Cabral pedia propina no valor de 5% sobre o faturamento dos empreendimentos e indicava o ex-secretário de Governo Wilson Carlos como responsável pela interlocução com as empresas.

Por sua vez, Cabral negou ter participado de esquemas para direcionamento de licitações e afirmou não ter recebido qualquer tipo de propina relacionada à reforma do estádio do Maracanã e às obras do PAC das Favelas e do Arco Metropolitano. Ele reconheceu apenas ter recebido das empreiteiras recursos para campanhas eleitorais, doados tanto de forma declarada como por meio de caixa 2. Cabral também assumiu ter usado parte dos recursos para fins pessoais, mas disse que nunca pediu propina.

A Operação Crossover é um dos desdobramentos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Cabral já foi condenado em primeira instância em três processos, e as penas somam 72 anos de prisão. Atualmente, o ex-governador está na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro.

O texto foi atualizado às 20h40 para correção no último parágrafo: o nome da Operação é Crossover, e não Cavendish, como tinha sido publicado