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Especial Semana de Arte Moderna de 22: antropofagia crítica africana

Confira a última parte do especial da Rádio Nacional

Publicado em 16/02/2022 - 20:52 Por Eliane Gonçalves - Repórter da Rádio Nacional - São Paulo

Especial 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922

PARTE 4: Antropofagia crítica africana

“De um modo geral, quando tradicionalmente se pensa a constituição do modernismo no Brasil, se pensa muito a partir do impacto que as vanguardas artísticas europeias tiveram na produção brasileira”. Essa é a Vima Lia de Rossi Martin, professora de estudos comparados de literaturas de língua portuguesa na USP. Ela pesquisa a literatura africana.

Vima explica que “tem outro aspecto, outra dimensão, desta produção modernista que, de um modo geral é menos estudada e menos conhecida, que tem a ver com o impacto da produção modernista brasileira nas culturas, nas artes, nas literaturas africanas de língua portuguesa”.

Algumas obras dos modernistas brasileiros atravessaram o Atlântico e influenciaram escritores e intelectuais de Moçambique, Angola e Cabo Verde.

Um movimento que começa a partir de 1940 e chega ao auge na década de 1960. Esse é um período bastante conflituoso no continente. Que antecede as guerras de independência.

A professora Vima Lia de Rossi Martin conta que no momento de afirmação nacionalista desses países,  em que as lutas armadas estavam se constituindo e muitos intelectuais estavam travando uma batalha no campo da cultura, literatura, tentando instituir uma literatura nacionalista, o Brasil foi uma fonte de inspiração enorme para aqueles intelectuais.

Escritores como Manuel Bandeira, Mário de Andrade e, depois, os regionalistas como José Lins do Rego e Jorge Amado, autores que falam dos problemas brasileiros numa linguagem brasileiro influenciaram também a busca pela autonomia literária desses países que construíam a autonomia política.

O poema, “Anti-evasão”, é de Ovídio Martins. Foi escrito em 1974, às vésperas da Independência de Cabo Verde.

“Pedirei
Suplicarei
Chorarei
Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chão
e prenderei nas mãos convulsas
ervas e pedras de sangue
Não vou para Pasárgada

Gritarei
Berrarei
Matarei
Não vou para Pasárgada”.

A referência é o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manual Bandeira, publicado em 1930.

Mas, a poesia caboverdiana inverte o sentido. No contexto de guerra, não dá para sonhar com Pasárgada.

Para Vima, a paródia à Bandeira é um exemplo de como a influência não é uma cópia e que dá para traçar um paralelo com a antropofagia proposta pelos modernistas é válida.

A professora conta que “a apropriação que os africanos fazem da literatura brasileira não é uma apropriação pacífica, é um gesto criativo, tem a ver sim com a deglutição, com a antropofagia. Então é uma literatura angolana, moçambicana, cabo-verdiana, são-tomense que se dá em diálogo com a literatura brasileira, mas um diálogo crítico. Não tem nada a ver com assimilação passiva”.  

* Sonorização de José Maria Pardal, a declamação é de José Eluzane, jornalista e locutor da Rádio Comunitária de Guro, em Moçambique. a reportagem contou com a colaboração de Elaine Cruz, da Agência Brasil.

Especial 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922

PARTE 1: Refazendo o cenário: São Paulo e a Semana de 22

PARTE 2: Qual o tamanho da revolução?

PARTE 3: A antropofagia nativa e o canibalismo dos brancos 

Edição: Leila Santos / Guilherme Strozi

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