Especial Semana de Arte Moderna de 22: qual tamanho da revolução?

Especial 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922
PARTE 2: Qual o tamanho da revolução?
Entre polêmicas, críticas e contradições, a Semana de Arte Moderna abriu caminhos e alimentou dissidências.
Mas para Luiz Armando Bagolin, do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, a Semana de Arte Moderna não é o ato inaugural do modernismo brasileiro:
“O modernismo no Brasil não começa com a Semana. Essa ideia de que ela vem, apresenta obras e que marca uma ruptura em relação ao que estava sendo feito é uma ideia falsa”, afirma o professor.
De fato, oito anos antes da Semana de 22, em 1914, Anita Malfatti fez sua primeira exposição em São Paulo e apresentou uma pintura fora dos padrões clássicos. Villa Lobos já era um nome consagrado e a mais famosa das artistas modernistas, Tarsila do Amaral, não participou do evento.
Para Heloísa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles, em São Paulo, outra característica é que a Semana de 22 ficou muito centrada na capital paulista e deixou escapar movimentos que aconteciam pelo país afora.
“Por exemplo, no Rio Grande do Sul, as artes modernas aparecem primeiro na parte de artes gráficas nas revistas. Também temos artistas como Vicente do Rego Monteiro, em Pernambuco, que vai estudar em Paris nos anos 1920 e que está super conectado com o que está acontecendo na Europa. No Rio de Janeiro, a gente tem o surgimento do samba nesse momento. Entender o quanto o samba desafiava convenções é um jeito também de olhar e pensar o modernismo”, afirma Heloísa.
Mas foi a Semana de 22 que abriu espaço para o Manifesto Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, e a defesa de uma estética primitivista e o Manifesto Antropófago que propõe receber as influências da cultura estrangeira sem deixar de criar uma arte nacional. Por outro lado, também deu origem ao Verde Amarelismo, movimento de caráter nacionalista que propunha uma arte patriótica, livre de influências externas.
Para Heloísa é a participação de figuras emblemáticas do modernismo brasileiro que garante a importância da semana de 22, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Villa Lobos.
E ela mostra também, o lado conservador do movimento.
“A gente tem ali a participação também do Menochi Del Picchia, do Plinio Salgado... São figuras que depois se tornam controversas politicamente, ligadas ao movimento do Verde-Amarelismo e do Integralismo.
Para Luiz Armando Bagolin, do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, a busca por essa arte nacional teve serventia política na ditadura de Getúlio Vargas, o que também é entendido justamente como o fim do modernismo.
“O modernismo brasileiro, no singular, é uma invenção do Estado Novo que serviu convenientemente aos interesses políticos de então. Para o Mario de Andrade e para outros, quando o modernismo é cooptado e se transforma no estabilishment, na arte estatal, na arte defendida pelo Estado e por um Estado muito conservador, o modernismo morre”, afirma.
Para Bagolin, foi só a partir da segunda metade do século XX que a Semana de Arte Moderna de 22 vai ser revisitada e só então começa a se construir a ideia de que foi o festival foi o ato inaugural do modernismo brasileiro.
*Com sonorização de Messias Melo e com a colaboração de Elaine Cruz, da Agência Brasil.
Especial 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922
PARTE 1: Refazendo o cenário: São Paulo e a Semana de 22
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Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil"
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18/06/2019
REUTERS/Adriano Machado"
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