Paraíso da Costa do Descobrimento, Caraíva sofre a pressão do turismo
Caraíva, paraíso tropical e parte da chamada “Costa do Descobrimento”, no Sul da Bahia, tem vivido um drama. O medo de ver comunidades tradicionais que vivem nessa região serem dizimadas pelo novo coronavírus, tem feito a Associação de Nativos de Caraíva – A ANAC - lutar para que a reabertura total do turismo na região seja adiada.
Desde agosto, essa associação tem protocolado sem sucesso, diversos pedidos nesse sentido na prefeitura de Porto Seguro, sede executiva a que Caraíva é vinculada. A associação é contrária à retomada do turismo na região e destacou que a comunidade apresenta peculiaridades que colocam tanto sua população local, quanto as comunidades tradicionais, em situação de maior risco de contágio.
O vilarejo, reconhecido como o mais antigo do país pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, abriga o Parque Nacional do Monte Pascoal, onde está a aldeia Pataxó. Também vivem em Caraíva quilombolas e pescadores.
No último dia 11 de setembro, foi publicada no Diário Oficial local a autorização para a retomada de atividades turísticas no local, desde que cumpridas algumas medidas como limitação de público e horário de funcionamento.
Desde então, o movimento na região tem aumentado. O presidente da Associação de Nativos de Caraíva, Lucas Borges, se preocupa com a falta de fiscalização dos protocolos de segurança e a pouca estrutura de saúde no Vilarejo. Ele contou que precisa recorrer a municípios vizinhos para conseguir atendimento.
Sonora: "Dificilmente você vê um turista usando máscara, aqui a gente não tem guarda municipal para controlar isso, a polícia não fica o dia todo, ela fica uma parte do dia só. A gente tem um posto de saúde aqui, mas é um postinho, postinho mesmo. A UPA está em Trancoso, a gente não tem médico 24 horas".
Liza Andrade, líder do Grupo de Pesquisa e Extensão “Periférico, trabalhos emergentes” e pesquisadora programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, estuda essa região há mais de 30 anos.
Ela lembrou a convenção nº 169 da OIT- Organização Internacional do Trabalho, que rege sobre Povos indígenas e Tribais, e determina que os governos locais devem consultar os povos tradicionais antes de tomar decisões que afetarão o território em que essa população vive. No entanto, Liza afirma que a decisão de reabertura do turismo em Caraíva não teve consenso da comunidade.
Sonora: "Foi uma reabertura sem consulta. Foi determinado de forma turística, sem pensar na qualidade de vida dessas populações. É claro que nós temos a questão da economia. Eles precisam também movimentar a economia local, mas tudo teria que ser feito com muito cuidado, e não abrir de uma forma sem consulta, sem fazer um plano emergencial".
Nessa terça-feira, 15 de setembro, a prefeitura de Porto Seguro publicou novo decreto e prorrogou até o dia 30 deste mês a suspensão de algumas atividades econômicas. Em nota, a prefeitura de Porto Seguro afirma que tem tomado decisões de reabertura, baseada em diálogo com a comunidade, hoteleiros e demais comerciantes da região.