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Na porta da Kiss "o cheiro era de morte", conta repórter

"Era impossível não se envolver em uma situação como aquela", diz
Wilson Dias - Repórter Fotográfico da Agência Brasil
Publicado em 24/01/2014 - 12:54
Brasília
Brasília - O repórter fotográfico, Wilson Dias, relata o clima que encontrou em Santa Maria
© Valter Campanato/Agência Brasil
Brasília - O repórter fotográfico, Wilson Dias, relata o clima que encontrou em Santa Maria. Valter Campanato/Agência Brasil

Brasília - O repórter fotográfico, Wilson Dias, relata o clima que encontrou em Santa MariaValter Campanato/Agência Brasil

Na manhã do domingo, estava no hotel, em Porto Alegre, onde a equipe da EBC faria a cobertura do Fórum Social Temático. Estava no quarto, com a televisão ligada, quando foi noticiado o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS). Naquele momento, a informação era que aproximadamente 30 pessoas tinham morrido.

No restaurante do hotel, o noticiário da televisão, a cada transmissão, anunciava um número maior de mortos. Lembro que avisei a equipe: “Olha, o telefone vai tocar e vamos para lá”. Dito e feito, a redação em Brasília entrou em contato, e em menos de 30 minutos estávamos na estrada. Pelo rádio, ouvíamos a atualização do noticiário.

Já em Santa Maria, fomos direto para o Centro Desportivo Municipal, onde os corpos eram levados para reconhecimento e entrega às famílias. Alguns parentes sequer moravam na cidade. Lembro que tinha gente de tudo que é lugar porque Santa Maria é uma cidade universitária. Várias vítimas eram de Porto Alegre.

O clima estava pesadíssimo. Choro em todos os lugares, todo mundo perplexo com o tamanho da tragédia. A história que mais me marcou foi o anúncio das vítimas já reconhecidas. A solidariedade dos voluntários também era muito forte. Eles 'ralaram' muito para atender as pessoas, inclusive jornalistas.

 

Santa Maria (RS) - Incêndio na Boate Kiss durante show na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. Parentes e amigos de vítimas em velório no Centro Desportivo Municipal (Wilson Dias/Agência Brasil/Arquivo)

Parentes e amigos de vítimas em velório no centro desportivo, em Santa Maria (RS) Wilson Dias/Agência Brasil/Arquivo



Desde a nossa chegada, trabalhávamos sem parar. Era impossível não se envolver em uma situação como a que tínhamos encontrado, mesmo com anos de bagagem profissional. Em 52 anos de vida, nunca fui a tanto enterros como os que presenciei em Santa Maria. É muito difícil ter que fazer o seu trabalho vendo o sofrimento dos parentes.

Na porta da Kiss, onde estive para fotografar o que restou da boate, a sensação, o cheiro era de morte. Um ambiente muito pesado. Essa foi uma cobertura que marcou a minha vida, da qual não gosto de lembrar.