Criadores culturais pedem a ministro apoio para projetos no Rio
A Biblioteca do Grupo Comunitário Chcobim, na comunidade do Parque João Pessoa, no bairro de Saracuruna, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é o único ponto de cultura do local. Por falta de opção, os jovens frequentam o local. Além de literatura há planos para oferecer teatro, dança e cinema. A informação foi passada pela coordenadora da biblioteca, Maria do Carmo, conhecida como Maria Chocolate, durante uma roda de conversa, hoje (5) com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, na Sociedade Musical Lira de Ouro, uma das referências culturais do município.
“Quando cheguei há 52 anos a Saracuruna tínhamos dois cinemas, hoje não tem mais. Não tem uma praça. Tem muita criança que fica na rua. Mas a primeira coisa que quero lá é que a gente seja respeitado como gente”, contou a coordenadora, no encontro, que reuniu produtores e artistas da Baixada Fluminense na conversa com o ministro.
Na avaliação de Maria Chocolate, o país está esquecendo de brigar pelo direito da criança ao livro e à leitura. “Só através da leitura qualquer criança ou qualquer adolescente vai poder se apoderar daquilo que é dele”, apontou.
O ministro admitiu que é preciso incentivar a leitura e a edição de livros no país e defendeu a criação de uma política ousada de livre leitura no Brasil. “É importante disponibilizar bibliotecas ativas com bom acervo e não aquela biblioteca passiva que fica esperando alguém chegar lá e pedir um livro. É biblioteca usina cultural que mobiliza, que promove, que estimula, que dá curso, que cria oficina”, analisou.
Para Juca Ferreira, vai ser preciso fazer uma forte campanha para incentivar o consumo de livros no país. “Eu tenho é uma ambição enorme e algumas pessoas dizem que o ministro pirou, mas não acho piração não: fazer do Livre Leitura, uma campanha tão poderosa no Brasil, semelhante ao Fome Zero ou a extinguir com a paralisia infantil”, indicou. Segundo ele, a média de leitura no Brasil é 1,7 livro per capita por ano. “É baixíssimo. É abaixo dos países pobres da América Latina”, considerou.
A falta de apoio dos três níveis de governo aos projetos em todas as áreas para a criação de espaços culturais também foi uma reclamação constante. Fábio Mateus, da produtora EncontrArte, destacou que é elevada a demanda por consumo de projetos culturais na Baixada Fluminense, mas eles acabam não ocorrendo por falta de espaços. O destino da população, segundo ele, acaba sendo, quando pode, ir para outros centros culturais como o Rio de Janeiro. “Todo mundo já tem a baixada como referência. Não tem que disseminar que são cidades-dormitório, cidades de chacina, acabou. Vamos para frente e tem que crescer com qualidade de vida e de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]”, disse.
Os participantes defenderam ainda que a construção de cidadania e o fortalecimento da diversidade não podem ser feitos apenas em pontos de cultura, mas precisam de estratégicas complementares. Juca Ferreira informou que o ministério está fazendo a revisão de pontos do Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (ProCultura) para que possa surgir uma boa lei de financiamento das demandas culturais da população. O ministro esclareceu que o projeto de lei já foi aprovado na Câmara dos Deputados e está circulando nas comissões do Senado para ser votado em plenário.
“Espero que até o fim do ano a gente substitua a Lei Rouanet pelo Pró-Cultura. No total, 80% do dinheiro do ministério é lei Rouanet, é renúncia fiscal, é dinheiro público sendo definido o uso por empresas privadas. Não é possível continuar com isso. É preciso que este dinheiro venha para o fundo e a gente possa de fato atender, seriamente, às demandas que não são só da Baixada [Fluminense]”, disse, acrescentando que a região precisa de teatros, centros culturais e de uma política de fomento articulando os três níveis de governo.
Ele destacou ainda a importância dos cineclubes. “Com os meios tecnológicos que temos hoje há possibilidade de mobilidade de ir onde a comunidade está e ter cinema na rua e em espaços fechados”, contou aproveitando para fazer um “convite fraterno” para os governos municipais participarem da construção da política cultural do Brasil junto com artistas e criadores.