Caminhão itinerante orienta sobre infecção hospitalar de alta mortalidade
Apesar de matar anualmente 250 mil pessoas no país, a sepse, tipo mais agressivo de infecção hospitalar, ainda é uma doença desconhecida pela população e de grande parte dos médicos e profissionais da saúde. Em campanha pelo combate à doença, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) montou um caminhão itinerante que vem percorrendo o país para alertar sobre a infecção.
O caminhão já percorreu Porto Alegre e Curitiba, passou a semana na capital paulista, e chegou hoje (11) ao Hospital das Clínicas, onde especialistas deram palestras à equipe médica da instituição. Em seguida, o veículo partiu para São José do Rio Preto, Vitória, Salvador e Costa do Sauipi. A ação de conscientização marca o Dia Mundial da Sepse, em 13 de setembro. O país registra 670 mil casos da infecção por ano, de acordo com dados do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas)..
De acordo com Luciano Azevedo, médico intensivista integrante do Instituto Latino-Americano de Sepse e da AMIB, a sepse é causada por uma bactéria que provoca a infecção quando entra na corrente sanguínea. A resposta imunológica do organismo, na tentativa de combater a bactéria, porém, acaba afetando órgãos saudáveis, como rins e pulmões, por exemplo.
Wesley Schiavo, biomédico da Biomérieux, empresa especializada no diagnóstico da sepse, que apoia a campanha, as superbactérias comuns à doença são multirresistentes a antibióticos. Segundo ele, o diagnostico é difícil, pois pode ser confundido com uma gripe comum. “As instituições não estão preparadas para identificar a sepse, os hospitais não têm biomarcadores específicos”, disse.
Em muitos casos, o paciente é mandado de volta para casa, podendo até morrer ou se recuperar temporariamente, mas morre anos depois pelas complicações da doença. “Se o médico não tem uma ação rápida, os riscos de o paciente morrer só vão aumentando. Cada hora que o médico perde sem prescrever um antibiótico corretamente, as chances daquele paciente morrer aumentam de 7,5% para 10%. Por isso, a gente tem essas taxas de mortalidade altíssimas”, explica. Segundo ele, 57% dos pacientes internados em UTI e que são infectados pela sepse morrem.
Os sinais da sepse são letargia, febre, desorientação mental, mal estar, dificuldade respiratória e cansaço. O surgimento de uma superbactéria pode estar ligado ao uso inadequado de antibióticos, explica Wesley. “Quando o paciente interrompe o tratamento, aquelas bactérias que sobraram no organismo são as mais fortes, que se multiplicam, se espalham e pode ser transmitidas.
No Brasil, durante muitos anos, houve o uso indiscriminado de antibióticos. Tinha uma época em que você ia à farmácia e comprava o antibiótico que você queria, sem receita médica. Acontece que a bactéria aprende a se defender dos antibióticos, ela começa a ficar inteligente, encontra mecanismos para que o antibiótico não tenha mais ação sobre ela”, esclareceu.
A melhor maneira de prevenir a sepse e outros tipos de infecção hospitalar é com medidas de higiene básicas, muitas vezes esquecidas. “Infelizmente, o Brasil tem uma das maiores taxa de infecção hospitalar no mundo, mas é muito fácil combater isso. O problema é que os profissionais de saúde, de uma maneira geral, não aderem a essas medidas de prevenções das infecções. Os médicos estão entre os profissionais que menos lavam as mãos, por uma questão cultural, que a gente precisa mudar”, disse Luciano.
Medidas para prevenir a infecção hospitalar:
* Higienização das mãos: médicos e profissionais da saúde devem fazer a assepsia correta das mãos, com álcool em gel ou sabonete antibactericida
* Uso racional de antibióticos: usar esse medicamento apenas conforme a orientação médica, para evitar o fortalecimento das bactérias
* Limpeza adequada do hospital, de modo a matar as bactérias que circulam no ambiente
* Uso adequado das precauções de contato: luvas descartáveis e aventais, que não devem ser usados fora do hospital para evitar contaminação
* Rastreio e medidas de isolamento dos casos: no caso do hospital já estar contaminado, identificar a fonte da infecção (mãos, equipamentos, instrumentação cirúrgica, etc)
* Vigilância Epidemiológica para identificar rapidamente a presença das bactérias
* Educação continuada dos profissionais de saúde, que lembre das medidas básicas como a limpeza das mãos