Publicado em 29/01/2017 - 10:05 Por Maíra Heinen - Brasília
Paulo Sérgio Martins, 43 anos, casado, pai de 5 filhos. Trabalhador resgatado de fazenda em Mato Grosso, em situação de escravidão.
Paulo Martins não é personagem dos livros de história do Brasil, que relatam a exploração dos negros nos períodos de colônia e império. Ele é parte de um grupo resgatado no século 21. Mais um caso de exploração contemporânea num dos últimos países a abolir a escravidão.
Paulo relata a jornada dura e a situação dos alojamentos, quando foi encontrado pelos fiscais do trabalho. “Barraco de lona, dentro da mata, o alimento que a gente comia não era um alimento adequado, bicho caía à noite nas vasilhas, aí inseto sentava na carne, tinha região que a gente trabalhava que era escravo mesmo.”
Assim como Paulo, hoje, grande parte dos trabalhadores em situação semelhante à escravidão no Brasil é resgatada na área rural. Em 2016, dos 667 trabalhadores identificados, 463 trabalhavam em agricultura ou pecuária.
Na região Amazônica, os principais casos desse tipo de exploração também são rurais. Mas nos últimos anos, a escravidão em atividades tipicamente urbanas tem se tornado uma tendência.
Leonardo Sakamoto, presidente da organização Repórter Brasil, que atua no combate a essa prática, revela a prostituição como área comum de exploração na Amazônia. “É muito comum na região Norte do Brasil encontrar trabalho escravo urbano em bordeis, meninas sendo exploradas sexualmente e muitas delas em situação análoga a de escravo.”
Apesar das diferenças de localidade, as características utilizadas para identificar a escravidão, tanto no meio rural quanto nas cidades, são as mesmas, como ressalta o procurador do Ministério Público do Trabalho, Thiago Muniz Cavalcante, coordenador nacional de Erradicação do Trabalho Escravo.
A Amazônia lidera a triste estatística de escravidão no país, nos últimos anos. De 1995 a 2015, segundo dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), os dez municípios com maior número de casos de trabalho escravo do Brasil estão na região, sendo oito deles no Pará.
Nas fiscalizações de 2016, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins ficaram entre os dez estados com mais trabalhadores resgatados.
Paulo Martins, deixa um recado para outros trabalhadores. “Se a gente dormir de mau jeito, comer de qualquer jeito, ficar morando embaixo de barraco de lona, tomando chuva, então isso aí não faz bem para nossa saúde, nós temos que preservar a nossa saúde.”