Após a tomada de posição dos Estados Unidos, o impasse sobre o reconhecimento das eleições na Venezuela entra em uma nova fase. A avaliação é de especialistas em Relações Internacionais, ouvidos pela reportagem.
Nessa quinta-feira (1), os Estados Unidos reconheceram a vitória do candidato opositor, Edmundo González, contra o presidente Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas de 28 de julho.
Williams Gonçalves, professor titular de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, considera que essa decisão é pautada por interesses relacionados ao petróleo da Venezuela. E contrapõe a conduta do Brasil que, mesmo fazendo parte do Brics, grupo das cinco maiores economias emergentes do mundo, não seguiu Rússia e China, que reconheceram a vitória de Maduro.
O professor William Gonçalves também avalia que as tensões entre o grupo da opositora María Corina Machado e o de Maduro devem prosseguir. E que é importante ficar de olho na movimentação das forças armadas.
"Se aparecesse lá uma liderança das Forças Armadas apoiando a Corina, dizendo que foi fraude, aí a situação seria muito diferente. Mas conhecendo-se como se conhece essa senhora Corina, isso tende a se esvaziar. O saldo disso, podemos dizer, é que os Estados Unidos vão se sentir legitimados para continuar o seu bloqueio econômico".
Na opinião de Gonçalves, a crise na Venezuela é consequência da dificuldade do país de se desenvolver para além da exportação do petróleo.
"Quem tem muito petróleo e vive da exportação de petróleo não consegue fazer a sua economia crescer se diversificando. Não consegue industrializar a economia, não consegue criar uma agricultura que garanta a autossubsistência."
Já o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Roberto Menezes, lembra que os Estados Unidos tomaram sua posição após consultarem muitos países. Para ele, o Brasil deve agora observar quais serão as novas sanções que os norte-americanos devem apresentar à Venezuela.
" (...) Quando o Brasil demonstra para os países da região que ele conseguiu contato no governo venezuelano para não invadir a embaixada da Argentina, significa que o Brasil está mostrando que a interlocução ainda continua funcionando. Mas depois do reconhecimento dos Estados Unidos, é claro que o Brasil também vai ter que atualizar a sua posição frente à Venezuela".
Ainda segundo Roberto Menezes, a diplomacia do Brasil tem trabalhado para evitar uma escalada interna da violência, apesar das posições do governo Maduro e da opositora María Corina Machado.
"Ela divulgou ontem um artigo no Wall Street Journal, ela não vai mais aparecer em público... Ela está dizendo que a Venezuela não é um país seguro para ninguém, nem mesmo para o opositor. E isso chama mais a atenção da comunidade internacional. Então o presidente Maduro continua esticando a corda e ele, o governo dele, e ao esticar a corda, também está demonstrando que a disposição de negociar dele é muito pequena".
De acordo com a organização não governamental Foro Penal, mais de 700 pessoas já foram presas em manifestações desde o anúncio oficial da vitória eleitoral de Nicolas Maduro.