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Direitos Humanos

Sem-teto que ocupavam prédio no Flamengo são cadastrados no Rio

Da Agência Brasil
Publicado em 22/04/2015 - 14:24
Rio de Janeiro
Policiais militares, agentes de trânsito, fecharam o trânsito na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, para a reintegração de posse do Edifício Hilton Santos, ocupado por famílias sem teto (Tânia Regô/Agência Brasil)
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Os 350 sem-teto que ocuparam o Edifício Hilton Santos, no Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, no início do mês e foram retirados pela Polícia Militar por ordem judicial, estão sendo cadastradas hoje (22) pela Defensoria Pública do estado para traçar um diagnóstico e fazer a inclusão das famílias em programas governamentais.

Segundo a defensoria, o cadastramento deve ser concluído até o fim do dia, mas ainda não há uma solução imediata para resolver o problema de moradia dos sem-teto. Após a desocupação do prédio, que pertence ao Clube de Regatas do Flamengo e está arrendado ao grupo EBX, do empresário Eike Batista, no último dia 14, as 350 pessoas retiradas do imóvel vivem hoje na Cinelândia, no centro da cidade.

Polícia Militar faz reintegração de posse do Edifício Hilton Santos, no Flamengo, ocupado por famílias sem teto (Tânia Regô/Agência Brasil)

Polícia Militar cumpriu mandado de reintegração de posse do Edifício Hilton Santos na semana passadaTânia Rêgo/Agência Brasil

De acordo com um dos participantes da ocupação, José Eduardo Marques da Silva, de 44 anos, a prefeitura chegou a oferecer um abrigo, mas eles recusaram e foram orientados a ficar na rua, onde estão até hoje.

"Nós não queremos ficar em abrigo porque eles iam separar as pessoas. Nós não somos indigentes, temos título de eleitor e votamos. A culpa não é nossa. Nós queremos colocar os nossos filhos na escola, queremos ter o nosso emprego, a nossa casa, queremos ter dignidade. Não queremos ficar jogados em lugar nenhum. Não conseguimos arrumar emprego porque moramos na rua e não temos endereço fixo. Estamos lutando para ter tudo isso", explicou.

Ainda segundo José Eduardo, as famílias vivem uma situação difícil, dormindo ao relento, sem saber o que pode acontecer. Ele conta também que as pessoas que passam pelo local ficam com medo de serem assaltadas pelo grupo e diz que eles não têm uma perspectiva de vida. O cadastramento é uma ação coordenada entre a Defensoria Pública, a Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.

"Não sabemos como vai ser o nosso amanhã. Quem vive na rua não sonha, não progride, não tem êxito em nada. Eles só prometem e não cumprem. Estamos vivendo em uma situação de estado de calamidade pública, estamos disputando o chão com ratos e baratas, além do risco de pegar uma infecção e adquirir uma doença. As pessoas passam e dão uma quentinha para darmos aos nossos filhos, e nós não queremos isso. Às vezes, a pessoa que mora em comunidade já é discriminada, imagina quem mora na rua", diz José Eduardo.

O defensor público geral do Estado, André Luiz Machado de Castro,disse que a defensoria vai buscar uma solução para as famílias que ocuparam o edifício. "A defensoria está organizando e vai pleitear por moradia, inclusive judicialmente. Essa é uma solução que pode não ser imediata, mas estaremos lutando por isso. Vamos fazer a inclusão dessas pessoas em programas que sejam pertinentes; caso já estejam incluídas, vamos verificar porque ainda não conseguiram uma habitação adequada em caráter permanente. Esse é o nosso desafio, que começa hoje a partir do cadastro de todas essas pessoas."